Ventilação Oscilatória de Alta Frequência Precoce em Pacientes com Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo
18 de junho de 2024
7 minutos de leitura
A estratégia de ventilação mecânica oscilatória de alta frequência em síndrome do desconforto respiratório moderado a grave reduz a mortalidade hospitalar?
Uma complicação frequente em pacientes críticos é a Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo (ARDS), que tem alta mortalidade. O suporte ventilatório na ARDS é essencial. Entretanto, pode causar e perpetuar lesões pulmonares. Uma abordagem de ventilação mecânica em pacientes com ARDS é a Ventilação Oscilatória de Alta Frequência (HFOV). Nesse método, o ventilador entrega baixos volumes correntes em uma frequência muito elevada, entre 1 a 2 mL/Kg em uma frequência de 3 a 15 respirações por minuto. Estudos anteriores sugerem que a HFOV em adultos com ARDS tem melhor oxigenação e melhora sobrevida, entretanto esses estudos foram limitados por tamanho de amostra e estratégia de ventilação desatualizada para o grupo controle. Dessa forma o estudo OSCILLATE foi realizado com o objetivo de avaliar a estratégia de ventilação HFOV em comparação à ventilação convencional em pacientes com ARDS
Ensaio clínico randomizado
Multicêntrico e internacional, envolvendo 38 centros no Canadá, Arábia Saudita, Estados Unidos, Chile e Índia
Randomização na proporção 1:1 em blocos de 2 e 4, e estratificado de acordo com o centro
Considerando uma mortalidade no grupo controle de 45%, foi estimada uma amostra de 1200 pacientes para um poder estatístico de 80% de detectar uma redução relativa de 20% com um alfa de 0,05
Pacientes adultos com síndrome do desconforto respiratório e ventilação mecânica incluídos entre 2007 e 2012
Idade entre 16 e 85 anos
Sintomas respiratórios agudos, iniciados em até 2 semanas
Ventilação mecânica
Relação PaO2/FiO2 ≤ 200 e com FiO2 ≥ 50%
Presença de opacidades bilaterais à radiografia de tórax
Hipoxemia secundária à hipertensão atrial esquerda
Suspeita de hemorragia alveolar
Distúrbios neuromusculares conhecidos por prolongar a necessidade de ventilação mecânica
DPOC grave
Condição clínica pré existente com expectativa de mortalidade em 6 meses superior a 50%
Risco de hipertensão intracraniana
Duração esperada da ventilação mecânica inferior a 48h
Peso < 35 Kg ou > 1Kg/cm de altura
Pacientes que já haviam atendido aos critérios de elegibilidade por mais de 72 horas
Ventilação de alta frequência
Inicialmente foi realizada uma manobra de recrutamento aplicando uma pressão de 40 cm/H2O por 40 s na via aérea, com o objetivo de recrutar unidades pulmonares fechadas
Após o recrutamento era iniciada a HFOV, com uma pressão média de vias aéreas de 30 cm/H2O, ajustando a pressão objetivando uma PaO2 de 55 a 80 mmHg, e o ajuste da pressão de via aérea conforme a FiO2
A frequência respiratória era mantida a mais elevada o possível para manter o pH do sangue arterial acima de 7,25
A ventilação convencional poderia ser retomada se após 24h a pressão de vias aéreas fosse de menor ou igual a 24 cm/H2O por 12h. A transição para ventilação convencional era obrigatória se a pressão de via aérea fosse menor que 20 cm/H2O
Se nas próximas 48h houvesse uma necessidade de FiO2 superior a 40% e um PEEP superior a 14 cm/H2O por mais de 1h para atingir o alvo de oxigenação, a HFOV era retomada
Ventilação convencional
Inicialmente foi realizada uma manobra de recrutamento aplicando uma pressão de 40 cm/H2O por 40 s na via aérea.
Ajuste de ventilação mecânica objetivando volume corrente alvo de 6 mL/Kg, com pressão de platô ≤ 35 cm.H2O
Inicialmente a ventilação mecânica era ajustada com um nível de PEEP de 20 cm H2O e em seguida a PEEP era ajustada conforme os níveis de FiO2
Persistindo hipoxemia a despeito de aumento da PEEP ou da pressão média de via aérea, havendo suspeita clínica de hiperdistensão, era possível reduzir a PEEP ou a pressão média de via aérea abaixo dos níveis indicados para ajuste no protocolo.
