Oligonucleotídeo Antisense Tofersen para ELA com Mutação SOD1
05 de dezembro de 2024
8 minutos de leitura
A terapia com Tofersen reduz a progressão de perda funcional em pacientes com ELA ligada ao gene SOD-1 comparado ao placebo?
A Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) é uma doença neuromuscular progressiva, caracterizada pela degeneração dos neurônios motores superiores e inferiores, resultando em falência muscular e óbito, geralmente dentro de 3 a 5 anos após o diagnóstico. Embora a maioria dos casos seja esporádica, cerca de 2% das ocorrências de ELA estão associadas a mutações no gene da superóxido dismutase (SOD1). Nesses casos, acredita-se que a degeneração neuronal seja provocada por um ganho de função tóxico da proteína SOD1 mutante. O Tofersen é um oligonucleotídeo antisense administrado por via intratecal, que atua reduzindo a produção da proteína SOD1, com o objetivo de mitigar os efeitos patológicos da proteína tóxica. Portanto, este estudo avaliou a eficácia e segurança do Tofersen em reduzir a progressão clínica e biomarcadores neurodegenerativos em pacientes com ELA associada a mutações no gene SOD1.
Ensaio clínico randomizado de fase 3
Multicêntrico (32 centros em 10 países)
Duplo cego
Controlado por placebo
Randomização na proporção 2:1 (controle x placebo) com balanceamento entre os grupos em relação ao uso de riluzol e/ou edavarone, assim como pacientes que preenchiam critérios para doença de rápida progressão.
Os critérios para rápida progressão foram definidos com base na variante do gene SOD1 e na curva estimada de progressão desde o início dos sintomas, medida pela escala de funcionalidade ALSFRS-R. Considerando a possível variabilidade entre diferentes variantes do gene SOD1 e a progressão não-linear da escala ALSFRS-R, análises de subgrupos foram realizadas com base na concentração de neurofilamento de cadeia leve no plasma no início do estudo.
Planejado 60 pacientes que preenchiam critérios para rápida progressão para fornecer ao estudo poder 84% para detectar uma diferença média no ALSFRS-R entre grupos (-4,8 vs. -24,7), taxas de sobrevivência de 90% (Tofersen) e 82% (placebo), e nível de significância bicaudal de 0,05.
Duração de 28 semanas com extensão aberta opcional.
Pacientes adultos com diagnóstico confirmado de ELA associada à mutação no gene SOD1, incluídos entre 2019 e 2021.
Adultos (18 anos ou mais) com fraqueza muscular atribuída a ELA com mutação do SOD1 confirmada.
Capacidade Vital Forçada (CVF) maior ou igual a 50% da predita.
Se em uso de riluzol, em dose estável por mais de 30 dias.
Sorologias para HIV ou HCV positivas.
Infecção atual por Hepatite B.
História de comprometimento cognitivo, demência ou doença psiquiátrica instável.
Traqueostomia.
Gestantes ou lactantes.
Paciente inscrito em outro ensaio clínico.
Uso nos últimos 30 dias de diacetyl-bis(N4-methylthiosemicarbazone) ou pirimetamina.
Uso de edaravona nas últimas 30 horas antes do screening do estudo.
Etilismo ou uso de drogas de abudo nos últimos 6 meses.
Implantes vasculares.
Infecções sistêmicas que necessitem de terapia antimicrobiana ou risco aumentado para sangramentos.
Tofersen 100mg em injeção intratecal
Três doses quinzenais nas primeiras 6 semanas.
Cinco doses mensais subsequentes.
Placebo administrado via injeção intratecal, com o mesmo esquema de administração da intervenção.
Primário: diferença do escore total ALSFRS-R na semana 28 em relação ao basal, no subgrupo de pacientes com progressão rápida de doença.
A ALSFRS-R consiste em 12 itens distribuídos em quatro subdomínios de função (bulbar, motricidade fina, motricidade grossa e respiração), com pontuações totais variando de 0 a 48, sendo que pontuações mais altas indicam melhor função.
Secundários: variação na concentração total de proteína SOD1 no líquor (LCR) em relação ao basal, a concentração de cadeias leves de neurofilamento no plasma, a porcentagem da Capacidade Vital Lenta predita (os volumes foram padronizados para idade, sexo e altura), o score de dinamometria manual (média dos escores z de 16 grupos musculares nos braços e pernas, com valores mais altos indicando maior força), o tempo até a morte ou ventilação permanente (≥22 horas de ventilação mecânica por dia durante ≥21 dias consecutivos), o tempo até a morte e segurança.
