Oscilação de Alta Frequência em Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo
11 de junho de 2024
7 minutos de leitura
A ventilação mecânica oscilatória de alta frequência pode reduzir a mortalidade em pacientes com ARDS?
A Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo (ARDS) é uma inflamação pulmonar difusa aguda grave com alta mortalidade. Entre os sobreviventes muitos tem limitações funcionais por um período prolongado. O suporte ventilatório na ARDS é importante, mas pode piorar a lesão pulmonar e contribuir para o aumento da mortalidade. A ventilação mecânica oscilatória de alta frequência (HFOV) é uma estratégia ventilatória que mantém a via aérea insuflada com uma alta pressão média alveolar para manter a oxigenação adequada e, para eliminar CO2, entrega baixos volumes correntes a uma frequência muito elevada, entre 1 a 2 mL/Kg. O objetivo é diminuir lesões pulmonares que potencialmente podem ocorrer com a abertura e fechamento cíclico de unidades alveolares na ventilação mecânica convencional. Entretanto, as evidências mostrando benefício da HFOV são escassas. Dessa forma o estudo OSCAR foi realizado para avaliar a eficácia da HFOV em pacientes com ARDS.
Ensaio clínico randomizado
Multicêntrico, envolvendo 29 centros na Inglaterra, Escócia e País de Gales, sendo 12 hospitais universitários, 4 hospitais afiliados a universidades e 13 hospitais gerais.
Randomização na proporção 1:1 em blocos permutáveis e estratificado de acordo com sexo, centro, PaO2/FiO2 e Idade
Considerando uma mortalidade no grupo controle de 45%, foi estimada uma amostra de 503 pacientes em cada grupo para um poder estatístico de 80% de detectar uma redução da mortalidade de 9% com um alfa de 0,05. Em uma análise interina planejada, o tamanho da amostra foi reduzido para 401 pacientes para cada grupo baseado em análises de dados de mortalidade do grupo controle.
Pacientes com síndrome do desconforto respiratório agudo em ventilação mecânica incluídos entre 2007 e 2012
Idade ≥ 16 anos
Peso ≥ 35 Kg
Pacientes em ventilação mecânica com relação PaO2/FiO2 ≤ 200 e PEEP ≥ 5 cm.H2O
Presença de opacidades bilaterais à radiografia de tórax
Ausência de evidências de aumento de pressão atrial esquerda
Expectativa de permanecer pelo menos 48h em ventilação mecânica
Estar em ventilação mecânica por menos de 7 dias no momento da randomização
Doença de via aérea moderada ou grave, com expectativa de limitação de fluxo aéreo
Pacientes submetidos a biopsia pulmonar ou ressecção pulmonar durante a internação hospitalar
Pacientes que por qualquer condição clínica se acredite que a HFOV seja danosa.
Ventilação oscilatória de alta frequência
Uso do ventilador Novalung R100. Esse ventilador gera uma relação I:E fixa de 1:1
Ajuste inicial da ventilação mecânica com uma frequência de 10 Hz, pressão média de via aérea em 5 cmH2O abaixo do platô, fluxo de 20L/min, volume corrente de 100 mL e FiO2 100%
Para ajuste de PaCO2, inicialmente o volume cíclico era ajustado objetivando um pH arterial superior a 7,25. Se não o objetivo não fosse atingido, a frequência de oscilação era reduzida em 1 Hz. A frequência mínima permitida era 5 Hz. Se o pH alvo não fosse atingido, o médico de plantão sugeria outras medidas para controle de PaCO2.
O alvo de PaO2 era de 60 a 75 mmHg. Inicialmente a hipóxia era tratada com o aumento da pressão média das vias aéreas e em seguida ajustando o FiO2.
Se o paciente atingisse uma pressão média de via aérea de 24 cm.H2O com FiO2 de 40% ou menos e uma PaO2 de 60 mmHg ou mais por um período de pelo menos 12h, ele era transferido para a ventilação mecânica em modo pressão controlada para desmame de ventilação mecânica.
Se necessário o paciente poderia retornar para HFOV em até 2 dias após o início do desmame
Ventilação mecânica convencional
Os pacientes do controle eram tratados conforme as práticas locais de cada centro.