Para pacientes com necessidade de FiO2 ≥90% por hipoxemia, poderiam ser instituidas terapias para hipoxemia como prona, e óxido nítrico inalatório, que não interferisse nos protocolos de ventilação
Terapias alternativas poderiam ser instituídas para pacientes com hipoxemia refratária (FiO2 <60 mm Hg por 1 hora com uma Fio2 de 1,0 e bloqueio neuromuscular), barotrauma refratário (pneumotórax persistente ou aumento do enfisema subcutâneo apesar de dois drenos torácicos), ou acidose refratária (pH de ≤7,05 apesar do bloqueio neuromuscular).
Os pacientes foram acompanhados até a alta hospitalar
Primário: mortalidade hospitalar
Secundários: mortalidade na UTI, Mortalidade em 28 dias, barotrauma, hipoxemia refratária, acidose refratária, barotrauma refratário, tempo de ventilação mecânica, tempo de hospitalização, tempo de internação em UTI
MasculinoFeminino
Ventilação de alta frequência (N= 275) x Grupo Controle (N= 273)
Média de idade: 55 ± 16 x 54 ± 16
Sexo Feminino: 39% x 44%
APACHE II médio: 29 ± 8 x 29 ± 7
Media em dias da internação hospitalar: 5,6 ± 8 x 4,9 ± 8
Média em dias da duração da ventilação mecânica: 2,5 ± 3,3 x 1,9 ± 2,3
Fatores de risco para ARDS
Sepse: 47% x 48%
Pneumonia: 56% x 60%
Aspiração gástrica: 18% x 16%
Trauma: 4% x 2%
Volume corrente médio – mL/Kg de peso predito: 7,2 ± 1,9 x 7,1 ± 1,8
Pressão de platô média: 29 ± 6 x 29 ± 7
PEEP média: 13 ± 3 x 13 ± 4
Volume/minuto médio: 11,3 ± 3,1 x 11,2 ± 3,3
Relação PaO2/FiO2 média - mmHg: 121 ± 46 x 144 ± 38
PaCO2 média - mmHg: 46 ± 13 x 47 ± 14
pH arterial médio: 7,32 ± 0,1 x 7,31 ± 0,1
O estudo foi interrompido precocemente após 500 análises por decisão unânime do comitê de monitorização de dados por potencial efeito danoso da intervenção apesar de não ter atingido critério estatístico predefinido para interrupção
Houve maior mortalidade hospitalar no grupo ventilação de alta frequência em comparação ao grupo controle, sendo a mortalidade de 47% vs. 35% no grupo alta frequência e controle, respectivamente (RR 1,33; IC 95% 1,09 a 1,64)
Houve maior mortalidade em UTI no grupo de alta frequência: 45% vs. 31% (RR 1,45; IC 95% 1,17 a 1,81)
Houve maior mortalidade em 28 dias no grupo de alta frequência: 40% vs. 29% (RR 1,41; IC 95% 1,12 a 1,79)
Houve menor incidência de hipoxemia refratária no grupo alta frequência: 7% x 14% (RR 0,5; IC 95% 0,29 a 0,84)
Não houve diferença na incidência de barotrauma entre os grupos: 18% x 13% (RR 1,37; IC 95% 0,91 a 2,0.6)
Não houve diferença na incidência de acidose refratária entre os grupos: 3% x 3% (RR0,99; IC 95/5 0,14 a 7,0
Não houve diferença no tempo de internação em UTI entre os grupos: 15 (9-25) x 14 (6-29) dias
Não houve diferença no tempo de internação hospitalar entre os grupos: 30 (16-45) x 25(15-41) dias
Não houve diferença no tempo de uso de ventilação mecânica entre os grupos: 11 (7-19) x 10 (6-18) dias
Em pacientes adultos com síndrome do desconforto respiratório moderada a grave, a ventilação mecânica oscilatória de alta frequência em comparação à ventilação com volume corrente baixo e PEEP alto não reduziu e ainda aumentou a mortalidade hospitalar
Ensaio clínico randomizado, multicêntrico, aumentando assim a validade externa dos dados
Desfecho primário e desfechos secundários clinicamente relevantes
Protocolo de fácil execução
Estudo com pouco número de pacientes
O estudo foi interrompido precocemente, o que reduz o poder estatístico do estudo
Autor do conteúdo
Guilherme Lemos
Referências
Públicação Oficial
https://app.doctodoc.com.br/conteudos/ventilacao-oscilatoria-de-alta-frequencia-precoce-em-pacientes-com-sindrome-do-desconforto-respiratorio-agudo
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