Redução do Tempo Sentado e Pressão Arterial em Idosos
28 de maio de 2024
6 minutos de leitura
A redução do tempo sentado é uma estratégia efetiva para melhorar a pressão arterial em adultos idosos?
A atividade física moderada a intensa pode trazer benefícios físicos, cognitivos, emocionais e funcionais para a saúde de adultos idosos. No entanto, os níveis de cumprimento do que é recomendado pelas diretrizes de atividade física por esse perfil de pacientes são baixos, uma vez que eles permanecem sentados por 65% a 80% das horas de vigília. Evidências de estudos epidemiológicos associam o comportamento sedentário a impactos adversos em saúde, incluindo diabetes tipo 2, doença cardiovascular, funcionalidade física prejudicada e mortalidade. A redução ou fragmentação do tempo sentado levou à melhora da pressão arterial em estudos experimentais de curto prazo, particularmente em pacientes portadores de hipertensão arterial sistêmica. Dado que a prevalência de hipertensão arterial é de mais de 74% em adultos com mais de 60 anos de idade, encontrar fatores modificáveis para melhorar o controle desse fator de risco para doença cardiovascular é crucial. Intervenções para redução de tempo sentado em adultos idosos são viáveis e podem reduzir o tempo de sedentarismo em aproximadamente 40 a 50 minutos por dia. Dessa forma, foi realizado o estudo HART com o objetivo de avaliar a eficácia da redução do tempo sentado sobre a melhora da pressão arterial.
Ensaio clínico randomizado
Unicêntrico (sistema de cuidado em saúde no estado de Washington – Estados Unidos)
Não cego
Estimado que uma amostra de 284 pacientes poderia garantir um poder de 90% de detectar uma diferença de 41 minutos no tempo sentado entre os grupos, desde a avaliação inicial até 6 meses. Uma amostra de 241 pacientes forneceria um poder de 90% de detectar uma diferença média de 6,2 mmHg na pressão arterial sistólica e de 4 mmHg na pressão arterial diastólica
Pacientes idosos que recebiam cuidados em saúde selecionados entre 2019 e 2022
Idade ≥ 60 anos e < 89 anos
IMC ≥ 30 e < 50kg/m²
Pressão arterial sistólica > 130 mmHg, em duas ocasiões, nos últimos 12 meses
Ausência demência, doença mental grave, doença grave ou terminal (câncer), surdez ou perda significativa de audição, nos últimos 2 anos
Não residir em instituição de cuidado a longo prazo, instituição de cuidado de enfermagem especializada e não estar em cuidados paliativos
Tempo sentado (auto reportado) ≥ 6 horas por dia
Disposição de usar um dispositivo (activPAL).
Disposição para receber e utilizar um monitor de pressão arterial e balança
Disposição para participar de visitas presenciais em Seattle
Disposição e capacidade de jejuar por até 12 horas antes das visitas presenciais
Capacidade de participar do estudo por um período completo de 12 meses
Incapacidade de falar e ler em inglês.
Incapacidade de caminhar por um bloco
Tempo sentado auto reportado < 6 horas por dia.
Diagnóstico de câncer nos últimos 12 meses
Residir em instituição de cuidado a longo prazo, instituição de cuidado de enfermagem especializada ou estar em cuidados paliativos nos últimos 12 meses.
Programa de intervenção I-STAND
Grupo de atenção para vida saudável
A intervenção I-STAND era baseada em teoria social cognitiva, formação de hábitos e entrevistas motivacionais. Os pacientes alocados no grupo intervenção recebiam 10 breves contatos de treinamento em saúde.
Pacientes estabeleciam metas individualizadas para redução de tempo sentado, ficando mais tempo na posição de pé e fazendo pausas frequentes para sentar-se. Além disso, desenvolveram sistemas de lembrete personalizados que consistiam em lembretes internos (percepção de rigidez muscular), lembretes externos (avisos da faixa fitness) e lembretes relacionados ao hábito (adicionar a permanência em posição de pé à suas atividades habituais) para quebrar os padrões automáticos e habituais da permanência em posição sentada
Os pacientes do grupo controle recebiam 10 contatos de treinamento em saúde durante 6 meses e uma pasta de trabalho. Em cada contato, os pacientes escolhiam um tópico para revisar, a partir de uma lista de tópicos relevantes sobre vida saudável (prevenção de quedas, alimentação saudável, sono), com o treinador em saúde e definiam metas relacionadas ao tópico
A pressão arterial era avaliada no membro superior não-dominante dos pacientes, após 5 minutos de repouso.
