Terlipressina Endovenosa em Infusão Contínua versus em Bolus no Tratamento de Síndrome Hepatorrenal
06 de março de 2025
7 minutos de leitura
O tratamento de síndrome hepatorrenal tipo 1 com terlipressina endovenosa em infusão contínua é mais segura que o tratamento com infusão intermitente?
O uso de terlipressina e albumina é a medida terapêutica mais utilizada para a síndrome hepatorrenal. Baseado na hipótese da vasodilatação arterial periférica, a terlipressina é utilizada com a ideia de diminuir a vasodilatação esplâncnica, diminuir a hipertensão portal e aumentar o volume circulatório efetivo, e a albumina é utilizada para otimizar ainda mais o volume circulante efetivo. Habitualmente, a terlipressina é administrada em bolus, mas a infusão contínua é uma opção. Alguns estudos sugerem que o uso em infusão contínua é eficaz mesmo utilizando uma dose diária mais baixa que a dose diária utilizada no tratamento em bolus, entretanto ainda é incerto se o uso de terlipressina em infusão contínua reduz a frequência de eventos adversos, o que motivou a realização deste estudo clínico.
Ensaio clínico randomizado
Multicêntrico, envolvendo 3 centros na Itália
Considerando uma incidência de eventos adversos graves relacionados a terlipressina em 43% no grupo controle, foi calculada uma amostra de 37 pacientes em cada grupo para um erro α de 0,05 e um poder estatístico de 90% de detectar uma diferença absoluta de 33% entre os grupos
Pacientes com cirrose e síndrome hepatorrenal incluídos entre 2007 e 2014
Cirrose com confirmação do diagnóstico por clínica, biópsia, ultrassonografia ou achados endoscópicos
Idade ≥ 18 anos
Diagnóstico de síndrome hepatorrenal tipo 1, definida por:
Presença de cirrose com ascite
Insuficiência renal rápida e progressiva, com aumento da creatinina sérica para > 2,5 mg/dL em menos de 2 semanas
Ausência de melhora da creatinina após pelo menos 2 dias de retirada de diuréticos e com expansão volêmica com albumina
Ausência de choque
Ausência de tratamento atual ou recente com droga nefrotóxica
Ausência de doença parenquimatosa renal, indicada por proteinúria, hematúria ou ultrassonografia.
Diagnóstico de carcinoma hepatocelular
Choque séptico
Insuficiência cardíaca ou respiratória
Doença extra-hepática grave
Contraindicação ao uso de terlipressina
Terlipressina em infusão contínua
Administrada na dose total inicial de 2 mg/dia, com a resposta avaliada a cada 48h
Se a creatinina caísse menos que 25% do nível de creatinina pré-tratamento, a dose era aumentada progressivamente, até no máximo 12 mg/dia
Terlipressina em bolus
Inicialmente na dose de 0,5 mg/dose de 4 em 4h.
Se a creatinina caísse menos que 25% do nível de creatinina pré-tratamento, a dose era aumentada progressivamente, até 2 mg/dose de 4 em 4h.
Em ambos os grupos foi realizada albumina na dose de 1g/Kg no primeiro dia seguido de 20 a 40g/dia de dose de manutenção a partir do segundo dia
Em ambos os grupos a terlipressina era mantida até a redução da creatinina para valores menores que 1,5 mg/dL.
Para não respondedores, o tratamento com terlipressina era mantido por no máximo 15 dias
A resposta completa ao tratamento foi definida como redução da creatinina para valores ≤ 1,5 mg/dL.
A resposta parcial ao tratamento foi definida como uma redução de pelo menos 50% rem relação ao valor basal, mas com uma creatinina final > 1,5 mg/dL
Primário: prevalência de eventos adversos relacionados à droga
Secundários: resposta ao tratamento e sobrevida sem transplante em 90 dias
MasculinoFeminino
71 pacientes / Masculino: 67% e feminino:33%
Infusão contínua (N= 34) x Controle (N= 37)
Idade em anos: 57,4 x 59,4
Sexo masculino: 70% x 64%
Cirrose por Hepatite viral: 44% x 43%
Creatinina sérica (mg/dL): 2,62 x 2,43
Bilirrubina total (mg/dL): 8,8 x 9,2
Albumina (g/dL): 3,1 x 3,1
PAM mmHg: 77,3 x 76,4
MELD basal: 29,2 x 29,8
CLIF-SOFA médio: 9,2 x 9,1
Houve menor incidência de eventos adversos relacionados à terlipressina no grupo Infusão contínua em comparação ao grupo controle: 35,2% x 62,1%; p < 0,025
Gráfico
Houve menor incidência de eventos adversos graves relacionados à terlipressina no grupo Infusão contínua em comparação ao grupo controle: 20,5% x 43,2%; p < 0,05
Não houve diferença estatisticamente significativa na resposta ao tratamento entre os grupos: 76,4% x 64,8; p não significativo
Entre os pacientes respondedores, a dose máxima diária de terlipressina foi menor no grupo infusão contínua: 2,6 x 4,5 mg; P = 0,0001
Entre os pacientes respondedores, a dose média diária de terlipressina foi menor no grupo infusão contínua: 2,23 x 3,51; P = 0,0001
Entre os pacientes respondedores, não houve diferença na duração (em dias) do tratamento entre os grupos: 9,31 x 8,52; p = 0,47
Não houve diferença na sobrevida sem transplante em 90 dias entre os grupos: 69% x 53%; p = 0,255
Sobrevida em 90 dias
P=0,255
Continuo=69% e Bolus=53%
Em pacientes com síndrome hepatorrenal tipo 1, o tratamento com terlipressina endovenosa continua traz menos efeitos adversos relacionados à terlipressina que o tratamento com dose intermitente em bolus.
Ensaio clínico randomizado multicêntrico
Desfecho clinicamente relevante
Protocolo bem elaborado para responder à pergunta do estudo
Embora multicêntrico, envolveu apenas 3 centros na Itália, o que pode reduzir a validação externa dos resultados observados
Estudo com uma amostra pequena, o que pode introduzir alguns vieses como: viés de amostragem pois a amostra pequena pode ser insuficiente para capturar a variabilidade adequada da população estudada e viés de variabilidade, pois amostra pequenas podem ser fortemente influenciadas por resultados com valores extremos.
Taxa de recrutamento lenta, pois foram necessários 7 anos para randomizar 78 pacientes, o que representa em média 3,7 pacientes por ano em cada centro. Esse baixo recrutamento pode indicar viés de seleção.
Pacientes excluídos após randomização. Isso prejudica a confiança no sigilo de alocação e no balanceamento adequado entre os grupos
Estratégia de randomização não descrita claramente
Autor do conteúdo
Guilherme Lemos
Referências
Públicação Oficial
https://app.doctodoc.com.br/conteudos/terlipressina-endovenosa-em-infusao-continua-versus-em-bolus-no-tratamento-de-sindrome-hepatorrenal
Compartilhe
Copyright © 2024 Portal de Conteúdos MEDCode. Todos os direitos reservados.