Troca para Insulina Semanal Icodec versus Insulina Diária Degludec em Pacientes com Diabetes Tipo 2 Tratados com Insulinização Basal
07 de janeiro de 2025
8 minutos de leitura
Gabriel Ibrahim Borba Carneiro
O uso da insulina semanal icodec é eficaz e seguro quando comparada à insulina diária degludec em pacientes com diabetes tipo 2 em terapia de insulinização basal?
Estudos sugerem que a administração semanal de insulina pode aumentar a adesão ao tratamento do diabetes, similar ao observado em agonistas de GLP-1. A insulina icodec, um análogo de insulina basal com meia-vida longa devido à ligação reversível à albumina, tem potencial para simplificar o manejo do diabetes tipo 2, mantendo eficácia e segurança comprovadas em estudos de fase 2. O programa clínico ONWARDS foi desenvolvido para avaliar a eficácia e segurança da insulina icodec em diferentes populações de pacientes com diabetes tipo 2, com diversas gravidades da doença. O estudo ONWARDS 2, como parte deste programa, tem como objetivo comparar diretamente as insulinas icodec e degludec em pacientes com diabetes inadequadamente controlado por insulinização basal diária.
Ensaio clínico randomizado
Multicêntrico e multinacional (71 centros, 69 incluindo pacientes; 9 países – Bulgária, Alemanha, Japão, Polônia, Portugal, África do Sul, Coreia do Sul, Ucrânia, EUA)
Aberto (open-label)
Controle ativo, treat-to-target (guiado por metas terapêuticas)
Duração de 26 semanas de intervenção, seguidas por 5 semanas de acompanhamento.
Randomização 1:1 para icodec semanal ou degludec diária subcutâneas, realizada via sistema interativo online (IWRS), com alocação estratificada nos centros participantes
Tamanho amostral estimado em 520 participantes para assegurar 90% de poder estatístico na demonstração de não inferioridade da redução de HbA1c em 26 semanas. Margem de não inferioridade de 0,3%, conforme padrão para medicamentos antidiabéticos. Após a demonstração de não inferioridade, realizou-se teste de superioridade da icodec frente à degludec
Pacientes adultos, com diabetes tipo 2 em uso de insulina basal, incluídos entre maio de 2021 a julho de 2021
Idade ≥ 18 anos;
IMC ≤ 40 kg/m2
Diabetes tipo 2 diagnosticado ≥ 180 dias antes do rastreamento
Uso de insulina basal em 1 ou 2 aplicações diárias, com ou sem hipoglicemiantes orais, em doses estáveis ≥ 90 dias
Hemoglobina glicada (HbA1c) entre 7% e 10%
Suspeita ou conhecimento de hipersensibilidade aos produtos utilizados no ensaio clínico
Gestação, lactação, com planejamento de gestar ou com potencial de, sem o devido método contraceptivo
Condições ameaçadoras da segurança e/ou do seguimento adequado do paciente (conforme avaliação subjetiva do examinador)
Cetoacidose diabética nos últimos 90 dias
Eventos cardiovasculares agudos nos últimos 180 dias
Retinopatia ou maculopatia potencialmente instáveis
Insuficiência renal, hepática ou cardíaca NYHA IV
Troca da insulina previamente utilizada por insulina semanal icodec (700 UI/ml):
Na randomização, a dose semanal inicial foi equivalente à dose basal diária multiplicada por 7, com incremento adicional de 50% na primeira aplicação.
A partir da segunda semana, a titulação da dose semanal foi ajustada conforme glicemia capilar em jejum (alvo de 80–130 mg/dL), com variação de ±20 unidades semanais.
Troca da insulina previamente utilizada por insulina diária degludec (100 UI/ml):
A titulação da dose semanal foi ajustada conforme glicemia capilar em jejum (alvo de 80–130 mg/dL), com variação de ±3 unidades semanais.
Todos os hipoglicemiantes orais pré-existentes foram mantidos, exceto os secretagogos (sulfonilureias e glinidas), seguindo o mesmo protocolo do grupo intervenção.
Primário: mudança na HbA1c da baseline até a semana 26
Secundários: mudança na glicose em jejum; valor total do escore de satisfação Diabetes Treatment Satisfaction Questionnaire (DTSQ), tempo no intervalo-alvo de glicose em monitorização contínua de glicose (CGM) entre as semanas 22 e 26; HbA1c abaixo de 7%; HbA1c menor ou igual a 6.5% com e sem hipoglicemias graus 2 e 3 nas últimas 12 semanas
Segurança: número de hipoglicemias clinicamente significativos (grau 2, equivalente a < 54 mg/dL, confirmado em glicosímetros validados); hipoglicemias graves (grau 3, sem valor específico, mas associada a disfunção cognitiva grave com necessidade de intervenção para recuperação); hipoglicemias grau 2 ou 3 (combinadas) entre semanas 0 e 31; tempo em glicose < 54 mg/dL ou > 180 mg/dL entre semanas 22 e 26; dose média semanal de insulina entre semanas 24 e 26; mudança de peso corporal entre baseline e semana 26
MasculinoFeminino
Características demográficas, clínicas e terapêuticas similares entre os grupos, exceto por maior proporção do sexo masculino e peso corporal mais elevado no grupo icodec, e maior dose total diária de insulina basal no grupo degludec.