Era recomendado a utilização de ventilação controlada por pressão com 6 a 8 mL/Kg de peso corporal predito e usar os ajustes de PEEP para FiO2 utilizadas nos estudos do ARDS Network.
Não houve descrição de outros tratamentos específicos no artigo.
Outros tratamentos eram realizados pela equipe médica assistente de acordo com a necessidade clínica de cada paciente.
Primário: mortalidade em 30 dias
Secundários: taxa de mortalidade na primeira alta da UTI; taxa de mortalidade na primeira alta hospitalar; dias livres de ventilação mecânica, sedativos, e bloqueadores neuromusculares
MasculinoFeminino
Alta Frequência (N= 397) x Controle (N= 398)
Média de idade: 55,9 ± 16,2 x 54,9 ± 18,8
Sexo Masculino: 60,2% x 64,3%
APACHE II médio: 21,7 ± 6,1 x 21,8 ± 6,0
Probabilidade de óbito pelo APACHE II: 0,43 ± 0,19 x 0,44 ± 0,19
Relação PaO2/FiO2 média - mmHg: 113 ± 38 x 113 ± 37
Volume Corrente/Kg de peso predito: 8,3 ± 3,5 x 18,7 ± 3,5
Volume/minuto médio: 11,3 ± 3,1 x 11,2 ± 3,3
PEEP média: 11,3 ± 3,3 x 11,4 ± 3,5
Tempo de ventilação mecânica antes da randomização - dias: 2,1 ± 2,1 x 2,2 ± 2,3
ARDS de causa pulmonar: 76,6% x 75,9%
Não houve diferença na mortalidade em 30 dias entre o grupo alta frequência e o grupo controle, sendo 41,7% vs 41,1%, respectivamente (DA 0,6; IC95% -6,1 a 7,5)
Não houve diferença na mortalidade na alta hospitalar entre os grupos, sendo de 50,1% vs 48,4%, p=0,62.
Não houve diferença no tempo de internação em UTI entre os grupos: 17,6 vs 16,1 dias, p=0,18
Não houve diferença no tempo de internação hospitalar entre os grupos: 33,9 vs 33,1 dias; p=0,79
Não houve diferença no tempo de utilização de sedativos entre os grupos – dias: 9,4±7,2 vs 8,5±6,9; p=0,07.
O tempo de uso de bloqueadores neuromusculares foi maior no grupo alta frequência, sendo de 2,5 vs 2,0 dias; p=0,02
Não houve diferença nos dias livres de ventilação mecânica entre os grupos: 17,1±8,6 x 17,6±8,8 p=0,42
Não houve diferença no tempo de ventilação mecânica entre os grupos - dias: 14,9±13,3 x 14,1±13,4 p=0,41
Em pacientes adultos com síndrome do desconforto respiratório agudo, não há diferença na mortalidade entre a estratégia de ventilação mecânica oscilatória de alta frequência e a estratégia de ventilação mecânica convencional
Ensaio clínico randomizado, multicêntrico, grande, aumentando assim a validade externa dos dados
Desfecho primário relevante
Protocolo de fácil execução e baixa taxa de crossover
Foi utilizado o mesmo ventilador mecânico (marca e modelo) para todos os pacientes do grupo HFOV, o que uniformiza a intervenção nesse grupo, reduzindo variações em ajustes que podem ocorrer entre modelos e fabricantes diferentes de ventiladores mecânicos, reduzindo assim o viés de performance
Poucas unidades envolvidas no estudo tinham experiência com a ventilação HFOV. A inclusão de unidades com pouca experiência e com muita experiência nessa modalidade de ventilação mecânica no mesmo estudo pode criar viés de performance.
O tamanho da amostra foi reduzido após uma análise interina, mantendo o mesmo poder estatístico baseado na mortalidade do grupo controle. A alteração no tamanho da amostra após o início do estudo pode indicar um mal planejamento e dimensionamento inicial do estudo.
A taxa de recrutamento foi muito baixa, sendo uma média de 0,82 pacientes por centro a cada mês. Isso pode significar viés de seleção.
Autor do conteúdo
Guilherme Lemos
Referências
Públicação Oficial
https://app.doctodoc.com.br/conteudos/oscilacao-de-alta-frequencia-em-sindrome-do-desconforto-respiratorio-agudo
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