Segurança: incidência de eventos adversos relacionados ao tratamento, incluindo dor associada à punção lombar, cefaleia, pleocitose no líquido cefalorraquidiano, níveis elevados de proteínas no LCR e eventos neurológicos graves
Rápida ProgressãoLenta Progressão
Grupo Rápida Progressão:
Tofersen (N=39) x Placebo (N=21)
Idade (anos): 47,3 x 54,0
Porcentagem masculina: 56% x 52%
IMC: 26,7% x 28,0%
Uso de Riluzol: 64,0% x 62,0%
Uso de Edaravona: 5% x 1%
Mediana do tempo desde início de sintomas (meses): 8,3 x 8,3
Média da concentração neurofilamento de cadeia leve (pg/mL): 146,2 x 127,3
Média da inclinação da curva da ALSFRS-R: -1,74 x -1,81
ALSFRS-R total: 36,0 x 35,4
Média da porcentagem da CVF predita: 80,3 x 83,7
Grupo Total:
Tofersen (N=72) x Placebo (N=36)
Idade (anos): 48,1 x 51,2
Porcentagem masculina: 60% x 53%
IMC: 26,4% x 27,4%
Uso de Riluzol: 62,0% x 61,0%
Uso de Edaravona: 8% x 8%
Mediana do tempo desde início de sintomas (meses): 11,4 x 14,6
Média da concentração neurofilamento de cadeia leve (pg/mL): 100,4 x 89,7
Média da inclinação da curva da ALSFRS-R: -1,0 x -0,7
ALSFRS-R total: 36,9 x 37,4
Média da porcentagem da CVF predita: 82,1 x 85,1
Não houve diferença estatística no desfecho primário, ou seja, no subgrupo dos paciente de rápida progressão, a mudança na pontuação total da ALSFRS-R do basal para a semana 28 foi de –6,98 pontos no grupo Tofersen e –8,14 pontos no grupo placebo.
Como não houve diferença estatística para o desfecho primário o valor p não foi calculado para os desfechos secundários na análise do subgrupo de paciente de rápida progressão e todos os resultados foram considerados não significativos estatisticamente.
No subgrupo de progressão rápida:
concentração total da proteína SOD1 no líquor (LCR) com diferença significativa entre os grupos - redução em 29% (tofersen) / aumento de 16% (placebo). (IC 95%: 0,49 a 0,78).
concentração média de cadeias leves de neurofilamento no plasma com diferença significativa entre os grupos - redução em 60% (tofersen) / aumento de 20% (placebo). (IC 95%: 0,25 a 0,45).
capacidade vital lenta predita sem diferença significativa - redução em 14,3 pontos (tofersen) / redução 22,2 pontos (placebo).
escore de dinamometria manual sem diferença significativa - redução 0,34 (tofersen) / redução 0,37 (placebo)
No subgrupo de progressão lenta, a concentração total de proteína SOD1 no LCR foi reduzida em 40% no grupo tofersen, em comparação com uma redução de 19% no grupo placebo.
A mediana do tempo até a morte ou ventilação permanente não pôde ser estimado devido ao pequeno número de eventos; nenhuma diferença foi observada na porcentagem de participantes que faleceram ou necessitaram de ventilação permanente no grupo tofersen (10%) ou no grupo placebo (10%) .
Quatro participantes (7%) recebendo tofersen no ensaio duplo cego e três após a extensão open label apresentaram eventos neurológicos graves (incluindo mielites, meningite química ou asséptica, radiculopatia lombar, aumento da pressão intracraniana ou papiledema.
No grupo Tofersen, 58% dos pacientes apresentaram ao menos uma punção de LCR com contagem de ao menos 10 células por milímetro cúbico e 40% apresentaram hiperproteinorraquia.
A terapia com Tofersen não reduziu significativamente a progressão de perda funcional, medida pelo escore ALSFRS-R em 28 semanas, em pacientes com ELA associada ao gene SOD1, quando comparado ao placebo.
Desfecho primário focado em ganho funcional, haja vista história natural da doença com rápida progressão de comprometimento motor grave.
Estratégia para garantir balanceamento entre os grupos randomizados.
Como doença bastante heterogênea, foi realizada uma divisão em grupos de lenta e rápida progressão.
Proposta de continuidade do estudo, mesmo que em open label, podendo gerar informações importantes a longo prazo
A variante do gene SOD1 e a curva estimada de progressão da escala de funcionalidade ALSFRS-R foram usadas como critério para doença de progressão rápida mas não são bons parâmetros. O uso de concentração de neurofilamento de cadeia leve no plasma, cada vez mais disponível clinicamente, pode ser mais útil em estudos futuros pela associação já demonstrada com o prognóstico da doença.
Dada a heterogeneidade da doença, o tempo do ensaio clínico não foi suficiente para avaliar possíveis diferenças estatísticas entre os grupos. Isso fica mais claro quando observamos a baixa taxa de mortalidade mesmo no grupo placebo.
Efeitos adversos graves foram descritos numa porcentagem significativa dos pacientes. A avaliação mais minuciosa dos possíveis mecanismos e a abordagem dos quadros não foram descritas.
Autor do conteúdo
Fernando Falcão
Referências
Públicação Oficial
https://app.doctodoc.com.br/conteudos/oligonucleotideo-antisense-tofersen-para-ela-com-mutacao-sod1
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