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    Pasireotide versus Tratamento Contínuo com Octreotide ou Lanreotide em Pacientes com Acromegalia Inadequadamente Controlada

    10 de outubro de 2024

    5 minutos de leitura

    Pergunta:

    • Em pacientes com acromegalia e controle bioquímico inadequado com o uso de análogos de somatostatina de primeira geração, o pasireotide de liberação prolongada é mais eficaz?

    Background:

    A acromegalia é causada por um adenoma hipofisário produtor de GH. Quando não há cura com cirurgia transesfenoidal é necessário tratamento adjuvante com ligantes de somatostatina. O pasireotide é um ligante de segunda geração com alta afinidade para receptores SSTR5. Neste contexto, o presente estudo avaliou se o uso de pasireotide é superior ao uso de ligantes de primeira geração (octreotide e lanreotide) para o controle bioquímico da acromegalia.

    Desenho do Estudo:

    • Ensaio clínico multicêntrico, realizado em 51 centros de 18 países.

    • Randomização na proporção 1:1:1 (pasireotide 40 mg, 60 mg, controle), com estratificação por valor de GH.

    • Estudo aberto (open-label).

    • O cálculo amostral previa a inclusão de 62 pacientes em cada braço, a fim de detectar uma diferença de pelo menos 20% no desfecho primário entre o grupo pasireotide e o controle, com um nível de significância (alfa) de 5% e poder estatístico de 90%.

    População:

    • Pacientes com acromegalia descontrolada, incluídos entre 2010 e 2012

    Critérios de Inclusão:

    • Idade superior a 18 anos.

    • Acromegalia inadequadamente controlada, definida por GH > 2,5 µg/L e IGF-1 > 1,3 vezes o limite superior da normalidade (LSN) para idade e sexo.

    • Uso prévio de monoterapia com análogos de somatostatina de primeira geração (octreotide 30 mg ou lanreotide 120 mg mensalmente) por pelo menos 6 meses.

    Critérios de Exclusão:

    • Uso prévio de pasireotide.

    • Uso concomitante de pegvisomant ou cabergolina.

    • Radioterapia (RxT) nos últimos 10 anos.

    • Presença de tumor grande com compressão significativa do quiasma óptico.

    Intervenção:

    • Pasireotide 40 mg via intramuscular, administrado mensalmente, OU

    • Pasireotide 60 mg via intramuscular, administrado mensalmente.

    Controle:

    • Continuação do tratamento com octreotide 30 mg ou lanreotide 120 mg, administrados mensalmente.

    Desfechos:

    • Primário: controle bioquímico, definido como GH < 2,5 µg/L e IGF-1 dentro dos valores normais para idade e sexo, em 24 semanas.

    • Secundários: proporção de pacientes com IGF-1 normal, redução de 25% no tamanho tumoral, qualidade de vida e sintomas, além da avaliação de efeitos colaterais.

    Características dos Pacientes:

    • Total de 198 pacientes incluídos

      • Pasireotide 40 mg (N=65) x Pasireotide 60 mg (N=65) x Controle (N=68)

      • Sexo feminino: 58% x 54% x 56%

      • Brancos: 82% x 80% x 82%

      • Média de idade (em anos): 46 x 45 x 46,5

      • Tempo médio desde o diagnóstico (em meses): 50 x 54,5 x 53,8

      • Cirurgia prévia: 77% x 63% x 60%

      • GH médio (μg/L): 17,6 x 12,1 x 9,5

      • IGF-1 (em relação ao LSN): 2,6 x 2,8 x 2,9

      • Presença de diabetes mellitus (DM): 72% x 60% x 69%

    Resultados:

    • O desfecho primário foi alcançado com frequência significativamente maior nos grupos tratados com pasireotide em comparação ao grupo controle (p < 0,001). Especificamente, 15% dos pacientes no grupo pasireotide 40 mg e 20% no grupo pasireotide 60 mg atingiram o controle bioquímico, enquanto nenhum paciente no grupo controle obteve esse resultado.

    • A normalização dos níveis de IGF-1 foi observada em 25% dos pacientes no grupo pasireotide 40 mg e em 26% no grupo pasireotide 60 mg, ao passo que nenhum paciente no grupo controle atingiu a normalização ao longo do estudo.

    • A redução percentual dos níveis de IGF-1 na semana 24 foi de -28% (IC 95%, -37,1 a -18,9) no grupo pasireotide 40 mg, -38,6% (IC 95%, -47,3 a -29,9) no grupo pasireotide 60 mg e -7,2% (IC 95%, -14,2 a -0,2) no grupo controle.

    • Uma redução tumoral de pelo menos 25% foi significativamente mais comum nos pacientes tratados com pasireotide, ocorrendo em 18,5% dos pacientes no grupo 40 mg e em 10,8% no grupo 60 mg, em comparação a apenas 1,5% dos pacientes no grupo controle.

    • Os grupos tratados com pasireotide também apresentaram uma melhora mais pronunciada dos sintomas e da qualidade de vida.

    • Os efeitos colaterais mais comuns foram hiperglicemia, diabetes e diarreia, sendo mais frequentes nos grupos pasireotide. A hiperglicemia, por exemplo, foi 30% mais comum nesses grupos em comparação ao grupo controle, e a média de HbA1c aumentou em quase 1% nos grupos tratados com pasireotide ao final do estudo.

    Conclusões:

    • O tratamento com pasireotide foi mais eficaz do que o tratamento contínuo com análogos de somatostatina de primeira geração na obtenção de controle bioquímico em pacientes com acromegalia não-controlada.

    Pontos Fortes:

    • Estudo multicêntrico, conferindo maior validade externa aos resultados.

    • Grande número de pacientes, considerando que a acromegalia é uma doença rara.

    • A randomização foi realizada de forma estratificada com base nos níveis de GH, o que ajudou a equilibrar os grupos em termos de severidade da doença, reduzindo o risco de viés de seleção.

    • Além do desfecho primário de controle bioquímico, o estudo avaliou desfechos secundários importantes, como a redução do volume tumoral e a qualidade de vida, proporcionando uma visão abrangente dos efeitos do tratamento.

    Pontos Fracos:

    • Manter os pacientes no grupo controle com análogos de somatostatina de primeira geração, que já não proporcionavam controle bioquímico adequado, é uma abordagem controversa. Na prática clínica, esses pacientes provavelmente receberiam um segundo medicamento em associação. Os autores justificaram essa abordagem para permitir uma comparação direta com o pasireotide, mas o fato de nenhum paciente do grupo controle ter alcançado controle bioquímico era previsível.

    • A falta de cegamento pode introduzir viés de desempenho e detecção, já que tanto os pesquisadores e quantos os pacientes estavam cientes do tratamento recebido, o que pode influenciar a avaliação dos desfechos subjetivos, como qualidade de vida.

    • O estudo observou uma alta incidência de efeitos colaterais, como hiperglicemia e diabetes, especialmente nos grupos tratados com pasireotide. Isso levanta preocupações sobre a segurança a longo prazo do medicamento.


    Autor do conteúdo

    Matheo Stumpf


    Referências

    Públicação Oficial

    https://app.doctodoc.com.br/conteudos/pasireotide-versus-tratamento-continuo-com-octreotide-ou-lanreotide-em-pacientes-com-acromegalia-inadequadamente-controlada


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