Uso de Esteroides Convencionais vs. Hidrocortisona de Liberação Prolongada em Desfechos Metabólicos, Cardiovasculares e Ósseos em Pacientes com Insuficiência Adrenal
24 de outubro de 2024
7 minutos de leitura
O uso a longo prazo de hidrocortisona de liberação prolongada oferece benefício na mudança de peso corporal em comparação ao uso de corticoides convencionais em pacientes com insuficiência adrenal?
Pacientes com insuficiência adrenal (IA) apresentam mortalidade maior do que a população geral, principalmente devido à exposição a doses suprafisiológicas de glicocorticoides e ao risco de dosagem inadequada durante episódios de doença e estresse. Doses excessivas de hidrocortisona estão associadas ao aumento da pressão arterial e disfunção endotelial, além de uma maior prevalência de obesidade, dislipidemia e intolerância à glicose. A hidrocortisona de liberação prolongada ou dual é administrada uma vez ao dia, com liberação de uma dose mais elevada logo após a ingestão e de doses menores durante a tarde e à noite. Essa modalidade imita mais fielmente os padrões naturais do cortisol. Portanto, o objetivo do estudo atual foi comparar as mudanças no peso corporal após 10 anos de tratamento com glicocorticoides convencionais e hidrocortisona de liberação prolongada em pacientes com insuficiência adrenal, com desfechos secundários focando em parâmetros antropométricos, metabólicos, cardiovasculares e ósseos.
Ensaio clínico randomizado
Centro único em Palermo, Itália
Aberto
Grupo controle com tratamento convencional
Randomização realizada por computador na proporção de 1:1. A escolha de acetato de cortisona ou hidrocortisona no grupo tratamento convencional foi randomizada também por computador na proporção de 1:2
Cálculo de uma amostra de 86 participantes para alcançar um poder de 80% na detecção de uma diferença de peso de -4,0 kg entre os grupos
Pacientes com diagnóstico recente de insuficiência adrenal, incluídos entre 2013 e 2024
Idade entre 18 e 70 anos
Insuficiência adrenal confirmada com cortisol basal < 3 μg/dL ou < 18 μg/dL após estímulo com 250 μg de cortrosina
Sem tratamento prévio com glicocorticoides
Carcinoma do córtex adrenal
Hiperplasia adrenal congênita
Hidrocortisona (HC) de liberação prolongada via oral, 1 vez ao dia
Acetato de cortisona ou hidrocortisona via oral, 2 vezes ao dia
Pacientes com IA primária também iniciaram tratamento com fludrocortisona na dose de 0,05 a 0,1 mg/dia
A dose inicial de glicocorticoide foi calculada pela superfície corporal (10 a 12 mg/m²/dia) e ajustada de acordo com critérios clínicos
Todos os pacientes receberam a orientação de dobrar a dose do corticoide durante períodos de doença ou estresse, e de iniciar a terapia endovenosa ou intramuscular em casos de estresse cirúrgico maior ou doença gastrointestinal.
Primário: mudança no peso corporal após 10 anos
Secundários: mudanças em medidas antropométricas (circunferência abdominal e IMC), perfil metabólico (pressão arterial, perfil lipídico, HbA1c e glicemia de jejum), parâmetros de sensibilidade à insulina (HOMA-IR, índex Dio e índex Isi-Matsuda, TOTG), parâmetros cardiovasculares (espessamento e placas carotídeas, parâmetros ecocardiográficos, frequência de eventos coronarianos e AVC), e perfil ósseo (exames laboratoriais e densitometria óssea) após 5 e 10 anos.
