Qual o Contexto?

O estudo Assessment, Serial Evaluation and Subsequent Sequelae of AKI (ASSESS-AKI) é uma coorte prospectiva e multicêntrica, com grupos pareados, projetada para avaliar os desfechos de médio e longo prazo associados à Injúria Renal Aguda (IRA). Um dos braços do estudo foca exclusivamente no impacto da IRA sobre o declínio cognitivo. Os resultados indicaram que a IRA pode estar associada a um risco aumentado de prejuízo cognitivo a longo prazo, possivelmente mediado por mecanismos inflamatórios envolvendo a via do TNF.

Como o Estudo Foi Feito?

Pacientes com e sem IRA foram pareados considerando idade, TFGe pré-internação, diabetes, comorbidades cardiovasculares e internação em UTI. Entre os pacientes com IRA, dois grupos foram definidos com base nos níveis de creatinina nas primeiras 72h: recuperação (redução ≥0,3 mg/dL ou ≥25% do pico) e sem recuperação (não atingiram esses critérios). A função cognitiva foi avaliada em 3, 12 e 36 meses após a hospitalização, usando o Mini-Mental Modificado (3MS). Declínio cognitivo foi definido como pontuação <81 ou redução ≥5 pontos. Os resultados mostraram que pacientes com IRA apresentaram maior declínio cognitivo aos 12 meses (p = 0,003) e 36 meses (p = 0,001) do que aqueles sem IRA, mesmo após ajustes para fatores como sexo, etnia, IMC e genótipo APOE. A falta de recuperação em 72h foi associada a um declínio cognitivo mais acentuado (p = 0,003). O aumento de TNFR1 foi identificado em 34% dos casos de declínio cognitivo (p = 0,02), enquanto outros marcadores inflamatórios não mostraram associação.

Qual o Impacto na Prática?

Apesar dos pontos fortes, como a coorte multicêntrica pareada, seguimento médio e poucas perdas, o estudo apresenta limitações, incluindo a predominância de casos KDIGO I, menor representatividade de KDIGO II/III e uma população majoritariamente idosa, dificultando a extrapolação para jovens. Pacientes que sobrevivem à internação com IRA enfrentam riscos conhecidos, como maior chance de progressão para Doença Renal Crônica (DRC), e outros ainda em investigação, como o aumento do risco de declínio cognitivo evidenciado neste estudo. Isso ressalta a importância de um seguimento médico rigoroso para controle de comorbidades e fatores de risco. Estudos futuros devem explorar o estado cognitivo pré-hospitalização para determinar se a IRA é um fator causal de declínio cognitivo ou apenas um marcador de vulnerabilidade em pacientes já predispostos.