Letrozol versus Clomifeno para Infertilidade na Síndrome do Ovário Policístico
18 de julho de 2024
5 minutos de leitura
O letrozol aumenta a taxa de nascidos vivos em comparação com o clomifeno em pacientes com síndrome dos ovários policísticos?
O clomifeno é um modulador seletivo dos receptores de estrogênio que bloqueia os receptores estrogênicos a nível central, aumentando os níveis de gonadotrofinas e, consequentemente, a chance de ovulação. O letrozol é um inibidor de aromatase que, ao reduzir os níveis de estradiol e o feedback negativo, também estimula a ovulação pela elevação das gonadotrofinas. Ainda era incerto qual das duas medicações seria a melhor opção para induzir ovulação e aumentar a fertilidade em pacientes com síndrome dos ovários policísticos. Para esclarecer essa questão, o grupo de Medicina Reprodutiva NICHD realizou um estudo comparativo direto entre as duas medicações, para avaliar desfechos materno-fetais em pacientes com síndrome dos ovários policísticos e infertilidade.
Multicêntrico (130 centros em 10 países)
Duplo cego
Randomizado 1:1
Seriam necessários 375 participantes, prevendo desistência de 20%, para ter poder de 81% e alfa de 0.05, para se encontrar diferença de resposta de ao menos 10% maior em taxa de nascidos vivos, no grupo letrozol, em relação ao clomifeno
Pacientes com infertilidade devido à síndrome do ovário policístico (SOP), incluídas entre 2009 a 2012
Mulheres entre 18-40 anos
Diagnóstico de SOP pelos critérios de Rotterdam (2 dos 3: oligoanovulação, hiperandrogenismo, ovário policístico), com exclusão de diferenciais (como hiperprolactinemia ou distúrbio tireoidiano)
Exclusão de outras etiologias de infertilidade: parceiro com concentração >14 milhões de espermatozoides, cavidade uterina e tuba pérvia
Contraindicação ao uso de letrozol ou clomifeno
Doença sistêmica descompensada (diabetes mellitus, hepatopatia, doença renal crônica)
Clomifeno 50mg ao dia OU Letrozol 2.5 mg ao dia
A medicação era iniciada no 3º dia do ciclo e mantida por 5 dias, por até 5 ciclos menstruais. A dose podia ser aumentada nos ciclos seguintes em caso de anovulação (progesterona <3 ng/mL) até o máx de 150 mg de clomifeno e 7.5mg de letrozol
O casal era orientado a ter relações frequentes 2-3x na semana
Primário: taxa de nascidos vivos
Secundários: taxa de ovulação, perda gestacional, gestação única, anomalia congênita e outros desfechos de segurança e efeitos colaterais
750 pacientes incluídos
Clomifeno (N=376) x Letrozol (N=374)
Idade em anos: 28,8±4,0 x 28,9±4,5
Brancos: 80,3% x 77,0%
IMC: 35,1±9,0 x 35,2±9,5
Gestação prévia viável: 19,4% x 20,1%
Testosterona total em ng/dL: 56,3±30,1 x 53,8±27,4
Hormônio antimulleriano em ng/mL: 8,1±6,9 x 8,0±7,1
Progesterona em ng/mL: 1,5±2,9 x 1,5±3,3
Desistência de aproximadamente 20% em ambos os grupos
O grupo letrozol teve significativamente maior taxa de nascidos vivos que o clomifeno (27,5% versus 19,1%, p=0,007)
O grupo letrozol teve uma chance 1,44 vezes maior de nascidos vivos (IC 95%, 1,10-1,87), quando comparado ao grupo clomifeno
A taxa de perda gestacional foi semelhante entre os grupos
A taxa de ovulação foi significativamente maior no grupo letrozol (p<0,001)
Ao avaliar somente as pacientes que ovularam, o grupo letrozol teve maior chance de gestação única (RR 1,31, 95% IC 1,03-1,58, p=0,03)
Não houve diferença entre os grupos em relação a malformações congênitas, chance de pré-eclâmpsia, diabetes mellitus gestacional, icterícia neonatal e outros desfechos desfavoráveis
Em pacientes com síndrome dos ovários policísticos e infertilidade, o uso de letrozol teve maiores taxas de nascidos vivos que o clomifeno
Estudo multicêntrico, com maior validade externa
Avaliação de desfecho primário concreto (taxa de nascidos vivos) em vez de desfechos substitutos, como a taxa de ovulação, que não refletem diretamente o sucesso em termos de nascimentos vivos.
Perda de seguimento relativamente alta para drogas que são seguras e com poucos efeitos colaterais. Apesar de o estudo ter sido dimensionado para compensar essa taxa de desistência, a alta desistência pode afetar a generalização dos resultados e reduzir o poder estatístico do estudo, especialmente para desfechos secundários.
Poder estatístico insuficiente para a maioria dos desfechos secundários. Embora o estudo tenha mostrado maior chance de gestação única com letrozol, não teve poder suficiente para avaliar outros desfechos secundários, como taxa de perda gestacional ou anomalias congênitas, limitando a inferência sobre a superioridade do letrozol nesses aspectos.
O estudo não incluiu uma intervenção padronizada para mudanças no estilo de vida, como perda de peso, que é conhecida por melhorar significativamente a fertilidade em mulheres com síndrome dos ovários policísticos. A ausência dessa orientação pode ter subestimado as taxas de nascidos vivos observadas no estudo (menos de 30%).
Autor do conteúdo
Matheo Stumpf
Referências
Públicação Oficial
https://app.doctodoc.com.br/conteudos/letrozol-versus-clomifeno-para-infertilidade-na-sindrome-do-ovario-policistico
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