Iodo Povidina vs Gluconato de Clorexidina em Álcool para Antissepsia Pré-operatória da Pele
27 de junho de 2024
6 minutos de leitura
A antissepsia pré-operatória da pele com iodo povidina em álcool é não inferior ao gluconato de clorexidina em álcool para prevenir infecções de sítio cirúrgico?
Aproximadamente 3% dos pacientes submetidos a um procedimento cirúrgico apresentam um episódio de infecção de sítio cirúrgico. Os microorganismos que habitam a pele dos pacientes são os principais agentes causadores dessas infecções. Neste contexto, a antissepsia pré-operatória da pele é um procedimento estabelecido capaz de reduzir esse tipo de evento. No entanto, a escolha do melhor agente antisséptico (iodo povidina ou gluconato de clorexidina) ainda permanece em debate.Estudos com antissepsia para passagem de acesso venoso central sugeriram a superioridade da clorexidina, mas a resistência a este último vem aumentando progressivamente. Assim, foi realizado este estudo randomizado para determinar se a antissepsia pré-operatória da pele com iodo povidina em álcool é não inferior ao gluconato de clorexidina em álcool para prevenir infecções de sítio cirúrgico após cirurgias abdominais ou cardíacas.
Ensaio clínico randomizado de não inferioridade
Multicêntrico (3 hospitais na Suíça)
Unicego
Estimou-se que o estudo deveria recrutar, pelo menos, 1374 pacientes em cada grupo para alcançar um poder de 80% para um nível de significância bicaudal de 5%, com uma margem absoluta de não-inferioridade de 2,5%
Randomização em cluster (52 clusters), na razão de 1:1 e usando blocos de 2
Pacientes submetidos à cirurgia abdominal ou cardíaca eletiva selecionados entre 2018 e 2020
Idade ≥ 18 anos
Cirurgia cardíaca eletiva (cirurgia de revascularização miocárdica, cirurgia valvar ou outra cirurgia cardíaca, exceto transplante cardíaco) OU
Cirurgia abdominal (cirurgia colorretal, colecistectomia, herniotomia ou apendicectomia)
Assinatura de termo de consentimento informado
Cirurgias de emergência
Gravidez
Contraindicações ao uso de qualquer uma das substâncias do estudo:
Gluconato de clorexidina: intolerância a qualquer um dos componentes da preparação; aplicação em córnea, feridas ou membranas mucosas.
Iodo Povidina: hipertireoidismo; intolerância a qualquer um dos componentes da preparação; alergia a iodo em 2 semanas antes do tratamento com radio-iodo; dermatite herpetiforme; aplicação em córnea, feridas ou membranas mucosas.
Antissepsia com Iodo Povidina em álcool
Antissepsia com Gluconato de clorexidina em álcool
Antes da incisão, o sítio cirúrgico era desinfetado com iodo povidina ou gluconato de clorexidina e as aplicações eram realizadas de acordo com procedimentos padronizados
Todos os centros eram treinados para aplicar o agente antisséptico com uma gaze, permitindo que aquele secasse completamente antes de iniciar uma série de 3 aplicações, para um tempo de exposição total de, pelo menos, 3 minutos.
Outras medidas de prevenção de infecção de sítio cirúrgico eram uniformes entre os centros participantes do estudo
O follow-up dos pacientes do estudo consistia em entrevistas telefônicas e avaliação de registros médicos em 30 dias após a intervenção (em caso de cirurgias abdominais e cardíacas) e, novamente, após 1 ano (para cirurgias cardíacas)
Primário: ocorrência de infecção de sítio cirúrgico
Definido um tempo de 30 dias após cirurgia abdominal e 1 ano após cirurgia cardíaca
Secundários: proporção de infecção de sítio cirúrgico ajustada para profundidade da infecção, tipo de cirurgia e escore National Nosocomial Infection Surveillance System (NNIS), taxa de mortalidade e tempo de internação hospitalar.
