Qual o contexto?

O uso crescente da tecnologia de reprodução assistida (TRA) tem gerado preocupações sobre possíveis impactos cardiovasculares a longo prazo, devido a potenciais desequilíbrios hormonais e estados pró-trombóticos. No entanto, ainda não há estudos robustos que esclareçam definitivamente essa questão. Por isso, esta metanálise avaliou se a TRA está associada a um risco aumentado de doenças cardiovasculares em longo prazo, demonstrando que não houve associação estatisticamente significativa entre a exposição à TRA e o desenvolvimento de eventos cardiovasculares adversos.

Como o estudo foi feito?

Foi realizada uma revisão sistemática e metanálise no MEDLINE (via PubMed) até janeiro de 2024. Dos 7.298 artigos inicialmente identificados, 10 estudos foram incluídos, abrangendo 500.664 mulheres submetidas à TRA e 36.395.240 controles. A análise não encontrou aumento significativo no risco de eventos cardiovasculares adversos maiores (P = 0,63), doença arterial coronariana (P = 0,26) ou acidente vascular cerebral (P = 0,17) em pacientes submetidas à TRA. Além disso, a TRA foi associada a um menor risco de insuficiência cardíaca (ES 0,75; IC 95% 0,60–0,94; I² 0,00%; P = 0,01).

Qual o impacto na prática?

Diferente de algumas recomendações atuais, esta metanálise sugere que a TRA não está associada a aumento de risco de eventos cardiovasculares a longo prazo em mulheres.
Embora essas descobertas falem a favor da segurança cardiovascular dos tratamentos de fertilidade, mais estudos randomizados serão necessários para adequada comprovação desta segurança. Por ora, em pacientes submetidas à TRA, especialmente naquelas com idade mais avançada, deve-se controlar os fatores de risco cardiovascular, como obesidade e dislipidemia, além de realizar vigilância intensiva em relação a sintomas isquêmicos ou hipertensão arterial, visando tratamento precoce destas condições.