MasculinoFeminino
Corticoide Convencional (N = 42) x HC liberação prolongada (N = 44)
Idade média (anos): 43,3 (± 18,9) x 37,8 (± 19,5)
Sexo feminino: 54,7% x 59%
IMC (kg/m²): 25,3 x 25,9
Insuficiência Adrenal Primária: 50% x 50%
Comorbidades autoimunes
DM1: 9,3% x 6,8%
Doença tireoidiana: 28,5% x 25%
Doença celíaca: 2,3% x 2,2%
Outras deficiências endócrinas
Deficiência de GH: 26,1% x 27,2%
Hipotireoidismo: 38% x 40,9%
Hipogonadismo: 35,7% x 34%
Tabagismo: 16,6% x 11,3%
Hipertensão arterial: 33,3% x 22,7%
Osteoporose/osteopenia: 9,5% x 13,4%
Dislipidemia: 21,4% x 20,4%
Dose média inicial de esteroides por superfície corporal (mg/m²): 14,4 x 13,1
Todos os pacientes completaram o estudo
Pacientes do grupo HC de liberação prolongada apresentaram redução significativa de peso (- 6,4 kg) e IMC (-2,1 kg/m²) após 10 anos, em comparação com o grupo tratamento convencional (p = 0,045 e 0,036, respectivamente).
Pacientes tratados com glicocorticoides convencionais apresentaram um aumento significativo do peso (+5,4 kg) e IMC (+1,9 kg/m²; ambos p = 0,049) após 10 anos em relação ao basal, enquanto o grupo HC de liberação prolongada teve uma redução discreta e não significativa do peso em relação ao seu basal (-2,7 kg, p = 0,378).
Pacientes do grupo glicocorticoides convencionais também apresentaram piora significativa de parâmetros metabólicos (aumento de pressão arterial, circunferência abdominal) e de resistência insulínica (área sob a curva TOTG, HOMA-IR e glicemia de jejum) durante o seguimento, além de uma incidência maior de síndrome coronariana aguda (p = 0,034) em comparação com o grupo HC de liberação prolongada.
O grupo glicocorticoides convencionais apresentou espessamento da íntima carotídea e aumento na frequência de placas após os 10 anos, em comparação com o grupo HC de liberação prolongada (p = 0,048 e p = 0,034, respectivamente).
O grupo glicocorticoides convencionais também apresentou piores índices de T-score na densitometria óssea nos sítios lombar e colo do fêmur após 10 anos, em comparação com o grupo HC de liberação prolongada (p = 0,036 e p = 0,026, respectivamente).
Não houve diferença entre a dose média equivalente de hidrocortisona entre os grupos após 10 anos: 24,3 ± 9,51 mg/dia no grupo convencional e 22,5 ± 5,14 mg/dia no grupo de HC de liberação prolongada.
Não houve diferença na incidência de crise adrenal entre os grupos.
Não houve diferença entre pacientes com insuficiência adrenal primária ou secundária.
O uso por 10 anos de hidrocortisona de liberação prolongada em pacientes com insuficiência adrenal diminuiu e evitou o ganho de peso em comparação ao uso de corticoides convencionais.
Ensaio clínico randomizado e com tempo longo de seguimento
Comparação de duas opções de glicocorticoide tradicional com hidrocortisona de liberação prolongada em pacientes sem uso prévio de glicocorticoide
Inclusão de pacientes com insuficiência adrenal primária e secundária
A longa duração do estudo, associada a uma alta taxa de completude, fortalece os resultados e garante uma avaliação abrangente dos efeitos a longo prazo do tratamento.
Ensaio aberto
Número pequeno de pacientes e população heterogênea
Centro único na Itália e sem descrição da etnicidade dos participantes, limitando a generalização dos resultados para outras populações
Diferença de idade entre os grupos, com o grupo tratamento convencional, em média, 5,5 anos mais velho, além de maior incidência de hipertensão e tabagismo (embora essas diferenças não sejam estatisticamente significativas)
O uso da densitometria óssea como único parâmetro de avaliação da saúde óssea é uma limitação, pois a osteoporose induzida por glicocorticoides exige métodos de avaliação mais abrangentes, incluindo marcadores bioquímicos de remodelação óssea e avaliações qualitativas
Autor do conteúdo
Bibiana Boger
Referências
Públicação Oficial
https://app.doctodoc.com.br/conteudos/uso-de-esteroides-convencionais-vs-hidrocortisona-de-liberacao-prolongada-em-desfechos-metabolicos-cardiovasculares-e-osseos-em-pacientes-com-insuficiencia-adrenal
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