Testes Viscoelásticos em Pacientes com Hemorragia por Trauma
27 de fevereiro de 2025
5 minutos de leitura
A inclusão de testes viscoelásticos em protocolos para hemorragia no trauma reduz morte e a necessidade de transfusão maciça?
O trauma é uma das principais causas de mortalidade global, sendo cerca de 50% das mortes atribuídas à hemorragia. O manejo padrão nesse contexto inclui o controle do sangramento e a correção da coagulopatia por meio do uso de ácido tranexâmico e da transfusão de hemocomponentes, geralmente organizados em protocolos de transfusão maciça. Esses protocolos frequentemente envolvem a transfusão empírica de hemocomponentes, seguida pela avaliação com testes convencionais, como TTPA, INR e contagem de plaquetas. No entanto, esses testes possuem tempos de resposta prolongados e frequentemente não conseguem identificar os mecanismos subjacentes que perpetuam o sangramento. Nesse contexto, os testes viscoelásticos emergem como uma alternativa potencial, fornecendo uma avaliação completa e precisa da coagulação, com resultados disponíveis em poucos minutos. O estudo ITACTIC foi desenvolvido para investigar se a inclusão de testes viscoelásticos em protocolos de transfusão maciça poderia melhorar os desfechos de pacientes com trauma e hemorragia.
Ensaio clínico multicêntrico (7 centros de trauma na Europa - Dinamarca, Holanda, Noruega, Alemanha e Reino Unido).
Randomizado em proporção 1:1 em blocos de tamanho variável por centro.
Estudo não cego.
Foi calculado que 392 pacientes seriam necessários para ter 80% de poder para demonstrar uma redução absoluta de 13%, com erro alfa de 5% e uma previsão de 15% de perdas de seguimento.
Pacientes com trauma grave e suspeita de hemorragia, com indicação de transfusão de sangue entre 2016 e 2018.
Adultos (> 18 anos).
Vítimas de trauma.
Sinais de sangramento com indicação de protocolo de transfusão maciça seguindo os protocolos de cada instituição.
Transfusão de pelo menos 1 concentrado de hemácias.
Dentro de 3 horas do trauma e 1 hora da chegada no departamento de emergência.
Não são descritos no texto principal.
Transfusão de hemocomponentes baseada em testes viscoelásticos (tromboelastograma ou tromboelastometria).
Transfusão baseada em testes convencionais.
Todos os pacientes recebiam ácido tranexâmico e transfusão guiada por protocolo com relação 1:1:1 entre concentrado de hemácias, plaquetas e plasma.
Testes de coagulação eram realizados a cada 4 horas até o controle de sangramento.
Os testes viscoelásticos eram feitos no local em que o paciente era atendido e os outros testes de coagulação eram realizados no laboratório.
Desfecho primário: percentual de pacientes vivos e livres de transfusão maciça em 24h.
Transfusão maciça foi definida como a administração de dez ou mais unidades de concentrado de hemácias em 24 horas após o trauma.
Desfechos secundários: mortalidade em 6h, 24h, 28 dias e 90 dias após a admissão; uso de hemocomponentes; dias livres de ventilação; dias livres de UTI; incidência de eventos tromboembólicos, disfunção de múltiplos órgãos e eventos adversos.
MasculinoFeminino
396 Participantes | Feminino = 23% e Masculino = 77%
Viscoelásticos (N = 201) x Convencionais (N = 195)
Idade mediana, em anos: 40 x 43
Sexo masculino: 73% x 82%
Anticoagulação prévia: 6% x 8%
Trauma contuso: 66% x 67%
TCE grave: 20% x 18%
Injury Severity Score (ISS) mediano: 26 x 26
INR > 1.2: 25% x 32%
Mediana do Lactato: 4,5 x 4,4 mEq/L
Uso de ácido tranexâmico: 94% x 98%
Mediana de Concentrados de hemácia antes da randomização: 2 x 2
Resultados:
Não houve diferença entre os grupos na proporção de pacientes vivos e livres de transfusão maciça.
Gráfico
Título: Proporção de Pacientes Vivos e Livres de Transfusão Maciça em 24 horas
Duas Colunas: Uso de Testes Viscoelásticos = 67% vs Protocolos Convencionais = 64%
OR 1,15; IC 95% 0,76 a 1,73
O percentual de pacientes vivos e livres de transfusão maciça em 24h foi 67% no grupo intervenção e 64% no grupo controle (OR 1,15; IC 95% 0,76 a 1,73).
A mortalidade foi similar entre os grupos em 24 horas (17% no grupo controle e 14% no grupo intervenção) e em 28 dias (28% e 25%, respectivamente).
O tempo até a hemostasia foi similar entre os grupos (125 x 122 minutos; P = 0,92).
Os demais desfechos secundários foram similares entre os grupos, incluindo o número de dias livres de ventilação, dias livres de UTI e incidência de disfunção de múltiplos órgãos.
Análises de protocolo e de subgrupos foram consistentes com a análise primária.
Entre a randomização e a hemostasia os pacientes receberam uma mediana de 3 concentrados de hemácias e 4 plasmas frescos congelados em ambos os grupos. O grupo intervenção recebeu mais fibrinogênio (mediana de 4 g x 0 g).
Um protocolo de transfusão maciça complementado com testes viscoelásticos não resultou em melhores desfechos em comparação ao cuidado usual em pacientes com trauma e sangramento.
Estudo randomizado e multicêntrico.
Estudo pragmático.
Amostra calculada com base em uma estimativa de efeito bastante otimista. É possível que tenha faltado poder para demonstrar diferenças mais modestas entre os grupos.
Estudo não cego, o que pode introduzir viés.
Um número razoável de pacientes em ambos os grupos já estava recebendo terapias hemostáticas antes da randomização, o que pode ter reduzido o impacto da intervenção.
Autor do conteúdo
Luis Júnior
Referências
Públicação Oficial
https://app.doctodoc.com.br/conteudos/testes-viscoelasticos-em-pacientes-com-hemorragia-por-trauma
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