MasculinoFeminino
Iodo Povidina (N=1570) x Gluconato de clorexidina (N=1751):
Idade (anos): 65 (39 – 79) x 65 (41 – 78)
IMC (média): 26,6 (21,3 – 36,7) x 26,8 (21 – 36,5)
Tabagistas: 24,7% x 25,6%
Diabetes: 20,5% x 19,9%
Hipertensão: 53,9% x 53,9%
Escore ASA
I: 1,7% x 1,2%
II: 13,8% x 13,1%
III: 29,9% x 30,4%
IV: 54% x 54,9%
V: 0,7% x 0,4%
Tempo médio de permanência hospitalar (dias): 7 (2 – 15) x 7 (2 – 14)
Destino após alta:
Casa: 45,9% x 47,1%
Clínica de reabilitação: 48,9% x 47,1%
Referência para centro de cuidado agudo: 2,7% x 3,5%
Mortalidade intra-hospitalar: 2,1% x 2%
Cirurgia cardíaca:
Cardíaca: 28,8% x 28,9%
Bypass coronário: 35,6% x 37,1%
Cirurgia abdominal
Colecistectomia: 11,1% x 11,1%
Cólon: 10,3% x 10,6%
Hérnia: 5,8% x 2,9%
Bypass gástrico: 7,4% x 7,9%
Reto, retossigmoide ou tecido retal: 1% x 1,5%
Rehospitalização: 2,4% x 2,3%
A antissepsia com Iodo Povidina foi não inferior à antissepsia com Gluconato de clorexidina
Infecção de sítio cirúrgico foi detectada em 5,1% dos pacientes no grupo Iodo Povidina e em 5,5% no grupo Gluconato de clorexidina, uma diferença de 0,4% (95% IC -1,1% a 2%), com o limite inferior do intervalo de confiança não excedendo a margem de não-inferioridade pré-definida de – 2,5% (RR 0,92 para iodopovidina comparada com gluconato de clorexidina [95% IC 0,69 – 1,23])
As taxas de infecção de sítio cirúrgico foram maiores no grupo Iodo Povidina para pacientes submetidos à cirurgia cardíaca (4,2% versus 3,3%; RR 1,26 [95% IC 0,82 – 1,94]), mas menores no grupo Iodo Povidina em pacientes submetidos a cirurgias abdominais (6,8% versus 9,9%; RR 0,69 [95% IC 0,46 – 1,02]), sem diferença estatística entre elas
Em relação aos desfechos secundários, não houve diferença entre os grupos de estudo
Iodo povidina em álcool, como antissepsia pré-operatória da pele, foi não inferior ao gluconato de clorexidina em álcool em prevenir infecção de sítio cirúrgico após cirurgias cardíacas e abdominais
Comparou dois agentes antissépticos bastante usados mundialmente e que são acessíveis na grande maioria dos países, o que é bastante relevante para prática clínica
Elevado número amostral
Os procedimentos para antissepsia e outras medidas de prevenção contra infecção de sítio cirúrgico eram uniformes em todos os centros participantes, o que reduz viés de tratamento em um estudo não cego
Boa proporção de distribuição de comorbidades, o que reduz viés de seleção
Avaliou pacientes apenas em cenário de cirurgia eletiva. Dessa forma, seus resultados não podem ser aplicados para cirurgias de emergência
Baixa proporção de pacientes do sexo feminino.
Necessidade de redução do tempo de follow-up para pacientes submetidos à cirurgia cardíaca, devido à pandemia do COVID-19
Randomização em cluster, o que significa que um grupo de pacientes, e não cada participante individualmente, é alocado de forma aleatória para cada grupo. Este tipo de randomização pode ter reduzido a confiabilidade dos resultados.
Autor do conteúdo
Carolina Ferrari
Referências
Públicação Oficial
https://app.doctodoc.com.br/conteudos/iodo-povidina-vs-gluconato-de-clorexidina-em-alcool-para-antissepsia-pre-operatoria-da-pele
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