Interrupção ou Continuação de Betabloqueador Após Infarto do Miocárdio
17 de setembro de 2024
6 minutos de leitura
Em pacientes com história de infarto agudo do miocárdio, a interrupção de tratamento de longo prazo com betabloqueador é clinicamente segura?
A duração apropriada do tratamento com agentes betabloqueadores após o infrato agudo do miocárdio (IAM) é desconhecida. Ainda são necessários dados sobre a eficácia e segurança da interrupção do tratamento de longo prazo com betabloqueadores em pacientes com história de IAM não complicado, visando à redução de efeitos colaterais relacionados à medicação e à melhoria da qualidade de vida destes pacientes. Assim, realizou-se o estudo ABYSS, que objetivou avaliar se a interrupção do tratamento de longo prazo com betabloqueadores é clinicamente segura em pacientes com história de IAM não complicado e fração de ejeção de ventrículo esquerdo (FEVE) de pelo menos 40%, quando comparada à continuação da medicação.
Ensaio clínico randomizado
Multicêntrico, conduzido em 49 centros na França
Aberto
Randomização na razão 1:1
A seleção de 3.700 pacientes poderia fornecer ao trial um poder de 80% para demonstrar não-inferioridade, definida como a margem de < 3% no limite superior do intervalo de confiança bilateral de 95% para a diferença na taxa de eventos (interrupção menos continuação do betabloqueador) da hipótese primária do estudo
Pacientes com histórico de IAM selecionados entre 2018 e 2022
Idade ≥ 18 anos
Tratamento atual com betabloqueadores (independente da droga ou dose utilizada)
História prévia de IAM em tempo ≥ 6 meses antes da randomização, definido como:
IAM com supra de ST e/ou a presença de onda Q patológica;
IAM sem supra de ST, com, preferencialmente, pelo menos um dos seguintes critérios: segmento acinético ou hipocinético documentado por ecocardiograma ou outro método de imagem; hipoperfusão segmentar em método de imagem com tálio ou outra técnica de imagem; aspecto segmentar de necrose em ressonância magnética cardíaca
Episódio de infarto silencioso descoberto por eletrocardiograma ou imagem cardíaca
HAS não controlada, de acordo com decisão do investigador
Episódio prévio de insuficiência cardíaca nos últimos 2 anos de seguimento e/ou FEVE < 40%, necessitando do uso de betabloqueadores
Angina persistente ou isquemia (> 10% do miocárdio viável), necessitando de betabloqueadores
Episódio prévio de arritmia ventricular ou supraventricular, no último ano de seguimento, necessitando de betabloqueadores
Mulheres gestantes ou amamentando
Interrupção do uso do betabloqueador
Continuação do uso do betabloqueador
Mantido o mesmo agente e dose utilizados previamente
No grupo controle, a interrupção do betabloqueador poderia ser gradativa, caso o paciente estivesse recebendo uma dose elevada da medicação, conforme a preferência do médico assistente.
Todos os pacientes foram avaliados em 6 meses, 12 meses e, posteriormente, anualmente após a randomização, até que o último participante do ensaio clínico completasse o acompanhamento mínimo de 1 ano.
O recrutamento programado continuou durante a pandemia do COVID 19 e lockdown na França.
Primário: desfecho composto de morte, infarto do miocárdio não-fatal, acidente vascular encefálico não-fatal ou hospitalização por qualquer outra causa cardiovascular
Secundários: mudança, desde avaliação inicial até 6 meses e 12 meses, no escore European Quality of Life-5 Dimensions (EQ-5D) Questionnaire, que varia entre 0-1: escores mais elevados representam melhor status de saúde; composição de morte; infarto do miocárdio não-fatal ou acidente vascular encefálico não-fatal e composição de morte; infarto do miocárdio não-fatal; acidente vascular encefálico não-fatal ou hospitalização por insuficiência cardíaca
MasculinoFeminino
Grupo Intervenção (N=1846) x Grupo Controle (N=1852):
Idade (anos): 63,5±11,2 x 63,5±10,9
IMC: 26,3 (23,9 – 29,4) x 26,5 (24,1 – 29,6)
Tabagismo: 20,9% x 18,5%
Hipertensão: 42,6% x 43,5%
Diabetes: 20,2% x 20,2%
Dislipidemia: 51,4% x 53,7%
IAM com supra de ST: 63,3% x 62,7%
IAM sem supra de ST: 36,7% x 37,3%
Tempo médio entre IAM e randomização (anos): 2,9 (1,2 – 6,2) x 2,8 (1,1 – 6,6)
Tipo de revascularização no evento do IAM:
Completa: 91,2% x 92,1%
Intervenção percutânea: 97,4% x 96,4%
Fibrinólise: 1,7% x 2,6%
Cirurgia de revascularização miocárdica: 3,5% x 4,7%
Doença vascular periférica: 5,6% x 4,5%
Acidente vascular encefálico ou ataque isquêmico transitório: 3% x 3,6%
Insuficiência cardíaca: 1,8% x 1,4%
FEVE: 60 (52 – 60) x 60 (52 – 60)
A interrupção do betabloqueador não foi não inferior à manutenção da terapia
O desfecho primário ocorreu em 23,8% dos pacientes no grupo intervenção e em 21,1% dos pacientes no grupo controle (diferença de risco de 2,8 pontos percentuais, IC95% < 0,1 a 5,5), para um hazard ratio de 1,16 ( IC95% 1,01 a 1,33; p=0,44 para não inferioridade)
A composição de morte, infarto do miocárdio não-fatal ou acidente vascular encefálico não-fatal ocorreu em 7,2% dos pacientes no grupo intervenção e em 6,8% dos pacientes no grupo controle
A composição de morte, infarto do miocárdio não-fatal, acidente vascular encefálico não-fatal ou hospitalização por insuficiência cardíaca ocorreu em 8,4% dos pacientes no grupo intervenção e em 7,6% dos pacientes no grupo controle
A mudança absoluta no escore EQ-5D entre a avaliação inicial e o último follow-up foi de 0,033±0,150 no grupo intervenção e 0,032±0,164 no grupo controle (diferença média 0,002; 95% IC -0,008 a 0,012)
Em pacientes com histórico de IAM, a interrupção do tratamento de longo prazo com betabloqueadores não foi considerada não-inferior à estratégia de continuação do uso do betabloqueador.
Avaliou o impacto da interrupção ou continuação do uso de uma classe medicamentosa segura e consagrada sobre os desfechos clínicos de pacientes de alto risco cardiovascular com mais tempo pós-IAM, o que é bastante relevante para prática clínica
Incluiu pacientes que tiveram IAM com e sem supra. Dessa forma, os resultados podem ser aplicados para ambos os perfis de pacientes.
Incluiu pacientes submetidos a tipos diferentes de revascularização (percutânea, cirúrgica ou fibrinólise). Assim, os resultados podem ser aplicados após todos esses cenários clínicos
Elevado número amostral
Boa proporção de distribuição de comorbidades entre os grupos, o que reduz viés de seleção.
Incluiu apenas pacientes de centros na França, o que reduz sua validade externa
Ensaio clínico aberto, com maior risco de viés de performance e observação
Baixa proporção de pacientes do sexo feminino
Utilizou desfechos compostos como seu desfecho primário, o que reduz a confiabilidade dos resultados em cada desfecho isoladamente
Autor do conteúdo
Carolina Ferrari
Referências
Públicação Oficial
https://app.doctodoc.com.br/conteudos/interrupcao-ou-continuacao-de-betabloqueador-apos-infarto-do-miocardio
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