Rosuvastatina na Progressão da Estenose Aórtica
12 de dezembro de 2024
6 minutos de leitura
O uso de rosuvastatina reduz a progressão da estenose aórtica em pacientes assintomáticos com doença leve a moderada?
O desenvolvimento da estenose aórtica (EA) envolve múltiplos eventos, incluindo deposição e oxidação de lipídios, inflamação, fibrose, calcificação e formação óssea. Por isso, estudos epidemiológicos sugeriram uma associação entre hipercolesterolemia e EA. Além disso, estudos retrospectivos demonstraram que o uso de estatinas estava associado com progressão mais lenta da EA, embora este achado não tenha sido apoiado por outros ensaios clínicos. Dessa forma, realizou-se o estudo ASTRONOMER, com o objetivo de avaliar se redução lipídica intensiva com rosuvastatina 40 mg/dia pode diminuir a taxa de progressão da EA em pacientes portadores da doença em suas formas leve a moderada
Ensaio clínico randomizado
Duplo cego
Multicêntrico – 23 centros no Canadá
Para detectar uma diferença de 7 mm Hg no gradiente aórtico entre os 2 grupos de tratamento no final do acompanhamento, assumindo um desvio padrão de 14 mm Hg e uma taxa de abandono de 20%, estimou-se que uma amostra de 270 pacientes era necessária para atingir 90% de poder, com um alfa bilateral de 0,05
Randomização 1:1: grupo que seria submetido ao uso de rosuvastatina 40 mg/dia e outro que seria submetido ao uso de placebo.
Pacientes assintomáticos com estenose aórtica leve a moderada, sem indicações clínicas para o uso de estatinas. selecionados entre 2002 e 2005
Idade entre 18 e 82 anos.
EA leve a moderada definida pelo pico de velocidade da válvula aórtica no Doppler de 2,5 a 4 m/s
O valor basal de LDL-colesterol deve estar dentro do nível desejado para todas as categorias de risco, de acordo com as Diretrizes Canadenses
Os níveis basais de triglicerídeos devem estar dentro do nível alvo de acordo com as categorias de risco.
EA muito leve definida por pico de velocidade da válvula aórtica no Doppler <2,5m/seg
Mulheres com potencial para engravidar que não praticam contracepção adequada.
EA grave definida pelo pico de velocidade Doppler AS> 4m/seg.
Regurgitação aórtica maior que moderada, definida como largura do jato aórtico e relação da via de saída aórtica> 0,45
Pacientes com diabetes ou com nível de açúcar no sangue em jejum > 125mg/dl (deve ser confirmado com uma repetição do ensaio dentro de 14 dias).
Doença valvar mitral concomitante significativa, definida por regurgitação mitral (RM) moderada ou área valvar mitral (AMIU) < 1,5 cm2
Rosuvastatina 40 mg/dia
Placebo diário
Após a avaliação inicial e randomização, os pacientes foram acompanhados a cada 3 meses para avaliar efeitos adversos relacionados ao tratamento e para garantir a adesão.
Perfis lipídicos foram medidos a cada 6 meses durante o primeiro ano de estudo e depois anualmente. Marcadores imunobioquímicos, incluindo proteína C reativa de alta sensibilidade (PCR), foram medidos no início do estudo, em 1 ano e no final do acompanhamento.
Ecocardiogramas anuais foram realizados para avaliar a gravidade da EA.
Pacientes foram acompanhados por um período mínimo de 3 anos até um máximo de 5 anos. O ensaio foi concluído quando o último paciente randomizado foi acompanhado com sucesso por 3 anos.
Primário: parâmetros hemodinâmicos de gravidade da EA, mensurados pelos gradientes transvalvares aórticos e a área valvar aórtica da ecocardiografia com doppler.
