Ventilação Não Invasiva para Prevenção de Falha de Extubação em Pacientes de Alto Risco
30 de maio de 2024
4 minutos de leitura
O uso de ventilação não invasiva profilática reduz o risco de falha de extubação em pacientes de alto risco?
Falha após extubação é um evento relativamente comum, com incidência entre 4 e 24%. O uso de ventilação não invasiva (VNI) pode ser uma estratégia para evitar esta intercorrência, porém estudos prévios com uso de VNI em pacientes com desconforto respiratório após a extubação tiveram resultados decepcionantes (VNI não foi capaz de prevenir a reintubação e possivelmente piorou desfechos). Considerando que o tempo entre a retirada do suporte ventilatório e a ocorrência de fadiga respiratória parece ser um fator relevante, idealmente estratégias para prevenção de falha de extubação devem ser realizadas precocemente. Tendo isso em vista, este estudo avaliou o impacto do uso de VNI profilática (imediatamente após a extubação) na ocorrência de reintubação.
Ensaio clínico randomizado
Multicêntrico (3 UTIs na Itália)
Não cego
Foi calculado que 97 pacientes em cada grupo seriam necessários para demonstrar uma redução na incidência de reintubação de 25% para 15% com poder de 80% e erro alfa de 5%.
Pacientes com elevado risco de falha de extubação
Uso de ventilação mecânica por pelo menos 48h
Sucesso em teste de respiração espontânea (TRE)
Alto risco de falha de extubação, definido por:
Falha prévia no TRE
Insuficiência cardíaca crônica
PaCO2 acima de 45 mmHg após a extubação
Múltiplas comorbidades
Tosse fraca (Airway Care Score entre ≥8 and <12)
Estridor após extubação sem necessidade de reintubação imediata
Coma
Incapacidade de proteção de vias aéreas (Airway Care Score > 12)
Disfagia grave documentada
Lesão na medula cervical
Doenças neuromusculares
Pacientes agitados ou não cooperativos
Alterações anatômicas capazes de interferir no acoplamento da máscara
Falência de mais de 2 órgãos
Pacientes com obesidade ou apneia do sono ou com uso domiciliar de CPAP
Ventilação não invasiva após a extubação
Cuidado usual
Oxigenoterapia era ofertada com meta de SpO2 > 92%
O desmame da ventilação era protocolizado, podendo ser realizado TRE em pressão de suporte ou com tubo T
A VNI era ajustada conforme o conforto e a oxigenação do paciente, sendo realizada com BiPAP
A interface utilizada inicialmente era uma máscara full face, podendo ser posteriormente modificada para uma máscara nasal
As indicações de reintubação eram protocolizadas, sendo similares em ambos os grupos
Primário: necessidade de reintubação na UTI
Secundários: mortalidade na UTI e no hospital, tempo de permanência na UTI e no hospital
MasculinoFeminino
O estudo foi interrompido durante uma análise interina devido a superioridade da intervenção em relação ao controle (conforme planejado previamente em protocolo).
VNI (N=48) x Cuidado usual (N=49)
Idade: 56 x 53,2 anos
Sexo feminino/masculino: 17/31 x 19/30
SAPSII: 31,4 x 32,5
Duração da ventilação: 6,14 x 7,46 dias
PaO2 / FiO2: 246,9 x 269,8
Indicação de ventilação mecânica
Pneumonia: 17% x 18%
SDRA: 13% x 10%
Pós-operatório: 8% x 8%
Trauma 8% x 8%
IC descompensada: 8% x 12%
DPOC exacerbado: 36% x 31%
Neurocirurgia: 6% x 11%
Outros: 4% x 2%
Reintubação ocorreu em 8,3% do grupo VNI e 24,4% do grupo cuidado usual (diferença absoluta de risco de -16%, IC 95% -2% a -31%, P = 0,027)
A mortalidade na UTI foi de 6% no grupo VNI e 18% no grupo cuidado usual, mas não houve diferença estatística (P = 0,064)
A mortalidade hospitalar foi de 12% no grupo VNI e 18% no grupo cuidado usual.
O tempo de internação na UTI foi de 8,9 vs. 11,6 dias e o tempo no hospital foi de 23,3 vs. 25,5 dias (não significativos).
No grupo VNI 29% dos pacientes experimentaram algum efeito adverso da VNI, incluindo abrasões na pele do nariz, irritação dos olhos ou da boca e congestão nasal
O uso de VNI profilática em pacientes de alto risco reduziu a ocorrência de falha de extubação
Estudo randomizado e multicêntrico
Estudo pragmático, facilitando adesão ao protocolo
A indicação de reintubação era definida por critérios objetivos, sendo similar em ambos os grupos, reduzindo viés de performance e observação
O estudo foi interrompido precocemente, o que resultou em uma amostra menor do que o planejado. Isso reduz o poder do estudo para demonstrar diferenças nos desfechos secundários
Estudo não cego, o que pode introduzir viés (mesmo com definições objetivas para a reintubação)
Autor do conteúdo
Luis Júnior
Referências
Públicação Oficial
https://app.doctodoc.com.br/conteudos/ventilacao-nao-invasiva-para-prevencao-de-falha-de-extubacao-em-pacientes-de-alto-risco
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