Qual o Contexto?

O impacto da ingestão proteica na saúde dos idosos, especialmente daqueles com doença renal crônica (DRC), é um tema de grande relevância clínica, pois envolve a necessidade de equilibrar a preservação da função renal com a sobrevivência a longo prazo. Portanto, um estudo com uma ampla coorte de idosos com DRC teve como objetivo avaliar a associação entre a ingestão de proteínas de origem animal e vegetal com a mortalidade em idosos com DRC leve ou moderada (estágios 1 a 3).

Como o Estudo Foi Feito?

Este estudo de coorte utilizou dados de 3 estudos, que incluíram 8.543 adultos com 60 anos ou mais, totalizando 4.789 com DRC e 9.610 sem DRC, recrutados entre março de 2001 e junho de 2017. Os participantes foram acompanhados até janeiro de 2024 para avaliar a mortalidade. Foram excluídos aqueles com DRC estágio IV ou V, submetidos à terapia renal substitutiva ou com transplante renal. A ingestão cumulativa de proteínas foi estimada por meio de históricos dietéticos validados e questionários de frequência alimentar. Durante o período de acompanhamento, foram registradas 1.468 mortes. A análise mostrou que uma maior ingestão diária de proteínas estava associada a uma menor mortalidade entre os pacientes com DRC. Por exemplo, aumentar a ingestão de proteínas de 0,80 g/kg/dia para 1,00 g/kg/dia reduziu o risco de mortalidade em aproximadamente 12%. Um aumento para 1,20 g/kg/dia reduziu o risco em cerca de 21%, e aumentar para 1,40 g/kg/dia resultou em uma redução de aproximadamente 27%. Resultados semelhantes foram observados tanto para proteínas vegetais quanto animais.

Qual o Impacto na Prática?

O envelhecimento é acompanhado por alterações no metabolismo proteico, como a diminuição da síntese e o aumento da degradação de proteínas. Uma ingestão proteica diária adequada está associada à preservação da força muscular, funcionalidade e melhora na recuperação de doenças. Em idosos saudáveis, a ingestão proteica recomendada é de 1 a 1,20 g/kg/dia. No entanto, em pacientes com DRC, recomenda-se uma ingestão proteica moderada para evitar a progressão da doença. Portanto, este estudo sugere que uma maior ingestão de proteínas está associada a uma redução na mortalidade em idosos com DRC leve a moderada, desafiando as orientações tradicionais que limitam a ingestão proteica nessa população. Esse achado abre espaço para futuras validações em ensaios clínicos randomizados e destaca a necessidade de individualizar a recomendação proteica em pacientes com DRC, especialmente em cenários de fragilidade, sarcopenia e desnutrição, onde o maior aporte proteico pode ser benéfico.