Rosuvastatina para Prevenção de Eventos Vasculares em Homens e Mulheres com Proteína C-Reativa Elevada
01 de outubro de 2024
6 minutos de leitura
O uso de rosuvastatina 20mg/dia reduz evento cardiovascular maior em pacientes com proteína-C reativa elevada?
Níveis elevados do biomarcador inflamatório PCR de alta sensibilidade podem predizer eventos cardiovasculares. Uma vez que, o uso de estatinas pode reduzir os níveis deste biomarcador, bem como os níveis de colesterol, foi gerada a hipótese de que pacientes com PCR de alta sensibilidade elevada, mas sem hiperlipidemia, poderiam se beneficiar do tratamento com estatinas.
Dessa forma, foi realizado o JUPITER, um estudo randomizado e multicêntrico, com o objetivo de avaliar se o tratamento com rosuvastatina 20mg/dia, quando comparado ao placebo, pode reduzir a taxa de primeiro evento cardiovascular maior, em pacientes com PCR de alta sensibilidade elevada, mas sem hiperlipidemia.
Ensaio clínico randomizado
Multicêntrico (1315 centros em 26 países)
Duplo-cego
Estudo guiado por eventos e desenvolvido para continuar até que 520 desfechos primários confirmados fossem documentados, para fornecer um poder estatístico de 90%, em vistas de detectar uma redução de 25% na taxa de desfechos primários, com um nível de significância bilateral de 0,05
Todos os pacientes elegíveis passaram por uma fase de 4 semanas com placebo para avaliar a adesão ao protocolo (≥80% dos comprimidos tomados); somente aqueles que completaram com sucesso foram randomizados.
Randomização 1:1 nos grupos: rosuvastatina 20mg/dia e placebo
Pacientes sem história de doença cardiovascular selecionados entre 2003 e 2006
Homens com idade ≥ 50 anos e mulheres com idade ≥ 60 anos
LDL colesterol ≤ 130mg/dl
PCR de alta sensibilidade ≥ 2mg/L.
Níveis de triglicerídeos < 500mg/dl
Uso prévio ou atual de terapia hipolipemiante ou uso atual de terapia de reposição hormonal pós-menopausa
Doenças inflamatórias (artrite grave, lúpus ou doença inflamatória intestinal)
Disfunção hepática (TGP maior do que 2 vezes o limite superior da normalidade)
Creatinoquinase > 3 vezes o limite superior da normalidade.
Creatinina > 2mg/dl
Diabetes ou hipertensão arterial sistêmica não controlada
Câncer dentro de 5 anos antes da seleção para o estudo
Hipotireoidismo não controlado
História recente de abuso de álcool ou drogas.
Rosuvastatina 20mg/dia
Placebo
O estudo foi interrompido precocemente devido ao tamanho e precisão de benefício do tratamento instituído, bem como aos efeitos nas taxas de mortalidade e outros desfechos secundários.
Primário: ocorrência de primeiro evento cardiovascular maior, definido como infarto do miocárdio não fatal, acidente vascular encefálico isquêmico não fatal, hospitalização por angina instável, procedimento de revascularização arterial e morte confirmada por causas cardiovasculares.
Secundários: componentes do desfecho primário, considerados individualmente e morte por qualquer causa.
MasculinoFeminino
Grupo Intervenção (N=8901) x Grupo Controle (N=8901):
Idade (anos): 66 (60 – 71) x 66 (60 – 71)
Brancos: 71,4% x 71,1%
Negros: 12,4% x 12,6%
IMC: 28,3 (25,3 – 32) x 28,4 (25,3 – 32)
Pressão arterial sistólica média (mmHg): 134 (124 – 145) x 134 (124 – 145)
Pressão arterial diastólica média (mmHg): 80 (75 – 87) x 80 (75 – 87)
Tabagismo: 15,7% x 16%
História familiar de doença arterial coronariana prematura: 11,2% x 11,8%
Síndrome metabólica: 41% x 41,8%
PCR de alta sensibilidade (médio): 4,2 (2,8 – 7,1) x 4,3 (2,8 – 7,2)
LDL colesterol (médio): 108 (94 – 119) x 108 (94 – 119)
Triglicerídeos (médio): 118 (85 – 169) x 118 (86 – 169)
Taxa de filtração glomerular: 73,3 (64,6 – 83,7) x 73,6 (64,6 – 84,1)
O uso de rosuvastatina (acompanhamento médio de 1,9 anos) reduziu a incidência de eventos cardiovasculares maiores, com 142 eventos no grupo rosuvastatina comparados a 251 no grupo placebo. As taxas de eventos foram de 0,77 versus 1,36 por 100 pessoas-ano, respectivamente, representando uma redução estatisticamente significativa no grupo rosuvastatina (HR 0,56; IC 95% 0,46 a 0,69; p<0,00001).
A rosuvastatina reduziu significativamente o risco de infarto do miocárdio (HR 0,46; IC 95% 0,30 a 0,70; p=0,0002) e de acidente vascular encefálico (HR 0,52; IC 95% 0,34 a 0,79; p=0,002).
A mortalidade por todas as causas também foi significativamente menor no grupo rosuvastatina (HR 0,80; IC 95% 0,67 a 0,97; p=0,02).
Não houve aumento significativo de miopatia ou câncer no grupo rosuvastatina, mas houve uma maior incidência de diabetes.
O tratamento com rosuvastatina em adultos aparentemente saudáveis com níveis elevados de PCR, mas sem hipercolesterolemia, reduziu significativamente a incidência de eventos cardiovasculares maiores.
Avaliou o impacto do tratamento com rosuvastatina 20mg/dia sobre a prevenção primária, utilizando como marcador de risco uma medida laboratorial (PCR de alta sensibilidade) disponível em nosso país, o que apresenta grande relevância para prática clínica.
Elevado número amostral.
Boa proporção de distribuição de comorbidades entre os grupos, o que afasta o viés de seleção.
Baixa proporção de pacientes do sexo feminino
Baixa heterogeneidade étnica
Avaliou apenas pacientes com mais de 50 anos de idade. Dessa forma, seus resultados não podem ser aplicados em pacientes mais jovens.
Utilizou como medicação apenas a rosuvastatina. Assim, não é possível afirmar que os benefícios encontrados configuram efeito da classe medicamentosa.
Devido à interrupção precoce do estudo, pelo benefício demonstrado, em um tempo médio de acompanhamento menor que 2 anos, não se pode afirmar que os efeitos benéficos encontrados se estendem por tempo prolongado.
Autor do conteúdo
Carolina Ferrari
Referências
Públicação Oficial
https://app.doctodoc.com.br/conteudos/rosuvastatina-para-prevencao-de-eventos-vasculares-em-homens-e-mulheres-com-proteina-c-reativa-elevada
Compartilhe
Copyright © 2024 Portal de Conteúdos MEDCode. Todos os direitos reservados.