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    Otimização da Oxigenação Cerebral em Traumatismo Cerebral Grave

    05 de setembro de 2024

    6 minutos de leitura

    Pergunta:

    • O monitoramento de PIC e PbtO2 reduz a hipóxia cerebral em pacientes com traumatismo cerebral agudo grave em comparação à monitorização apenas com PIC?

    Background:

    • O tratamento da lesão cerebral traumática aguda grave visa prevenir lesões cerebrais secundárias, focando nas lesões com efeito de massa e no aumento da pressão intracraniana (PIC). Embora a monitorização e tratamento da elevação da PIC sejam amplamente utilizados, a eficácia dessa abordagem não foi validada por ensaios clínicos randomizados, e a elevação da PIC pode ser um indicador tardio e pouco sensível de lesão cerebral secundária. Assim, a monitorização de outras variáveis, como a oxigenação do tecido cerebral (PbtO2), que tem sido associada a desfechos ruins pós-TCE, poderia ser mais eficaz. Portanto, o estudo BOOST-II avaliou a eficiência de um protocolo de manejo baseado em PbtO2 e PIC e seu impacto na hipóxia tecidual.

    Desenho do Estudo:

    • Ensaio clínico de fase 2, randomizado e controlado

    • Multicêntrico, realizado em 10 UTIs nos Estados Unidos

    • Estudo conduzido em centros com experiência no uso de PbtO2

    • Randomização em blocos, estratificada com base no escore de Glasgow (ECG 3-5 ou escore motor 1-2 com IOT versus ECG 6-8 ou escore motor 3-5 com IOT)

    • Todos os pacientes receberam monitores de PIC e PbtO2; no grupo randomizado para monitorização da PIC, o monitor de PbtO2 foi bloqueado, com os valores acessíveis apenas aos coordenadores do estudo

    População:

    • Pacientes com TCE grave e indicação de monitorização de PIC

    Critérios de Inclusão:

    • Idade ≥ 14 anos

    • Trauma craniano grave (ECG 3 a 8, escore motor ≤ 5)

    • Trauma não penetrante

    • Randomização e monitorização de PIC iniciadas em até 12 horas do trauma

    • Pacientes admitidos com ECG superior a 8, que apresentaram deterioração neurológica dentro de 48 horas após o trauma devido a causa intracraniana presumível e que atenderam aos critérios para monitorização de PIC, poderiam ser incluídos se a randomização ocorresse em até 12 horas da deterioração clínica.

    Critérios de Exclusão:

    • Exame neurológico sugestivo de morte cerebral iminente

    • Condições secundárias que poderiam comprometer o tratamento

    • Contraindicação à colocação de monitor intracraniano

    • Gestantes

    • Monitorização de PbtO2 antes da randomização

    • Condições em que a oxigenação pudesse influenciar os resultados (Ex.: trauma torácico grave, hipóxia, hipotensão refratária)

    Intervenção:

    • Monitorização com PIC e PbtO2

    • Estratégia de intervenção acionada se PIC > 20 mmHg ou PbtO2 < 20 mmHg ou ambos por mais de 5 minutos 

    Controle:

    • Monitorização apenas com PIC

    • Estratégia de intervenção acionada se PIC > 20 mmHg por mais de 5 minutos

    Outros Tratamentos:

    • Todos os pacientes foram tratados conforme diretrizes adaptadas da Brain Trauma Foundation (BTF) para lesão cerebral traumática grave, com os seguintes alvos: euvolemia, PPC de 50 a 70 mmHg, PaCO2 de 35 a 45 mmHg, saturação arterial de O2 > 90%, natremia ≥ 135 mEq/L, glicemia entre 60 e 150 mg/dL, normotermia, coagulograma normal, e cirurgia oportuna para evacuação de lesão de massa intracraniana.

    • Um algoritmo de tratamento hierárquico foi seguido: tratamentos de primeira linha eram iniciados em 15 minutos; se ineficazes após 60 minutos, opções de segunda linha eram implementadas; tratamentos de terceira linha eram opcionais, a critério do médico assistente.

    Desfechos:

    • Primário: eficácia fisiológica do tratamento em reduzir hipóxia cerebral,  avaliada pela duração e profundidade dos episódios de PbtO2 abaixo de 20 mmHg. 

    • Secundários: eventos adversos, desfecho neurológico funcional em 6 meses pela escala de desfecho de Glasgow estendida (GOS-E) e Disability Rating Scale (DRS)

    Características dos Pacientes:

     

    Masculino (79% Masculino)Feminino (21% Feminino)
    Masculino
    Feminino

     

      • PIC (n = 62) x PIC + PbtO2 (n = 57)

      • Idade: 36,2 (±17,5) x 37,8 (±17,2)

      • Sexo masculino: 74% x 84%

      • Escore motor da ECG: 3,7 (±1,5) x 3,6 (1,5)

      • Craniectomia: 35% x 24%

    Resultados:

    • O estudo foi interrompido precocemente após demonstrar diferença significativa do desfecho primário entre os grupos.

    • Houve maior eficácia significativa na redução de hipóxia cerebral no grupo  PCI + PbtO2 em comparação ao grupo PIC isolado. Proporção de tempo de PbtO2 menor que 20 mmHg de 0,15 x 0,44; p menor que 0,001, respectivamente. Profundidade dos episódios de hipóxia de 1,0 x 3,6; p menor que 0,001.

    • Não houve diferença significativa na proporção de tempo com PbtO2 > 20 mmHg entre os grupos: 0,15 x 0,15; p = 0,11

    • Não houve diferença significativa na incidência de eventos adversos graves entre os grupos.

    • Não houve diferença estatisticamente significativa no desfecho neurológico funcional em 6 meses avaliado pelo GOS-E e pelo DRS.

    Conclusões:

    • O tratamento de lesão traumática cerebral aguda grave com a monitorização de PIC e PbtO2, reduziu hipóxia cerebral em comparação ao tratamento guiado apenas por PIC. 

    Pontos Fortes:

    • Ensaio clínico randomizado e multicêntrico, o que aumenta a validade externa dos dados obtidos.

    • Protocolo do estudo bem elaborado para avaliar o desfecho primário. A utilização de monitoramento contínuo de PbtO2 forneceu dados detalhados e em tempo real sobre a oxigenação cerebral.

    • O protocolo de tratamento escalonado permitiu uma abordagem estruturada, garantindo que as intervenções fossem implementadas de maneira organizada e consistente.

    Pontos Fracos:

    • Ensaio não totalmente cegado, o que pode introduzir viés de performance.

    • Ensaio interrompido precocemente, reduzindo o poder estatístico do estudo.

    • Ensaio de fase II com tamanho de amostra reduzido, limitando a possibilidade de conclusões definitivas sobre a eficácia das intervenções estudadas.


    Autor do conteúdo

    Guilherme Lemos


    Referências

    Públicação Oficial

    https://app.doctodoc.com.br/conteudos/otimizacao-da-oxigenacao-cerebral-em-traumatismo-cerebral-grave


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