Lomitapid Para o Tratamento de Pacientes Pediátricos com Hipercolesterolemia Familiar Homozigótica
04 de fevereiro de 2025
7 minutos de leitura
O uso de lomitapida é eficaz na redução do LDL-colesterol em pacientes pediátricos com hipercolesterolemia familiar homozigótica?
A hipercolesterolemia familiar homozigótica (HFHo) é uma doença rara e hereditária, caracterizada por concentrações extremamente elevadas de LDL-colesterol e pelo desenvolvimento precoce de doença cardiovascular aterosclerótica. As causas genéticas mais comuns incluem variantes em genes relacionados ao receptor de LDL (LDLR). Embora tratamentos como estatina, ezetimibe e iPCSK9 sejam recomendados, sua eficácia é limitada nesses pacientes devido ao mecanismo de ação dependente do LDLR. A lomitapida é uma medicação oral que atua inibindo a proteína de transferência de triglicérides microssomais (MTP), reduzindo a secreção de colesterol VLDL e, consequentemente, os níveis de LDL-colesterol. Esse medicamento já está aprovado pelo FDA para o tratamento de HFHo em adultos. Portanto, o objetivo do estudo APH-19 foi avaliar a eficácia e segurança da lomitapida em pacientes pediátricos com hipercolesterolemia familiar homozigótica.
Ensaio clínico randomizado de fase 3
Multicêntrico (12 centros na Alemanha, Israel, Itália, Arábia Saudita, Espanha e Tunísia)
Estudo aberto
Braço único
Período “run-in” de 6 a 12 semanas, seguido de uma fase de eficácia de 24 semanas e uma fase de segurança de 80 semanas
Estratificação de acordo com grupos etários: 5 a 10 anos e 11 a 17 anos
Poder de amostra estimado de 30 pacientes, com 92% de poder para detectar uma redução de 25% no LDL-c em relação ao basal; para acomodar uma taxa de desistência de 33% durante a fase de eficácia, foram incluídos 15 pacientes adicionais
Crianças e adolescentes com diagnóstico de hipercolesterolemia familiar homozigótica, incluídos entre 2020 e 2022
Crianças com idade entre 5 e 17 anos
Uso de terapia hipolipemiante em doses estáveis (incluindo aférese de lipoproteínas, se aplicável)
Diagnóstico de HFHo de acordo com os critérios da EAS (Sociedade Europeia de Aterosclerose) de 2014
Confirmação genética de mutações em ambos alelos em um dos seguintes genes: LDLR, APOB, PCSK9 ou LDLRAP1
LDL-c ≥ 500 mg/dL
LDL-c ≥ 300 mg/dL com xantomas cutâneos ou tendinosos antes dos 10 anos de idade
LDL-c compatível com hipercolesterolemia familiar heterozigótica em ambos os pais
Lomitapida, via oral, uma vez ao dia, com dose inicial e titulação de acordo com a idade
Dose inicial de 2 mg, se idade entre 5 e 15 anos
Dose inicial de 5 mg, se idade entre 16 e 17 anos
Todos os pacientes foram orientados a manter dieta pobre em gordura (< 20% ou < 30 g de gordura, o que for menor), suplementação com vitamina E e com ácidos graxos essenciais
O uso de terapias hipolipemiantes adicionais (incluindo aférese de lipoproteínas) foi avaliado continuamente durante o estudo
Primário: percentual de mudança do LDL-c após 24 semanas
Secundários: percentual de mudança do colesterol total, colesterol não-HDL, VLDL-c, triglicérides, lipoproteína (a) e ApoB após 24 semanas; número e proporção de pacientes que atingiram o alvo recomendado na época de LDL-c (< 135 mg/dL) após 24 semanas
Segurança: eventos adversos, incluindo tumores (hepáticos, gastrointestinais ou pancreáticos), anormalidades hepáticas (avaliação de gordura pancreática por RM ou USG e exames de função hepática), eventos gastrointestinais e efeitos do tratamento em crescimento e desenvolvimento puberal
MasculinoFeminino
Idade:
5-10 anos: 47%
11-17 anos: 53%
Etnia
Branca: 98%
Negra: 2%
Localização geográfica
Alemanha: 16%
Israel: 7%
Itália: 16%
Arábia Saudita: 30%
Espanha: 16%
Tunísia: 14%
Diagnóstico de HFHo
