Mensagens Eletrônicas para Aumentar a Vacinação contra Influenza em Pacientes com Doenças Crônicas
27 de fevereiro de 2025
8 minutos de leitura
O envio de mensagens eletrônicas comportamentais aumenta a taxa de vacinação contra influenza em pacientes de 18 a 64 anos com doenças crônicas?
A influenza é uma importante causa de morbimortalidade global, afetando especialmente indivíduos com doenças crônicas. Embora existam recomendações sólidas para a vacinação anual, as taxas de adesão permanecem subótimas entre adultos jovens e de meia-idade. Estudos anteriores sugerem que mensagens comportamentais podem aumentar a adesão à vacinação, mas não há evidência robusta em populações com doenças crônicas. Este estudo visa avaliar a eficácia de diferentes abordagens eletrônicas na promoção da vacinação contra influenza.
Ensaio clínico randomizado pragmático, baseado em registros nacionais.
Multicêntrico, na Dinamarca.
Não-cegado.
Randomização na proporção 2,45:1:1:1:1:1:1 para sete grupos: um grupo controle, que não recebeu nenhuma mensagem eletrônica (cuidados usuais), e seis grupos que receberam diferentes mensagens eletrônicas baseadas em ciência comportamentais.
O estudo incluiu todos os participantes elegíveis na Dinamarca para maximizar o poder estatístico. Com um tamanho amostral de 325.000 participantes, cada uma das seis comparações entre os grupos de intervenção e o controle teve um poder de 80% para detectar um aumento absoluto de 1,05% na vacinação, assumindo uma taxa basal de 40% no grupo controle.
Adultos dinamarqueses com idades entre 18 e 64 anos, com doenças crônicas elegíveis para vacinação gratuita contra influenza, recrutados entre 24 de setembro de 2023 e 31 de maio de 2024.
Idade entre 18 e 64 anos.
Diagnóstico de doença crônica conforme registros de saúde.
Elegibilidade para vacinação gratuita.
Registro ativo no sistema eletrônico de comunicação governamental.
Pacientes sem acesso ao sistema eletrônico de comunicação.
Idade superior a 64 anos antes de 16 de janeiro de 2024.
Envio de seis diferentes mensagens eletrônicas comportamentais, incluindo:
CP (Carta Padrão): mensagem padrão incentivando a vacinação.
CR (Carta Repetida): mensagem enviada novamente 10 dias após a primeira, reforçando a importância da vacinação.
BC (Benefício Cardiovascular): mensagem enfatizando os benefícios cardiovasculares da vacinação.
BR (Benefício Respiratório): mensagem destacando os benefícios da vacinação na proteção respiratória.
AP (Abordagem de Perda): mensagem alertando sobre os riscos e complicações graves da influenza para quem não se vacinar.
PIA (Prompt de Intenção de Adesão): mensagem baseada no efeito de coerência, lembrando o compromisso prévio com a vacinação.
Ausência de mensagem eletrônica (cuidados usuais).
Primário: taxa de vacinação até 1º de janeiro de 2024.
Secundários: tempo desde a entrega da intervenção até a vacinação, hospitalizações por causas respiratórias e cardiovasculares, mortalidade e utilização de cuidados primários.
MasculinoFeminino
299.881 Pacientes | Feminino 53,2% e Masculino 46,8%
Grupos AP (N = 35.385) x PIA (N = 35.701) x BR (N = 35.320) x BC (N = 35.271) x CR (N = 35.649) x CP (N = 35.496) x CU (N = 87.059)
AP x PIA x BR x BC x CR x CP x CU
Idade mediana (anos): 52,1 x 51,9 x 51,9 x 51,9 x 52,0 x 52,0 x 52,0
Sexo Feminino (%): 53,0 x 53,4 x 52,9 x 53,1 x 53,4 x 52,8 x 53,3
Viveu em domicílio com ≥1 outro participante do estudo (%): 10,0 x 10,1 x 10,0 x 9,9 x 10,0 x 10,1 x 9,8
Comorbidades (%):
Hipertensão: 35,3 x 35,6 x 35,3 x 34,8 x 35,2 x 36,1 x 35,6
Câncer: 17,6 x 17,3 x 17,3 x 17,6 x 17,5 x 17,8 x 17,5
Doença cardiovascular crônica: 20,6 x 20,7 x 20,8 x 20,5 x 20,3 x 20,7 x 20,6
Diabetes tipo 1 ou 2: 14,8 x 14,3 x 14,5 x 14,0 x 14,6 x 14,8 x 14,4
Doença pulmonar crônica: 12,2 x 12,2 x 12,4 x 12,0 x 12,4 x 12,1 x 12,1
Imunodeficiência: 11,2 x 11,3 x 11,0 x 11,1 x 11,0 x 10,9 x 11,2
Vacinação contra influenza na temporada anterior (%): 31,7 x 31,7 x 31,7 x 31,9 x 32,2 x 31,9 x 31,8
As mensagens eletrônicas aumentaram significativamente as taxas de vacinação contra influenza, com uma taxa de 39,6% no grupo de intervenção em comparação com 27,9% no grupo controle (diferença absoluta de 11,7 pontos percentuais; IC 99,29%: 11,2-12,2; P < 0,001).
