Rosuvastatina Reduz Progressão da Espessura Médio-Intimal Carotídea
02 de janeiro de 2025
7 minutos de leitura
O uso de rosuvastatina 20 mg/dia reduz a progressão da espessura médio-intimal carotídea em comparação com placebo em adultos com aterosclerose subclínica?
A aterosclerose é a principal causa de doenças cardiovasculares em todo o mundo, inclusive na China, e a prevenção primária, através do tratamento hipolipemiante, pode evitar seu desenvolvimento. Uma das medidas mais bem validadas e usada em estudos de intervenção como desfecho primário e alternativo para eventos de doenças cardiovasculares é a espessura médio-intimal da carótida (EMIC). O estudo global METEOR, que não incluiu participantes da China, mostrou que a rosuvastatina 40 mg/dia foi associada a reduções significativas na taxa de progressão máxima da EMIC ao longo de 2 anos em pessoas de meia-idade com aterosclerose subclínica leve a moderada. Por isso, foi realizado o METEOR-China, para expandir as evidências e avaliar se a rosuvastatina na dose mais alta aprovada (20 mg/dia) na China, reduziria a progressão da EMIC em chineses assintomáticos, portadores de aterosclerose leve a moderada.
Ensaio clínico randomizado
Duplo cego
Multicêntrico
Com 207 participantes por grupo, haveria 90% de poder para detectar uma diferença de -10,6 µm/ano na EMIC ao longo de 104 semanas de estudo, considerando um desvio padrão de 33,28 µm/ano e um nível de significância bilateral de 0,05.
Randomização 1:1, em 2 grupos: um que seria submetido a tratamento com rosuvastatina 20mg/dia e outro que receberia placebo.
Pacientes chineses com aterosclerose subclínica (risco de doença cardiovascular isquêmica em 10 anos < 10%) selecionados entre 2015 e 2019
Homens com idade entre 45 e 69 anos ou mulheres com idade entre 55 e 69 anos.
Pressão arterial igual ou superior a 140/90 mmHg ou em uso de tratamento anti-hipertensivo.
Para participantes sem hipertensão e com três ou mais fatores de risco cardiovascular, os níveis de LDL-C deveriam estar entre 120 e 160 mg/dL.
Para participantes sem hipertensão e com menos de três fatores de risco cardiovascular, os níveis de LDL-C deveriam estar entre 120 e 190 mg/dL.
Níveis de triglicerídeos inferiores a 500 mg/dL e de HDL iguais ou menores que 60 mg/dL na visita inicial.
Espessura médio-intimal carotídea entre 1,2 e 3,5 mm em qualquer localização avaliada nas ultrassonografias realizadas nas semanas -4 e -2.
História de doença da artéria coronária ou de qualquer outra doença aterosclerótica.
Diagnóstico de diabetes mellitus.
Hipertensão arterial não controlada.
Uso de medicamentos hipolipemiantes no ano anterior à consulta inicial ou de suplementos que alteram o metabolismo lipídico dentro de duas semanas após a primeira visita do estudo.
Doença hepática ativa ou disfunção hepática com TGO, TGP ou bilirrubina ≥1,5 vezes o limite superior da normalidade.
Níveis de creatina quinase sérica superiores a três vezes o limite superior da normal na primeira visita do estudo.
Níveis de creatinina sérica superiores a 2,0 mg/dL durante o período de triagem.
Rosuvastatina 20 mg/dia, administrada uma vez ao dia por 104 semanas.
Placebo correspondente administrado no mesmo esquema.
O risco de doença cardiovascular isquêmica foi calculado com base nas Diretrizes de Manejo da Dislipidemia em adultos na China (2007), considerando os riscos combinados de doença coronariana e acidente vascular cerebral.
A espessura médio-intimal carotídea foi medida no início e no final do estudo, com avaliações adicionais nas semanas 26, 52 e 78, abrangendo as paredes proximais e distais da carótida comum, bulbo carotídeo e artérias carótidas internas, bilateralmente.
Análises de lipídios, lipoproteínas e bioquímica foram realizadas no início, semanas 6, 13, 39, 65, 91 e 104; já os níveis de apolipoproteínas, hematologia e urina foram medidos no início e no final do estudo.
Primário: Taxa anualizada de mudança no valor médio do máximo da CIMT em 12 segmentos da artéria carótida (CCA, bulbo, ICA) ao longo do período de 104 semanas.
