Nefrite e Inibidores de SGLT-2 em Pacientes com Lúpus Eritematoso Sistêmico
25 de julho de 2024
6 minutos de leitura
Isabella Silvestre Ignarro
● O uso dos inibidores do cotransportador de sódio-glicose-2 tem impacto no desenvolvimento e progressão de nefrite lúpica, eventos cardíacos, renais e morte em pacientes com lúpus eritematoso sistêmico e diabetes tipo 2?
● A nefrite lúpica é a complicação mais comum e grave do lúpus eritematoso sistêmico (LES), ocorrendo em 40% a 60% dos pacientes. Destes, 5 a 30% progridem para doença renal terminal em 10 anos. Tanto o LES, quanto o diabetes mellitus tipo 2 (DM2) estão associados a piores desfechos cardiovasculares e renais. Os inibidores do cotransportador de sódio-glicose-2 (SGLT2i) demonstraram efeitos cardio e nefroprotetores em meta-análises recentes, que não incluíram pacientes com nefrite lúpica. Dessa forma, este estudo tem como objetivo investigar se o uso de SGLT2i está associado ao início e progressão da nefrite lúpica e outros desfechos renais e cardíacos, em pacientes com lúpus e diabetes tipo 2.
Estudo observacional de coorte, retrospectivo e multicêntrico (59 centros de saúde americanos)
Não randomizado: pacientes selecionados de forma consecutiva, com base em critérios de inclusão e exclusão
Pareamento por escore de propensão: escore calculado com base em variáveis como idade, sexo, comorbidades, e severidade do diabetes. Pareamento de pacientes dos grupos de uso e não uso de SGLT2i com escores semelhantes
Dados retirados de prontuário eletrônico (TriNetX) com mais de mais de 250 milhões de pacientes anônimos
Pacientes com lúpus eritematoso sistêmico e diabetes tipo 2, recrutados entre 2015 até 2022
Pacientes com LES e DM2 não insulino-dependentes
Idade maior que 20 anos
Idade < 20 anos
Diabetes tipo 1
Diabetes insulino-dependente
Presença de desfechos de interesse especificados antes da data índice (nefrite lúpica, diálise, transplantados renais ou morte)
Inibidor de SGLT-2 prescrito pelo menos uma vez durante o período do estudo
Ausência de prescrição de inibidor de SGLT-2
Primário: comparação do risco relativo em 5 anos de: nefrite lúpica, diálise, transplante renal, insuficiência cardíaca e mortalidade por todas as causas no grupo com uso de inibidor de SGLT-2 em relação ao grupo sem uso de inibidor de SGLT-2.
Secundários: sub-análises segundo o tratamento inicial do DM, gravidade do DM baseado na hemoglobina glicada, creatinina sérica, taxa de filtração glomerular, e a presença ou ausência de doença renal crônica ou complicações relacionadas. Análises de sensibilidade: análise com sulfonilureia como comparador ativo e inibidores DPP4 como comparador ativo. Comparação entre pacientes com pelo menos duas prescrições com SGLT2i com aqueles sem prescrição.
MasculinoFeminino
Brancos 55,8%, afro-americanos 25,5%, asiáticos 2,6%, outros 4,4%, desconhecido 11,6%.
Idade média em anos (DP): 56,8 (11,6) em ambos os grupos
Com SGLT2i (N=1.775) X Sem SGLT2i (N=1.775)
Medicações Utilizadas
Insulinas e análogos: 28,3% x 22,1%
Metformina: 35,9% x 24,5%
Análogos do GLP-1: 16,4% x 4,5%
Sulfonilureias: 13,9% x 7,2%
Inibidor de DPP-4: 11,7 X 4,8%
Inibidores da ECA: 18,5% x 15,3%
Corticosteroides sistêmico: 40,1% x 40,7%
Imunossupressores: 13,6% x 12,3%
Hidroxicloroquina: 17,5% x 18,3%
Hemoglobina A1c <7%: 19,4% x 29,6%
Nível de creatinina sérica, plasma ou sangue ≥1,5 mg/dL: 4,3% x 6,6%
Taxa de filtração glomerular estimada (eGFR) mL/min/1,73m²:
<30: 4,7% x 4%
≥90: 29,6% x 28,8%
Diabetes sem complicações: 55,1% x 54,7%
Doenças hipertensivas: 52%x 54,3%
Usuários de SGLT2i tiveram risco significativamente menor de nefrite lúpica, diálise, transplante renal, insuficiência cardíaca e mortalidade por todas as causas em 5 anos, quando comparados com não usuários de SGLT2i.
Nefrite lúpica
SGLT2i 58 (3.27%) x Não SGTL2i 99 (5.58%) HR 0,55 (IC 95% 0,40-0,77)
Diálise
SGLT2i 19 (1,07%) x Não SGLT2i 64 (3,60%) HR 0,29 (IC 95% 0,17-0,48)
Transplante renal
SGLT2i 10 (0,56%) x Não SGLT2i 14 (0,79%) HR 0,14 (IC 95% 0,03-0,62)
Insuficiência cardíaca
SGLT2i 174 (9,80%) x Não SGLT2i 255 (14,37%) HR 0,65 (IC 95% 0,53-0,78)
Mortalidade por todas as causas
SGLT2i 58 (3,27%) x Não SGLT2i 163 (9,18%) HR 0,35 (IC 95% 0,26-0,47)
Os resultados foram consistentes nas análises levando em consideração diferentes variáveis e tempos de seguimento. O efeito também foi consistente quando foram excluídos os pacientes com risco concorrente por morte.
Na análise de subgrupos, os resultados permaneceram relativamente inalterados segundo nível de hemoglobina glicada, creatinina, taxa de filtração glomerular, presença de doença renal crônica ou complicações renais, principalmente no que refere a desfechos de diálise, insuficiência cardíaca e morte por todas as causas.
Nas análises de sensibilidade, quando comparados com usuários de sulfonilureias, os pacientes em uso de SGLT2i tiveram menor risco de diálise e mortalidade por todas as causas. Quando comparados com inibidores de DPP4, os usuários de SGLT2i apresentaram menor risco de mortalidade.
Os pacientes com pelo menos duas prescrições de SGLT2i apresentaram menor risco de nefrite lúpica, diálise, transplante renal, insuficiência cardíaca e morte por todas as causas, em comparação com não usuários de SGLT2i.
O uso de inibidor de SGLT-2 em pacientes com lúpus e diabetes tipo 2 foi associado a um risco significativamente reduzido de nefrite lúpica, diálise, transplante renal, insuficiência cardíaca e mortalidade por todas as causas em comparação com o não uso.
Estudo multicêntrico, aumentando a validade externa.
Tamanho da amostra adequado, proporcionando poder estatístico robusto.
Tempo de seguimento suficiente para avaliar desfechos a longo prazo.
Uso de pareamento por escore de propensão, equilibrando os grupos em relação a fatores de confusão conhecidos.
Estudo não randomizado, o que pode introduzir viés de seleção.
Desenho retrospectivo, suscetível a viés de informação e confusão.
Dependência de dados de prontuário eletrônico, com potencial para registros incompletos ou imprecisos.
Diagnóstico de nefrite lúpica sem confirmação por biópsia, comprometendo a precisão.
População predominantemente americana e branca, limitando a generalização dos resultados.
Autor do conteúdo
CARLOS ECHAURI
Referências
Públicação Oficial
https://app.doctodoc.com.br/conteudos/nefrite-e-inibidores-de-sglt-2-em-pacientes-com-lupus-eritematoso-sistemico
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