Progressão de Fibrilação Atrial Após Crioablação ou Terapia Medicamentosa
08 de outubro de 2024
6 minutos de leitura
Em pacientes com fibrilação atrial paroxística, o tratamento inicial com crioablação por cateter é mais eficaz do que a terapia com medicamentos antiarrítmicos na redução da progressão para fibrilação atrial persistente?
A fibrilação atrial (FA) é um distúrbio crônico e progressivo, cujas formas persistentes são associadas a risco elevado de tromboembolismo e insuficiência cardíaca. Devido a esta alta morbidade, foi realizado o estudo EARLY-AF, que mostrou que o tratamento inicial da FA paroxística e sintomática com crioablação resultou em menor recorrência de qualquer taquiarritmia atrial, com duração ≥ 30 segundos, entre os dias 91 e 365 após o início do tratamento, quando comparado ao tratamento com drogas antiarrítmicas isoladamente.
Para avaliação deste resultado em tempo de seguimento mais longo, foi realizada esta análise que objetivou avaliar o efeito da estratégia de controle inicial de ritmo sobre a progressão para FA persistente ou taquiarritmia atrial recorrente, avaliadas por um monitor implantável contínuo de ritmo, após 3 anos, em pacientes com FA paroxística não-tratada.
Ensaio clínico randomizado
Multicêntrico (18 centros no Canadá)
Aberto
303 pacientes foram selecionados, inicialmente, e randomizados na proporção de 1:1 para receberem tratamento inicial com crioablação por cateter ou terapia com medicamentos antiarrítmicos.
Seguimento de 3 anos
Pacientes com FA paroxística sintomática selecionados entre 2017 e 2018.
Idade ≥ 18 anos
Pelo menos um eletrocardiograma com documentação de episódio de FA dentro de 24 meses antes da randomização.
Candidatos à ablação, baseados no fato de que a FA era sintomática.
Uso diário de drogas antiarrítmicas classe 1 ou 3, em doses terapêuticas suficientes, de acordo com os guidelines: flecainida > 50mg (2 vezes ao dia), sotalol > 80mg (2 vezes ao dia) e propafenona > 150mg (2 vezes ao dia).
Cirurgia ou ablação atrial esquerda prévia.
FA secundária a causas reversíveis (hipertireoidismo, cirurgia cardiotorácica).
Trombo intracardíaco ativo
Estenose prévia de veia pulmonar ou stent em veia pulmonar.
Diâmetro anteroposterior atrial esquerdo > 5,5cm pelo ecocardiograma transtorácico.
Fração de ejeção ventricular esquerda < 35%
Contraindicação à anticoagulação ou materiais radiocontrastantes.
Doença renal crônica significativa (CKD – eGFR < 30µMol/L).
Crioablação
Terapia medicamentosa antiarrítmica isolada
Após a seleção, todos os pacientes eram submetidos ao implante de um monitor contínuo de ritmo em até 24 horas após o início da terapia antiarrítmica ou crioablação.
Anticoagulação oral era prescrita para pacientes com idade ≥ 65 anos ou que tivessem escore CHADSVASC ≥ 1. Além disso, em pacientes submetidos à crioablação, a anticoagulação era prescrita por um tempo mínimo de 3 meses, após o procedimento, independente do risco de acidente vascular encefálico.
Primário: ocorrência de um episódio contínuo de fibrilação atrial com duração de 7 dias ou mais, ou que durasse de 48 horas a 7 dias e exigisse cardioversão para ser interrompido.
Secundários: percentual de tempo que o paciente está em fibrilação atrial, qualidade de vida (mensurada através da ferramenta AFEQT – Atrial Fibrillation Effect on Quality-of-life Survey e da ferramenta EQ-5D – European Quality of Life-5 Dimensions), uso de serviços de saúde (visitas à emergências, hospitalizações, cardioversões ou ablações fora do protocolo do estudo) e eventos adversos graves.