Confirmação genética de variantes patogênicas bialélicas: 88% (77% no gene LDLR; 2% LDLRAP1; 9% outros)
Diagnóstico clínico conforme os critérios EAS: 12%
LDL-colesterol basal (mg/dL): 390,5 (279,5 - 571,9)
Colesterol total basal (mg/dL): 440,8 (328,7 - 600,9)
Lipoproteína (a) basal (mg/dL): 30,2 (10,0 - 36,0)
Doença cardiovascular: 65%
Terapias hipolipemiantes concomitantes à fase de eficácia:
Estatina: 91%
Ezetimibe: 74%
Evolocumab: 9%
Ezetimibe + rosuvastatina: 2%
Aférese de lipoproteínas: 44%
O uso de lomitapida levou a uma redução significativa de LDL-c de -53,5% após 24 semanas (IC 95% -61,6 a -45,5; p < 0,0001), com resultados semelhantes nos subgrupos divididos por faixa etária (-56,5% no grupo 5-10 anos e -50,9% no grupo 11-17 anos)
A média de LDL-c diminuiu de 435,8 mg/dL no basal para 176,5 mg/dL na semana 24
O uso de lomitapida também levou a uma redução significativa de colesterol não-HDL (-53,9%), colesterol total (-50,0%) VLDL-c (-50,2%), apoB (-52,4%) e triglicerídeos (-49,9%, p<0,0001 para todos)
O uso de lomitapida levou a uma redução de lipoproteína (a), que variou de -11,3% a -23,6%, dependendo das unidades utilizadas pelos laboratórios locais (mg/dL ou nmol/L) (p = 0,29 e p= 0,003, respectivamente)
Após 24 semanas, 42% dos pacientes alcançaram o alvo recomendado na época de LDL-c < 135 mg/dL (35% no grupo 5-10 anos e 48% no grupo 11-17 anos)
Eventos adversos ocorreram em 58% dos pacientes, a maioria de leve intensidade; os mais comuns foram diarreia (47%), dor abdominal (42%) e elevação de transaminases (37%)
Oito eventos adversos em 5 pacientes (11,6%) foram considerados graves; apenas um deles (elevação de enzimas hepáticas) foi considerado relacionado ao tratamento e classificado como hepatotoxicidade grau 4, com interrupção temporária do tratamento e posterior reintrodução da medicação em dose mais baixa
A maioria (30/34) dos pacientes apresentou um percentual de gordura hepática de < 10% em exames de imagem (RM ou USG), e um aumento do acúmulo de gordura hepática em relação ao basal foi identificado em apenas 4 de 34 pacientes
Dois participantes adolescentes descontinuaram o estudo por eventos adversos moderados (diarreia)
Um paciente apresentou um evento cardiovascular maior durante a fase de eficácia, e um óbito ocorreu no período de “run-in” (antes do início da medicação) por isquemia miocárdica
O uso de lomitapida foi eficaz na redução do colesterol LDL em pacientes pediátricos com hipercolesterolemia familiar homozigótica
Estudo multicêntrico, com inclusão de um número de pacientes dentro do planejado, considerando a raridade da doença
Inclusão de pacientes em uso de diversos tratamentos hipolipemiantes, incluindo aférese de lipoproteínas
O período de run-in de 6 semanas garantiu a inclusão de pacientes aderentes e tolerantes ao tratamento, aumentando a confiabilidade dos resultados de eficácia e segurança
Desenho do estudo com braço único, não randomizado e sem grupo controle; esse desenho foi justificado pela eficácia bem estabelecida da lomitapida na população adulta, pela limitação das opções de tratamento para HFHo e pelo risco de desvendar o tratamento devido ao perfil de efeitos adversos conhecidos
População predominantemente branca, limitando a generalização dos resultados para outras populações
Tempo curto de duração do estudo, impossibilitando também a avaliação de desfechos clínicos relevantes, como eventos cardiovasculares
Autor do conteúdo
Bibiana Boger
Referências
Públicação Oficial
https://app.doctodoc.com.br/conteudos/lomitapid-para-o-tratamento-de-pacientes-pediatricos-com-hipercolesterolemia-familiar-homozigotica
Compartilhe
Copyright © 2024 Portal de Conteúdos MEDCode. Todos os direitos reservados.