Residente Colaborador:

João Lucas Rangel

Pergunta:

• Um programa de exercícios funcionais é mais eficaz para reduzir a dor e melhorar a qualidade de vida em pacientes com fibromialgia, comparado a exercícios de alongamento?

Background:

• A fibromialgia é uma distúrbio da modulação de dor que denota sintomas dolorosos, fadiga e outras modalidades de comprometimento de qualidade de vida. A elevada prevalência e tendência à resposta subótima às propostas terapêuticas tornam essa patologia um desafio para o reumatologista. Múltiplas modalidades de exercícios e terapias físicas foram estudadas como opções terapêuticas, focando principalmente em fortalecimento,exercícios aeróbicos e alongamento. Portanto, o presente estudo avalia exercícios físicos funcionais como modalidade terapêutica no controle sintomático da patologia e o faz com o rigor científico de estudo randomizado controlado.

Desenho do Estudo:

• Ensaio clínico randomizado 

• Duração de 14 semanas

• Centro único (São Paulo-SP)

• Alocação dos participantes em proporção 1:1 para exercício físico funcional e alongamento.

• O cálculo do tamanho da amostra utilizou a escala visual analógica (VAS) para dor como parâmetro principal, considerando um desvio padrão de 2,0 cm, uma diferença mínima detectável de 2,0 cm, poder estatístico de 90% e nível de significância de 5%. Foi determinado um mínimo de 34 participantes por grupo (68 no total), com acréscimo de 20% para compensar perdas, resultando em 82 participantes (41 em cada grupo). 

População:

• Mulheres adultas com diagnóstico de fibromialgia sem controle sintomático otimizado e com medicações estáveis 3 meses antes da randomização.

Critérios de Inclusão:

• Idade entre 18 e 65 anos 

• Diagnóstico de fibromialgia por critério ACR 1990

• Dor avaliada por escala visual analógica entre 4 e 8 

• Medicações para fibromialgia estáveis nos últimos 3 meses 

Critérios de Exclusão:

• Doença cardiorrespiratória não controlada

• Condições que contraindicam exercícios físicos

• Quadro psiquiátrico grave

• Diabetes Mellitus não controlada

• Prática regular de exercícios prévia 

• Outras doenças reumatológicas associadas

Intervenção:

• Grupo de exercícios funcionais: treino funcional com 14 exercícios, duas séries de 10 repetições, usando faixas elásticas com resistência progressiva.

Controle:

• Grupo de alongamento: exercícios de flexibilidade para diversos grupos musculares, cada posição mantida por 30 segundos.

Desfechos:

• Primário: redução da dor medida pela escala visual analógica.

• Secundários: qualidade de vida (Fibromyalgia Impact Questionnaire e SF-36), força muscular, equilíbrio, flexibilidade e capacidade funcional.

Características dos Pacientes:

 

Masculino
Feminino

 

• Grupo intervenção (n=41) x controle (n=41)

• Idade (anos) = 47,8 x 55,0

• IMC médio (Kg/m²) = 29,1 x 28,5

• Escolaridade (anos) = 12,2 x 10,3

Resultados:

• O grupo de exercícios funcionais apresentou uma redução significativa na dor medida pela escala visual analógica (VAS) ao longo do tempo, com diferença significativa em relação ao grupo de alongamento (p=0,002). No grupo funcional, a dor diminuiu de 7,0 (±1,4) no início para 4,8 (±2,5) após 14 semanas.

• Houve uma melhoria significativa na qualidade de vida no grupo que realizou exercícios funcionais, especialmente nas dimensões relacionadas à saúde (P < 0,001).

• O grupo que realizou exercícios funcionais teve uma melhoria no domínio de saúde geral do SF-36 (P = 0,043).

• Não houve diferenças significativas entre os grupos quanto a capacidade funcional, força muscular, flexibilidade e equilíbrio 

Conclusões:

• Exercícios físicos funcionais foram superiores à exercícios baseados em alongamentos no controle de dor e parâmetros de qualidade de vida em pacientes com fibromialgia. 

• O estudo foi um ensaio clínico rigoroso, garantindo comparabilidade e minimizando vieses.

• As participantes foram randomizadas com base em características como idade e saúde, equilibrando os grupos.

• Múltiplos desfechos, como dor e qualidade de vida, foram analisados, proporcionando uma visão completa dos efeitos.

Pontos Fracos:

• O estudo incluiu apenas mulheres, o que restringe a generalização dos resultados para homens com fibromialgia.

• Não avalia a durabilidade dos efeitos da intervenção.

• A coleta de dados em um único centro limita a generalização para outras populações e contextos.