Secundários: composição de necessidade de troca da válvula aórtica e morte por causa cardíaca
MasculinoFeminino
Grupo Rosuvastatina (N=134) x Grupo Placebo (N=135):
Idade (anos): 58 x 57,9
Brancos: 97,8% x 98,5%
IMC: 27,7 x 28,5
Tabagismo: 11,2% x 10,4%
LDL colesterol (mg/dl): 57,2 x 56,2
HDL colesterol (mg/dl): 28,6 x 27,9
Velocidade aórtica de pico (média – em m/s): 3,16 x 3,19
Média de gradiente pressórico transaórtico médio (mmHg): 22,5 x 23,1
Área valvar aórtica média (cm²): 1,49 x 1,56
Válvula aórtica bicúspide: 53,7% x 45,2%
A progressão da EA medida pelo gradiente de pico e área valvar aórtica não diferiu entre os grupos.
No grupo placebo, o pico de gradiente aórtico foi de 41,6 ± 10,9 mm Hg no início do estudo e aumentou para 54,8 ± 19,8 mm Hg no final do acompanhamento com média de alteração de 15,4 mm Hg (IC 95% 11,0 a 19,0); o gradiente aórtico médio foi de 23,1 mm Hg no início do estudo e aumentou para 31,0 mm Hg no final do acompanhamento com uma média de alteração de 9,6 mm Hg (IC 95%, 7,5 a 11,7); e a área valvar aórtica era de 1,56 ± 0,70 cm² no início do estudo e diminuiu para 1,51± 0,97 cm² no final do acompanhamento com alteração média de 0,16 cm2 (IC 95%, 0,31 a 0,02)
No grupo rosuvastatina, o pico de gradiente aórtico foi de 40,8 ±11,1 mm Hg e aumentou para 57,8± 22,7 mm Hg no final do estudo com uma alteração média de 18,3 mm Hg (IC 95%, 14,0 a 22,6); o gradiente aórtico médio foi de 22,5 mm Hg no início do estudo e aumentou para 32,2 mm Hg no final do acompanhamento com uma média de alteração de 10,7 mm Hg (IC 95%, 8,4 a 13,0); a área valvar aórtica oi de 1,49± 0,71 cm² no início do estudo e diminuiu para 1,26 ± 0,58 cm² no final do acompanhamento com alteração média de 0,19 cm² (IC 95%, 0,30 a 0,08).
A mudança média no pico do gradiente aórtico, gradiente médio e área valvar aórtica não foram estatisticamente diferentes entre os grupos (P= 0,32, 0,49 e 0,79, respectivamente).
Houve um total de 7 mortes cardíacas, 1 das quais foi associada à troca valvar aórtica. A curva dos eventos de desfecho secundário (morte cardíaca ou valva aórtica substituição) não foi significativamente diferente entre os grupos (P=0,45).
Os eventos adversos foram comuns e semelhantes entre os 2 grupos de tratamento. Entre os eventos adversos não graves, o mais comum foi dor muscular.
O uso de rosuvastatina não reduziu a progressão da estenose aórtica em pacientes assintomáticos com doença leve a moderada.
Avaliou pacientes jovens e idosos portadores de EA, o que apresenta grande relevância para prática clínica.
Boa proporção de distribuição de comorbidades entre os grupos, o que evita viés de seleção.
Incluiu pacientes com válvula aórtica bicúspide, uma das alterações congênitas mais comuns na prática cardiológica.
Avaliou apenas uma medicação da classe das estatinas (rosuvastatina). Assim, não se pode afirmar que o resultado encontrado se trata de efeito de classe.
Não utilizou desfechos clínicos como desfecho primário
Financiado pela AstraZeneca
Excluiu pacientes de risco cardiovascular mais elevado (como portadores de dislipidemia). Assim, não se pode aplicar seus resultados para este perfil de pacientes.
Excluiu pacientes sintomáticos
Baixa proporção de pacientes do sexo feminino.
Avaliou pacientes apenas de centros no Canadá. Dessa forma, seus resultados não podem ser aplicados para outras populações.
Autor do conteúdo
Carolina Ferrari
Referências
Públicação Oficial
https://app.doctodoc.com.br/conteudos/rosuvastatina-na-progressao-da-estenose-aortica
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