287 dos 303 pacientes inicialmente randomizados (94,7%) completaram o tempo de 3 anos de follow-up.
MasculinoFeminino
Grupo Intervenção (N=146) x Grupo Controle (N=141):
Idade (anos): 58,2±11,2 x 59,6±10,7
IMC:29,9±8,9 x 29,8±9,4
Duração média da FA (anos): 1 (0-3) x 1 (0-4)
Cardioversão prévia: 37% x 41,8%
CHADSVASC médio: 1 (0-2) x 1 (0-2)
Uso de DOAC: 65,8% x 59,6%
Uso de Warfarina: 4,3% x 7,8%
Hipertensão: 37% x 37,6%
Doença isquêmica do coração: 8,2% x 4,3%
Apneia do sono: 20,5% x 21,3%
Tabagismo: 5,5% x 6,4%
Insuficiência cardíaca estável: 9,8% x 8,5%
Acidente vascular encefálico ou ataque isquêmico transitório prévio: 2,7% x 3,5%
Após 3 anos, a ocorrência de FA persistente foi significativamente menor no grupo intervenção, 1,9% no grupo intervenção e 7,4% no grupo controle (hazard ratio 0,25; 95% IC 0,09 a 0,7). O tempo médio de duração da arritmia foi de 15,8 dias (8 – 88,2 dias).
Em 3 anos, a recorrência documentada de qualquer taquiarritmia atrial durando tempo ≥ 30 segundos ocorreu significativamente em menor frequência no grupo intervenção, 56,5% grupo intervenção e 77,2% dos pacientes, no grupo controle (hazard ratio 0,51; 95% IC 0,38 a 0,67).
A diferença média entre os grupos na ferramenta AFEQT foi de 7,4±2,2 em 3 anos após o início do tratamento.
Menos pacientes do grupo intervenção foram hospitalizados em comparação com controle (5,2 versus 16,8%, risco relativo 0,31; 95% IC 0,14 a 0,66)
Em 36 meses, eventos adversos ocorreram em menor frequência no grupo intervenção em comparação ao controle (11% versus 23,5%).
O tratamento inicial com crioablação por cateter foi associado a uma menor incidência de progressão para fibrilação atrial persistente ou taquiarritmia atrial recorrente ao longo de 3 anos, em comparação com o uso inicial de medicamentos antiarrítmicos
Comparou duas estratégias seguras e validadas pelas diretrizes para o controle de ritmo, o que confere grande relevância para a prática clínica.
Utilizou um monitor de ritmo contínuo e implantável para a detecção de arritmias, garantindo uma detecção precisa e acurada dos episódios arrítmicos.
Tempo de seguimento longo, permitindo uma avaliação abrangente dos desfechos ao longo de 3 anos.
Alta retenção de participantes, com 94,7% dos pacientes permanecendo no estudo durante todo o período de 3 anos, o que fortalece a consistência e confiabilidade dos resultados.
Distribuição equilibrada de comorbidades entre os grupos, minimizando o risco de viés de seleção.
Baixa proporção de pacientes do sexo feminino e exclusão de pacientes com disfunção ventricular grave (<35%), o que limita a aplicabilidade dos resultados a esses perfis de pacientes.
Estudo aberto, o que pode introduzir viés de desempenho, influenciando os resultados.
Possibilidade de generalização limitada, já que o estudo utilizou apenas uma fonte de energia para a ablação (crioablação), não permitindo extrapolar os resultados para outras tecnologias de ablação.
Necessidade de avaliação da relação custo-efetividade da crioablação, uma vez que o estudo não aborda este aspecto, que é crucial para a aplicação prática em larga escala.
Autor do conteúdo
Carolina Ferrari
Referências
Públicação Oficial
https://app.doctodoc.com.br/conteudos/progressao-de-fibrilacao-atrial-apos-crioablacao-ou-terapia-medicamentosa
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