Uso de Crinecerfont em Hiperplasia Adrenal Congênita na Infância
14 de novembro de 2024
5 minutos de leitura
O uso a curto prazo de crinecerfont reduz os níveis de hiperandrogenismo em crianças com hiperplasia adrenal congênita comparado a placebo?
O uso de hidrocortisona é recomendado pela ES (Endocrine Society) como o glicocorticoide de escolha em crianças e adolescentes com hiperplasia adrenal congênita (HAC). No entanto, para o controle do excesso de andrógenos, geralmente são necessárias doses suprafisiológicas de glicocorticoide, o que pode afetar o crescimento e levar a ganho de peso, hipertensão e resistência insulínica. O crinecerfont, uma nova medicação que atua como antagonista do receptor do fator liberador da corticotrofina tipo 1 (CRFR1), já havia demonstrado uma redução significativa de ACTH, 17-hidroxiprogesterona (17OHP) e androstenediona em estudos de fase 2. O objetivo do estudo atual foi avaliar se o uso de crinecerfont é eficaz na redução dos níveis de androstenediona em crianças com HAC.
Ensaio clínico randomizado de fase 3
Multicêntrico, com 37 centros nos Estados Unidos, Canadá e Europa
Duplo-cego
Controlado por placebo
Randomização realizada por computador na proporção 2:1, estratificada por estágio de Tanner e sexo
Cálculo de uma amostra de 81 participantes para alcançar um poder de 90% na detecção de uma diferença de 0,83 no desfecho primário entre os grupos, com um erro do tipo I bicaudal de 0,05
Crianças com diagnóstico de hiperplasia adrenal congênita (HAC)
Idade entre 2 e 17 anos
Diagnóstico de hiperplasia adrenal congênita forma clássica
Tratamento com dose suprafisiológica de glicocorticoide (dose total diária > 12 mg/m²/dia equivalente à hidrocortisona) e com dose estável no último mês
Nível de androstenediona maior do que a média do valor de referência e 17OHP pelo menos 2 vezes acima do limite superior da normalidade
Necessidade de glicocorticoide a longo prazo por outras condições clínicas
Presença de condição médica significativa ou doença crônica, inclusive doença renal ou hepática
Uso de Crinecerfont, via oral, duas vezes ao dia por 28 semanas
Dose de acordo com o peso:
Entre 10 e < 20 kg: 25 mg
Entre 20 e < 55 kg: 50 mg
≥ 55 kg: 100 mg
Após a semana 4, a dose de glicocorticoide foi ajustada com objetivo de 8 a 10 mg/m²/dia equivalente à hidrocortisona, de acordo com os níveis de androstenediona
Placebo, via oral, duas vezes ao dia por 28 semanas
Primário: mudança na androstenediona após 4 semanas
Secundários: mudança na 17OHP após 4 semanas; percentual de mudança na dose de glicocorticoide após 28 semanas, mantendo controle de androstenediona
MasculinoFeminino
Crinecerfont (N = 69) x Placebo (N = 34)
Idade média (anos): 12,0 (± 3,4) x 12,1 (± 3,7)
Sexo masculino: 51% x 53%
Etnicidade:
Branco: 61% x 68%
Asiático: 10% x 6%
Negro: 4% x 0%
Dose total diária de glicocorticoide (mg/m²/dia): 16,5 x 16,3
Uso de hidrocortisona: 91% x 94%
Uso de fludrocortisona: 86% x 91%
IMC ≥ p85: 58% x 59%
Estágio de Tanner
1 ou 2: 40% x 41%
3 a 5: 60% x 59%
Androstenediona (ng/dL): 405 x 483
17OHP (ng/dL): 8.513 x 9.026
Presença de TART: 32% x 33%
97% dos participantes completaram o estudo
Pacientes do grupo Crinecerfont apresentaram, em média, uma redução significativa dos níveis de androstenediona (-268 ng/dL, IC 95% -403 a -132) e de 17OHP (-6.421 ng/dL, IC 95% -8.387 a - 4.454) após 4 semanas, em comparação com o grupo placebo (p < 0,001 para ambos).
Pacientes tratados com Crinecerfont também apresentaram uma redução da dose de glicocorticoide (-18%) após 28 semanas em relação ao basal, enquanto o grupo placebo teve um discreto aumento da dose (+5,6%, p<0,001), com uma média de dose de 12,8 mg/m²/dia no grupo Crinecerfont e 17 mg/m²/dia no grupo placebo ao final do estudo.
Aproximadamente 30% dos pacientes tratados com Crinecerfont alcançaram uma dose fisiológica de glicocorticoide (≤ 11 mg/m²/dia em dose equivalente à hidrocortisona) na semana 28, em comparação com nenhum paciente no grupo placebo.
Pacientes do grupo Crinecerfont também apresentaram redução no desvio padrão de IMC, além de melhora na resistência insulínica e redução de hirsutismo em participantes do sexo feminino
Não houve diferença na incidência de eventos adversos entre os grupos e não houve nenhum caso de crise adrenal.
Dois participantes do grupo Crinecerfont tiveram efeitos colaterais que levaram à descontinuação do tratamento: um deles apresentou náusea e tontura, considerados possivelmente relacionados ao tratamento, enquanto o outro apresentou dor abdominal, náusea e dor no corpo, considerados não relacionados ao tratamento.
O uso de Crinecerfont em pacientes com hiperplasia adrenal congênita levou a redução significativa dos níveis de andrógenos em comparação com o placebo.
Ensaio clínico randomizado, duplo-cego e controlado por placebo
Número adequado de participantes considerando não só a raridade da HAC como também o cálculo amostral pretendido
Alta taxa de participantes que completaram o estudo
Duração relativamente curta do estudo, não permitindo avaliar desfechos clinicamente significativos, como idade óssea e crescimento
Ausência de participantes com menos de 4 anos de idade
Maioria dos participantes brancos, o que limita a generalização do estudo
Autor do conteúdo
Bibiana Boger
Referências
Públicação Oficial
https://app.doctodoc.com.br/conteudos/uso-de-crinecerfont-em-hiperplasia-adrenal-congenita-na-infancia
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