Morfina Atrasa e Atenua a Exposição e Ação do Ticagrelor em Pacientes com Infarto Agudo do Miocárdio
09 de maio de 2024
5 minutos de leitura
A morfina intravenosa altera a farmacocinética e farmacodinâmica do ticagrelor em pacientes com infarto agudo do miocárdio?
Dados de estudos disponíveis atualmente indicam uma interação droga-droga entre a morfina e os inibidores do receptor P2Y12 orais, quando administrados juntos. Podemos destacar os achados do estudo ATLANTIC que revelaram que a administração, dentro da ambulância, de ticagrelor em pacientes com IAM com supra de ST transferidos para angioplastia primária melhorou a reperfusão coronariana apenas naqueles pacientes que não receberam morfina. Dessa forma, foi realizado o estudo IMPRESSION com o objetivo de avaliar a influência do uso de morfina intravenosa sobre a farmacocinética e farmacodinâmica do ticagrelor e seu metabólito ativo em pacientes com infarto agudo do miocárdio (IAM) quando comparado ao placebo
Ensaio clínico randomizado de fase 2
Unicêntrico
Duplo cego
Assumindo um valor de alfa bilateral de 0,05 foi calculado que a seleção de 68 pacientes forneceria um poder de 80% de demonstrar uma diferença significativa na área sob a curva concentração plasmática – tempo (AUC) para o ticagrelor entre os braços do estudo
Pacientes com infarto agudo do miocárdio selecionados entre 2014 e 2015
Idade ≥ 18 anos e até 80 anos
Diagnóstico de IAM com supra (IAMCSST) ou IAM sem supra de ST (IAMSST)
Planos para angiografia (com ou sem angioplastia)
Admissão entre 06h e 18h
Dor precordial descrita pelo paciente como “insuportável”
Solicitação do paciente por analgésicos
Administração prévia de morfina, durante o IAM atual
Tratamento com qualquer agente inibidor do receptor P2Y12 dentro de 14 dias antes da seleção para o estudo
Tratamento atual com anticoagulação oral ou terapia crônica com heparina de baixo peso molecular
Sangramento ativo ou história de distúrbios de coagulação
Killip classe III ou IV ou insuficiência respiratória
Morfina intravenosa 5 mg
Placebo intravenoso
Após confirmação do diagnóstico de IAM, todos os pacientes recebiam ataque de aspirina 300mg e, então, eram avaliados quanto à elegibilidade para o estudo
Ambos os grupos recebiam dose de ataque de 180 mg de Ticagrelor
Subsequentemente, dentro de 15 minutos após a administração do ticagrelor, todos os pacientes eram submetidos à cateterismo seguido de angioplastia, se necessário
Primário: área sob a curva (AUC) da concentração plasmática do ticagrelor durante as primeiras 12h após a administração da dose de ataque
Secundários: AUC para o metabólito ativo do ticagrelor durante as primeiras 12h após a administração da dose de ataque, AUC para o ticagrelor e seu metabólito ativo durante as primeiras 6h após a administração da dose de ataque, concentração máxima do ticagrelor e seu metabólito ativo por 12 h, tempo até a concentração máxima do ticagrelor e seu metabólito ativo, índice de reatividade plaquetária, área sob a curva de agregação), unidades de reação P2Y12, porcentagem de pacientes com elevada reatividade plaquetária após 2h da dose de ataque de ticagrelor e tempo para alcançar a reatividade plaquetária abaixo do ponto de corte para elevada reatividade plaquetária
MasculinoFeminino
74 pacientes randomizados. 4 excluídos da análise primária
Grupo Intervenção (N=35) x Grupo Controle (N=35):
Idade (anos): 60,7± 10,5 x 62,5 ± 10,5
IMC (kg/m²): 27,6±4,3 x 27,4±4
IAMCSST: 69% x 60%
Hipertensão: 43% x 60%
Diabetes mellitus: 23% x 14%
Dislipidemia: 86% x 89%
Tabagismo: 55% x 45%
Infarto prévio: 14% x 23%
Angioplastia prévia: 11% x 26%
Doença arterial periférica: 9% x 3%
Doença renal crônica: 3% x 6%
Doença pulmonar obstrutiva crônica: 6% x 0%
A administração de morfina, quando comparada ao placebo, resultou em uma menor área sob a curva do ticagrelor e seu metabólito ativo dentro das primeiras 12h após a dose de ataque (ticagrelor: 6307±4359 versus 9791±5136 ng h/ml; correspondendo a uma diferença de 36%; p=0,003)
As diferenças observadas foram mais pronunciadas nas primeiras 6h [AUC para ticagrelor: 2491 (189 – 5764) versus 5587 (2810 – 8546) ng h/ml; diferença de 55%; p=0,002; AUC para o metabólito ativo: 472 (0-1036) versus 1001 (643 – 1666) ng h/ml; diferença de 53%; p=0,006].
A concentração plasmática máxima do ticagrelor em pacientes recebendo morfina foi retardada, quando comparada ao placebo [tempo até a concentração máxima do ticagrelor: 4h (3-12) versus 2h (2-4); p=0,004] e reduzida [concentração máxima ticagrelor: 1156±771 versus 1683±847 ng/ml; p=0,006].
A avaliação de reatividade plaquetária, através de 3 métodos distintos, comprovou efeito antiplaquetário mais potente em pacientes do grupo placebo, quando comparado aos pacientes que receberam morfina
O uso da morfina atrasa e atenua a exposição e ação do ticagrelor em pacientes com infarto agudo do miocárdio
Avaliou pacientes em cenário de descompensação aguda, o que possui grande relevância para nossa prática clínica
Incluiu pacientes com IAMCSST e com IAMSST. Dessa forma, seus resultados podem ser aplicados em ambos os cenários clínicos
Utilizou métodos laboratoriais objetivos e validados para mensuração da concentração plasmática e grau de potência antiplaquetária do ticagrelor, em ambos os braços do estudo
Boa proporção de distribuição de comorbidades entre os grupos do estudo
Unicêntrico
Baixo número amostral
Baixa proporção de pacientes do sexo feminino
Inclusão apenas em horário comercial (06-18h) o que pode introduzir viés de seleção por não serem pacientes consecutivos
Pacientes excluídos após randomização
Não foram avaliados desfechos clínicos no estudo. Não é claro se as mudanças em farmacocinética realmente impactarão em algum desfecho clínico
Autor do conteúdo
Carolina Ferrari
Referências
Públicação Oficial
https://app.doctodoc.com.br/conteudos/morfina-atrasa-e-atenua-a-exposicao-e-acao-do-ticagrelor-em-pacientes-com-infarto-agudo-do-miocardio
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