Secundários: taxa anualizada de mudança na EMIC em segmentos das carótidas (comum, bulbo e interna), a média da EMIC nas paredes proximais e distais da carótida interna e a variação percentual nos níveis de LDL, colesterol total, HDL, triglicerídeos, não-HDL, apoB, apo AI e suas proporções.
MasculinoFeminino
Grupo Rosuvastatina (N=272) x Grupo Placebo (N=271):
Idade (anos): 59 x 59,7
IMC (kg/m²): 25 x 24,7
Tabagismo: 19,1% x 14,8%
Uso de álcool: 15,4% x 15,5%
Clearance de creatinina (médio – ml/min): 92,5 x 88,1
Hipertensão arterial: 21% x 25,1%
LDL colesterol (médio – mg/dl): 135 x 137,9
Glicemia de jejum ≥ 100mg/dl: 14,7% x 11,1%
Risco de doença cardiovascular em 10 anos:
< 5% - 72,3% x 72,8%
≥ 5% e < 10% - 27,7% x 27,2%
EMIC média (12 sítios carotídeos): 1,11 x 1,10
Resultados:
A rosuvastatina reduziu significativamente a progressão da espessura médio-intimal carotídea (EMIC). A mudança anual na EMIC foi de 0,0038 mm/ano (IC 95%, -0,0023 a 0,0100) no grupo rosuvastatina e 0,0142 mm/ano (IC 95%, 0,0080 a 0,0204) no grupo placebo, com uma diferença estatisticamente significativa de -0,0103 mm/ano (IC 95%, −0,0191 a −0,0016; P=0,020).
A rosuvastatina promoveu uma maior redução percentual em relação ao placebo nos níveis de LDL-C (-39,5%), colesterol total (-25,5%), triglicerídeos (-18,4%), não-HDL-C (-33,8%) e na relação não-HDL-C/HDL-C (-33,9%), enquanto o HDL-C aumentou em 3,7% (todas as diferenças significativas, com base em médias ponderadas no tempo).
A análise mostrou reduções significativas nos valores de lipídios, lipoproteínas e apoB desde a avaliação inicial até a visita final no grupo rosuvastatina (P<0,001 para todos, exceto apo AI, que teve P=0,047).
Eventos adversos foram relatados por 84,6% dos participantes no grupo rosuvastatina e 77,6% no grupo placebo, sendo a maioria leve (82,4% no grupo rosuvastatina e 74,6% no grupo placebo) e considerados pelos investigadores como não relacionados ao tratamento.
Conclusões:
A rosuvastatina 20 mg/dia reduziu significativamente a progressão da EMIC ao longo de 2 anos em adultos chineses com aterosclerose subclínica e seu uso foi bem tolerado.
Ponto a ponto:
Pontos fortes
Avaliou pacientes da China, que representam uma população subestudada, na maioria dos ensaios clínicos.
Avaliação detalhada de múltiplos parâmetros lipídicos e apolipoproteínas, oferecendo uma visão completa do impacto metabólico da rosuvastatina.
Utilizou uma ferramenta validada e objetiva (EMIC) para avaliação do impacto da medicação sobre o manejo da doença aterosclerótica.
Proporção quilibrada de pacientes do sexo masculino e feminino.
Pontos Fracos
Avaliou apenas homens com idade ≥ 45 anos e mulheres com idade ≥ 55 anos. Dessa forma, seus resultados não podem ser aplicados em homens e mulheres com idades menores do que as avaliadas.
Excluiu pacientes diabéticos e com creatinina > 2mg/dl que, como se sabe, apresentam risco para doença cardiovascular. Dessa forma, seus resultados não podem ser aplicados para estes perfis de pacientes.
Não usou desfechos clínicos como desfechos primários. Assim, não se pode afirmar que a redução de progressão da EMIC está diretamente associada à redução de eventos clínicos.
Comparou a rosuvastatina com placebo. Assim, não se pode afirmar que os achados do estudo representam efeito de classe.
Estudo patrocinado pela AstraZeneca que teve envolvimento na condução do estudo, incluindo a supervisão do desenho, coleta e análise dos dados, bem como na preparação do manuscrito.
Autor do conteúdo
Carolina Ferrari
Referências
Públicação Oficial
https://app.doctodoc.com.br/conteudos/rosuvastatina-reduz-progressao-da-espessura-medio-intimal-carotidea
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