Saúde Óssea Após Exercício, Tratamento com Agonista do Receptor GLP-1 ou Tratamento Combinado
18 de julho de 2024
6 minutos de leitura
Entre o exercício isolado, o uso de agonista do receptor GLP-1 e a combinação de ambos, qual estratégia é mais eficaz em preservar a densidade mineral óssea durante a perda de peso?
Uma grande preocupação durante a perda de peso é a perda óssea concomitante. Exercícios e agonistas do receptor GLP-1 representam estratégias de perda de peso que podem proteger a massa óssea, apesar da perda de peso corporal. No entanto, a combinação das duas estratégias não foi investigada no contexto de saúde óssea.
Dessa forma, esta análise secundária de estudo randomizado avaliou qual das estratégias é melhor para a preservação da saúde óssea em sítios clinicamente relevantes (quadril, coluna e antebraço), após perda de peso induzida por dieta: exercício isolado, o agonista do receptor GLP-1 ou os dois tratamentos combinados.
Ensaio clínico randomizado
Análise secundária
Multicêntrico (2 centos na Dinamarca)
Duplo cego
Foi estimado que seriam necessários pelo menos 30 participantes, em cada grupo de estudo, para detectar uma diferença de 4kg (poder 0,80 e alfa bilateral de 0,05) entre qualquer um dos 4 grupos.
Todos os participantes eram submetidos a 8 semanas de uma dieta de baixa caloria (cerca de 800 kcal/dia); aqueles que perdessem pelo menos 5% do peso corporal inicial eram randomizados na razão 1:1:1:1 em um dos 4 grupos e eram submetidos a 1 ano de intervenção. Grupos: placebo; apenas orientação de exercícios; apenas liraglutida e terapia combinada (liraglutida e exercícios).
Pacientes com obesidade selecionados entre 2016 e 2019.
Idade entre 18 e 65 anos
IMC entre 32 e 43
Uso de método contraceptivo seguro
Doença crônica grave conhecida, incluindo diabetes tipo 1 ou 2
Angina pectoris, doença arterial coronariana, insuficiência cardíaca (NYHA III – IV)
Injúria renal grave (clearance de creatinina < 30ml/min)
Injúria hepática grave
Doença inflamatória intestinal
Gastroparesia diabética
Câncer
Doença pulmonar obstrutiva crônica
Cirurgia bariátrica prévia
Osteoartrite considerada grave e que impossibilite o paciente de seguir o programa de exercícios do estudo.
Grupo 2 (exercício + placebo)
Grupo 3 (liraglutida – dose inicial 0,6 mg/dia e dose máxima de 3 mg/dia)
Grupo 4 (liraglutida na dose inicial de 0,6 mg/dia e dose máxima de 3 mg/dia + exercício)
Grupo 1 (placebo)
Os grupos que utilizaram liraglutida recebiam dose inicial subcutânea de 0,6mg/dia, com incrementos semanais de 0,6mg até alcançar dose máxima de 3mg/dia.
Todos os pacientes recebiam suporte dietético alinhado com as recomendações dietéticas fornecidas pelas autoridades dinamarquesas.
Primário: mudança na densidade mineral óssea específica de sítios clinicamente relevantes (quadril, coluna lombar e antebraço distal), desde antes do início da dieta de baixa caloria até o fim do tratamento, medida por uma absorciometria de raio X de dupla energia.