Primário: mudança no tempo sentado diário (em minutos) medido por um acelerômetro (activPAL) na avaliação inicial, em 3 meses e em 6 meses; mudanças na pressão arterial sistólica e diastólica na avaliação inicial e em 6 meses.
Secundários: mudança na circunferência abdominal, IMC e no peso corporal desde avaliação inicial e até 6 meses, mudança no tempo de pé (em minutos/dia), mudança no tempo dando passos (minutos/dia), contagem média de passos diários, duração média de tempo sentado (minutos/dia), número de episódios prolongados de permanência em posição sentada em 3 meses e em 6 meses
MasculinoFeminino
Intervenção I-STAND (N=140) x Grupo controle (N=143):
Idade (anos): 68,6 (6) x 69 (6,5)
Asiáticos: 2,9% x 3,5%
Negros: 17,9% x 11,2%
Brancos: 66,4% x 71,3%
Habilidade de caminhar em velocidade normal: 79,3% x 77,6%
Tabagismo atual: 1,4% x 0%
Diabetes: 27,9% x 28,7%
Hipertensão: 52,9% x 51%
Pressão arterial sistólica média (mmHg): 135,4 (18,8) x 136,7 (18,3)
Pressão arterial diastólica média (mmHg): 79,6 (11,1) x 79,8 (10,2)
Peso médio (Kg): 98,7 (15,6) x 97,89 (15,88)
IMC (médio): 34,7 (4,6) x 35,2 (4,8)
Circunferência abdominal média (cm): 112,78 (11,94) x 114,05 (13,21)
Tempo diário sentado pela medição do acelerômetro (minutos/dia): 650,4 (117,9) x 654,5 (115,5)
Tempo diário em posição de pé pela medição do acelerômetro (minutos/dia): 207,4 (93,4) x 206,1 (95)
A mudança média no tempo sentado caiu significativamente mais no grupo intervenção quando comparado ao grupo controle e foi de 31,85 minutos/dia em 6 meses (IC95%, - 52,91 a – 10,79 minutos/dia; p=0,003)
A pressão arterial sistólica em 6 meses caiu significativamente mais no grupo intervenção ( -3,48 mmHg; IC95%, -6,68 a -0,28 mmHg; p=0,03).
A pressão arterial diastólica não foi significativamente diferente entre os grupos (0,27mmHg; IC95%, -1,63 a 2,16 mmHg; p=0,78)
Não houve diferenças significativamente estatísticas entre os grupos em relação ao peso, IMC ou circunferência abdominal.
A mudança média no tempo de pé aumentou, enquanto a duração média de tempo sentado e o número de episódios prolongados de permanência em posição sentada reduziram em 6 meses, favorecendo o grupo intervenção
Uma intervenção para reduzir o tempo sentado pode ser entregue de maneira remota e resultar em reduções efetivas do tempo sentado dos pacientes adultos idosos. Além disso, tal intervenção pode levar a reduções significativas na pressão arterial
Avaliou o impacto de uma intervenção simples e de fácil aplicabilidade sobre a melhora do sedentarismo e da pressão arterial, o que tem forte impacto em nossa prática clínica, visto que ela pode melhorar a saúde cardiovascular dos pacientes idosos
Avaliou pacientes com risco cardiovascular mais elevado (portadores de sobrepeso / obesidade) e com medidas alteradas de pressão arterial
Boa proporção de distribuição de comorbidades entre os grupos
Selecionou apenas pacientes de um sistema de cuidados em saúde de Washington. Dessa forma, seus resultados não podem ser aplicados para outras populações ( baixa validade externa)
Baixa proporção de pacientes do sexo masculino
Baixa heterogeneidade étnica
Houve necessidade de modificações nos critérios de inclusão e no seguimento, devido à pandemia do COVID 19
Não utilizou nenhum critério objetivo para definição do tempo diário sentado dos pacientes e levou em consideração apenas o tempo diário sentado auto reportado por eles. Esse dado subjetivo pode ter contribuído para um viés de seleção
Autor do conteúdo
Carolina Ferrari
Referências
Públicação Oficial
https://app.doctodoc.com.br/conteudos/reducao-do-tempo-sentado-e-pressao-arterial-em-idosos
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