A maior taxa de vacinação foi observada no grupo que recebeu a mensagem repetida, com 41,8% vs. 27,9% no grupo controle (diferença absoluta de 13,9 pontos percentuais; IC 99,29%: 13,1-14,7; P < 0,001), seguida da mensagem com foco em benefícios cardiovasculares. Nessa, a taxa de vacinação foi de 39,8% vs. 27,9% no grupo controle (diferença absoluta de 11,9 pontos percentuais; IC 99,29%: 11,1-12,7; P < 0,001).
Quanto ao tempo até a vacinação, os participantes que receberam qualquer tipo de mensagem de intervenção foram vacinados mais rapidamente do que aqueles no grupo de cuidado usual (HR 1,56, IC 99,29%: 1,53-1,59; P < 0,001). A mensagem repetida (enviada 10 dias após a primeira) foi a que apresentou o maior efeito, com um HR de 1,68 (IC 99,29%: 1,64-1,73; P < 0,001), seguida pela carta com foco em benefícios cardiovasculares (HR: 1,57; IC 99,29%: 1,51-1,60; P < 0,001).
O efeito foi mais pronunciado em participantes: com idade ≥ 52 anos; que não haviam sido vacinados na temporada anterior; com doenças cardiovasculares crônicas (todos com P significativo).
Não houve diferença significativa entre os grupos para hospitalizações por pneumonia ou influenza, hospitalizações cardiovasculares, mortalidade por todas as causas.
Houve redução significativa no risco de hospitalização por insuficiência cardíaca ou morte cardiovascular (HR: 0,83; IC 95%: 0,73-0,94).
As mensagens eletrônicas baseadas em princípios da ciência comportamental aumentaram significativamente a taxa de vacinação em pacientes com doenças crônicas, sendo a carta repetida a mais eficaz, com efeitos mais pronunciados em subgrupos específicos, como idosos e aqueles com doenças cardiovasculares.
Ensaio clínico randomizado de base nacional, com uma amostra grande e representativa (299.881 participantes), o que aumenta a validade externa dos resultados.
Utiliza estratégias baseadas em ciências comportamentais (nudges) para aumentar a adesão à vacinação, uma abordagem escalável e de baixo custo, com resultados clinicamente relevantes. O aumento absoluto de 11,7% na taxa de vacinação (39,6% vs. 27,9%) é significativo e tem implicações importantes para a saúde pública.
Testa seis diferentes tipos de cartas eletrônicas, permitindo identificar quais mensagens são mais eficazes (por exemplo, a carta repetida e a carta com ênfase nos benefícios cardiovasculares)
A coleta de dados é feita por meio de registros administrativos, o que reduz viés de informação e aumenta a confiabilidade dos dados
Utiliza intervalos de confiança de 99,29% e valores de p < 0,001, demonstrando alta significância estatística.
O estudo foi realizado na Dinamarca, um país com um sistema de saúde universal e infraestrutura digital bem estabelecida. Os resultados podem não ser diretamente aplicáveis a países com sistemas de saúde menos organizados ou com menor acesso a tecnologias digitais.
O estudo avaliou a vacinação apenas até 1º de janeiro de 2024, o que não permite avaliar se as intervenções teriam impacto em taxas de vacinação ao longo de toda a temporada de influenza
Embora as mensagens eletrônicas sejam de baixo custo, o estudo não calculou o custo por vacinação adicional, o que seria útil para avaliar a viabilidade de implementação em larga escala.
Apesar da grande amostra, os participantes já estavam cadastrados em um sistema eletrônico de comunicação governamental, o que pode excluir indivíduos com menor acesso à tecnologia ou menor engajamento com o sistema de saúde.
Autor do conteúdo
Beatriz Vilaça
Referências
Públicação Oficial
https://app.doctodoc.com.br/conteudos/mensagens-eletronicas-para-aumentar-a-vacinacao-contra-influenza-em-pacientes-com-doencas-cronicas
Compartilhe
Copyright © 2024 Portal de Conteúdos MEDCode. Todos os direitos reservados.