Secundários: mudança de peso e composição corporal e marcadores de remodelamento ósseo (telopeptídeo C reticulado de colágeno tipo 1 de plasma [P-CTX], um marcador de reabsorção óssea e propeptídeo plasmático de pró-colágeno tipo 1 [P-P1NP], um marcador de formação óssea)
MasculinoFeminino
Grupo 1 (N= 49) x Grupo 2 (N=48) x Grupo 3 (N=49) x Grupo 4 (N=49)
Idade (anos): 42,95 (11,54) x 42,97 (12,37) x 43,23 (11,64) x 42,2 (12,28)
Tabagismo regular: 14% x 15% x 12% x 8%
Peso corporal médio (kg): 109,69 (14,78) x 109,96 (14,63) x 107,63 (15,66) x 111,89 (14,56)
IMC (médio): 36,52 (2,92) x 37,09 (3,09) x 36,97 (3,25) x 37,24 (2,42)
DMO total de quadril (médio – g/cm²): 1,07 (0,13) x 1,09 (0,13) x 1,03 (0,11) x 1,05 (0,10)
DMO de coluna lombar (médio – g/cm²): 1,12 (0,13) x 1,14 (0,16) x 1,09 (0,14) x 1,10 (0,13)
DMO de antebraço distal (médio – g/cm²): 0,76 (0,09) x 0,75 (0,08) x 0,75 (0,10) x 0,75 (0,08)
Cálcio plasmático (médio – mg/dl): 9,40 (0,36) x 9,32 (0,32) x 9,28 (0,28) x 9,24 (0,28)
Vitamina D plasmática (D2 + D3) médio – em ng/ml: 23,78 (10,69) x 21,54 (10,18) x 22,15 (8,63) x 23,5 (8,56)
A combinação de liraglutida e exercício (grupo 4) foi a única estratégia que manteve a densidade mineral óssea inalterada durante a perda de peso. Quando comparado ao grupo placebo (grupo 1), não houve alteração significativa na densidade mineral óssea do quadril (mudança média -0,006 g/cm²; 95% IC -0,017 a 0,004 g/cm²; p=0,24) e da coluna lombar (mudança média -0,010 g/cm²; 95% IC -0,025 a 0,005 g/cm²; p=0,20).
O uso isolado de liraglutida (grupo 3) resultou em uma redução na densidade mineral óssea do quadril. Esta redução foi significativa quando comparada tanto ao grupo de exercício + placebo (grupo 2) (mudança média -0,013 g/cm²; 95% IC -0,024 a -0,001 g/cm²; p=0,03), quanto ao grupo placebo (grupo 1) (mudança média -0,013 g/cm²; 95% IC -0,024 a -0,002 g/cm²; p=0,02).
A densidade mineral óssea do antebraço distal aumentou tanto no grupo de exercício + placebo (grupo 2) quanto no grupo de combinação de liraglutida e exercício (grupo 4). Não houve diferenças relevantes na densidade mineral óssea do antebraço distal entre os quatro grupos.
A perda de peso foi maior nos grupos que usaram liraglutida (isoladamente ou em combinação com exercício). A mudança média total estimada em relação à perda de peso corporal foi:
Grupo 1 (placebo): 7,03 kg (95% IC 4,25 – 9,8 kg)
Grupo 2 (exercício + placebo): 11,19 kg (95% IC 8,40 – 13,99 kg)
Grupo 3 (liraglutida isolada): 13,74 kg (95% IC 11,04 – 16,44 kg)
Grupo 4 (liraglutida + exercício): 16,88 kg (95% IC 14,23 – 19,54 kg)
Durante a perda de peso, a combinação de exercícios e liraglutida foi a estratégia mais efetiva para preservar a densidade mineral óssea em pacientes com obesidade.
Comparou o impacto de diferentes estratégias de emagrecimento na densidade mineral óssea, um marcador crucial de saúde óssea. A preservação da densidade mineral óssea é fundamental para prevenir fraturas graves e a consequente perda de qualidade de vida e funcionalidade.
Todos os pacientes receberam suporte dietético ajustado conforme as recomendações das autoridades dinamarquesas, o que minimiza o viés de tratamento.
Distribuição equilibrada de comorbidades entre os grupos de tratamento, reduzindo o risco de viés de seleção.
Baixa proporção de participantes do sexo masculino, limitando a generalização dos resultados para essa população.
Ausência de diversidade étnica entre os participantes, o que impede a generalização dos resultados para populações etnicamente diversas.
Exclusão de pacientes com diabetes tipo 1 e 2, restringindo a aplicabilidade dos resultados para esses perfis de pacientes.
Avaliação focada exclusivamente na liraglutida, sem considerar outras medicações da classe dos agonistas do receptor GLP-1, limitando a extrapolação dos resultados para um possível efeito de classe.
Autor do conteúdo
Carolina Ferrari
Referências
Públicação Oficial
https://app.doctodoc.com.br/conteudos/saude-ossea-apos-exercicio-tratamento-com-agonista-do-receptor-glp-1-ou-tratamento-combinado
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