Grupo Icodec (N=263) x Grupo Degludec (N=263)
Idade (anos): 62,3 x 62,6
Peso (kg): 83,7 x 81,5
IMC (kg/m²): 29,5 x 29,2
HbA1c (%): 8,17 x 8,10
Glicose em jejum (mg/dL): 152,2 x 150,7
Duração do diabetes (anos): 16,5 x 16,9
Raça (total)
Branca: 57%
Asiática: 37%
Afro-americana: 4%
Outros: 1%
Indígena americana: <1%
Insulina basal pré-randomização (Icodec x Degludec)
Glargina U100: 42% x 41%
Degludec: 29% x 28%
Glargina U300: 14% x 17%
NPH (isofana): 12% x 12%
Detemir: 3% x 3%
Uso de hipoglicemiantes orais pré-randomização (Icodec x Degludec)
Metformina: 82% x 85%
Inibidores de SGLT2: 34% x 32%
Agonistas do receptor de GLP-1: 26% x 26%
Inibidores de DPP-4: 23% x 26%
Sulfonilureias: 23% x 22%
Inibidor de α-glucosidase: 5% x 5%
Tiazolidinedionas: 5% x 4%
Glinidas: 4% x 3%
A redução média da HbA1c foi significativamente maior no grupo icodec (-0,93%) em comparação ao grupo degludec (-0,71%), com diferença de tratamento estimada (ETD) de -0,22% (IC 95% -0,37 a -0,08; p < 0,001). A insulina icodec demonstrou não inferioridade (p < 0,0001) e superioridade (p = 0,0028) em relação à insulina degludec.
Uma proporção significativamente maior de pacientes no grupo icodec atingiu HbA1c < 7% na semana 26 em comparação ao grupo degludec (OR 1,88; IC 95% 1,26–2,79; p < 0,0019). O mesmo padrão foi observado para HbA1c ≤ 6,5%, com OR de 1,93 (IC 95% 1,13–3,28; p = 0,016).
A satisfação com o tratamento, avaliada pelo escore DTSQ, foi significativamente maior no grupo icodec em comparação ao grupo degludec, com diferença média estimada de 1,25 pontos (IC 95% 0,41–2,10; p = 0,0035).
Eventos de hipoglicemia graus 2 e 3 foram mais frequentes no grupo icodec (14%) em comparação ao grupo degludec (7%; OR 1,89; IC 95% 1,05–3,41; p = 0,034).
A mudança de peso foi mais favorável ao grupo degludec, com um ganho de +1,40 kg no grupo icodec versus -0,30 kg no grupo degludec (ETD 1,70 kg; IC 95% 0,76–2,63; p < 0,05).
Eventos adversos foram relatados em 61% dos pacientes no grupo icodec e em 51% no grupo degludec. Os eventos graves foram analisados como improváveis de serem relacionados ao tratamento. Dois óbitos ocorreram em cada grupo, todos atribuídos a causas não relacionadas às insulinas do estudo.
Hipersensibilidade e reações locais no local de aplicação foram raras e similares entre os dois grupos.
Em pacientes com diabetes tipo 2 tratados com insulinização basal, a insulina semanal icodec é não inferior e superior à insulina diária degludec na redução de HbA1c após 26 semanas de tratamento.
Multicêntrico, randomizado, população diversificada, permitindo maior validade externa dos resultados
Alta taxa de finalização do estudo por parte dos participantes
Comparação ativa com tratamento padrão-ouro disponível no mercado internacional
Relevância clínica – nova alternativa farmacológica com potencial de revolucionar prática médica diária.
Permissão de outros tratamentos adjuvantes para diabetes favorece hipóteses de seus efeitos em contexto de vida real
A necessidade de ser um estudo aberto (open-label) para permitir a avaliação da satisfação dos pacientes com a redução do número de injeções pode ter introduzido vieses nos relatos dos participantes, particularmente em relação à frequência e intensidade de desfechos, como eventos adversos e hipoglicemias.
Falta de investigação do controle glicêmico durante a semana
Novo Nordisk: responsável pelo financiamento do estudo, sendo alguns autores membros da empresa. Representantes participaram da coleta de dados, seguimento, análise estatística, preparação e revisão dos dados
Autor do conteúdo
Andressa Leitao
Referências
Públicação Oficial
https://app.doctodoc.com.br/conteudos/troca-para-insulina-semanal-icodec-versus-insulina-diaria-degludec-em-pacientes-com-diabetes-tipo-2-tratados-com-insulinizacao-basal
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