Inibidor do Complemento Terminal Ravulizumabe na Miastenia Gravis Generalizada
17 de dezembro de 2024
6 minutos de leitura
A terapia com Ravulizumabe reduz a sintomatologia de pacientes com Miastenia Generalizada e anticorpo anti-AChR positivo?
A miastenia gravis generalizada (MGg) é uma doença autoimune rara, crônica e debilitante, caracterizada por fraqueza muscular fatigável, com consequências clínicas graves, como diplopia, ptose, disartria, disfagia, dispneia, fadiga extrema e mobilidade reduzida. A doença impacta significativamente a qualidade de vida e as atividades diárias. Cerca de 85% dos pacientes com MGg apresentam autoanticorpos contra os receptores de acetilcolina (AChR) e a ativação do complemento é um mecanismo chave na patogênese da doença. Esses anticorpos ativam a cascata do complemento, destruindo a membrana pós-sináptica na junção neuromuscular. Tratamentos imunossupressores convencionais são eficazes, mas têm início lento e efeitos colaterais graves. O Ravulizumabe, um anticorpo monoclonal que inibe o complemento terminal (proteína C5), mostrou controlar de forma eficaz a atividade de outras doenças associadas à ativação do complemento. Portanto o estudo CHAMPION MG avaliou a eficácia e segurança da medicação em adultos com MGg positiva para anticorpos anti-AChR.
Ensaio clínico randomizado
Multicêntrico (85 centros em 13 países)
Duplo cego e controlado por placebo
Randomização na proporção de 1:1 usando tecnologia de resposta interativa e estratificada por região
Planejado 160 pacientes totais para fornecer ao estudo poder estatístico de 90% para encontrar uma diferença mínima clinicamente importante (MCID) na escala MG-ADL de 2 pontos, com nível de significância bicaudal de 0,05.
Pacientes adultos com MG e anticorpos anti-AChR positivo incluídos entre 2019 e 2020
Idade ≥18 anos
Peso ≥ 40 kg
Diagnóstico de MG realizado há pelo menos 6 meses
Anticorpo anti-AChR positivo
Classificação clínica da Myasthenia Gravis Foundation of America entre as classes II e IV
Escore total MG-ADL ≥ 6
Vacinação contra infecções meningocócicas nos 3 anos anteriores
Permitido uso de terapias imunossupressoras em doses estáveis, incluindo glicocorticoides orais, assim como inibidores de colinesterase durante o período de randomização do estudo
Presença de timoma ativo ou não tratado
Histórico de carcinoma tímico ou malignidade tímica (exceto se curado com tratamento adequado e sem evidência de recidiva por 5 anos ou mais antes da triagem)
Histórico de timectomia nos 12 meses anteriores à triagem
Histórico de infecção por Neisseria meningitidis
Uso de imunoglobulina intravenosa ou plasmaférese nas 4 semanas anteriores à randomização
Uso de rituximabe nos 6 meses anteriores à randomização
Tratamento prévio com inibidores do complemento (ex.: eculizumabe)
Ravulizumabe
Dose inicial de ataque de acordo com peso (≥40 kg e <60 kg: 2400mg; ≥60 kg e <100 kg: 2700 mg ≥100 kg: 3000 mg)
Doses de manutenção no dia 15 (semana 2) e a cada 8 semanas posteriormente, totalizando 26 semanas (peso ≥40 kg e <60 kg: 3000mg; peso ≥60 kg e <100 kg: 3300 mg ; peso ≥100 kg: 3600 mg)
Placebo
Posologia de ataque e manutenção semelhante ao grupo intervenção
Terapias de resgate (como glicocorticoides em altas doses, plasmaférese ou imunoglobulina intravenosa) foram permitidas caso um paciente apresentasse piora dos sintomas ou deterioração clínica, em ambos os grupos.
Primário: variação no escore total da escala MG-ADL, em relação ao início, após 26 semanas.
Secundários: variação no escore total da escala QMG em relação ao início; melhora de 5 pontos ou mais no escore total da QMG (responder analysis); variação no escore da escala MG-QOL15r em relação ao início; mudança no escore Neuro-QoL Fatigue em relação ao início; melhora de 3 pontos ou mais da escala MG-ADL (responder analysis).
Para os desfechos secundários de análise de respondedores (responder analysis) os critérios exigiram uma melhora mais conservadora do que os MCIDs publicados (3 pontos para QMG e 2 pontos para MG-ADL).
MasculinoFeminino
Ravulizumabe (N=86) x Grupo 2 (N=89):
Idade na primeira dose do ensaio (anos): 58,0 x 53,3
Raça
Brancos: 78% x 69%
Asiáticos: 17% x 18%
Negros ou afro-americanos: 2% x 4%
Peso corporal médio (kg): 91,6 x 90,9
Idade ao diagnóstico de MG (anos): 48,6 x 43,7
Tempo desde o diagnóstico de MG (anos): 9,8 x 10
MG-ADL: 9,1 x 8,9
QMG: 14,8 x 14,5
Classificação MGFA no baseline
IIa: 26% x 27%
IIb: 20% x 17%
IIIa: 26% x 18%
IIIb: 22% x 12%
IVa: 2% x 4%
IVb: 5% x 1%
Uso de terapia imunossupressora
Qualquer terapia imunossupressora: 88% x 91%
Glicocorticoides: 65% x 73%
Outras terapias imunossupressoras: 65% x 71%
≥2 terapias imunossupressoras: 42% x 53%
A melhora clínica foi superior no grupo Ravulizumabe
A diferença mínima dos quadrados da média no MG-ADL foi de -3,1 (IC de 95%, -3,8 a -2,3) no grupo ravulizumabe e de -1,4 (IC de 95%, -2,1 a -0,7) no grupo placebo (P < 0,001). Os resultados pontuais para todas as regiões de forma isolada também favoreceram o ravulizumabe. A melhora já foi observada dentro de 1 semana e mantida ao longo das 26 semanas.
A diferença mínima dos quadrados da média no QMG foi de -2,8 (IC de 95%, -3,7 a -1,9) no grupo ravulizumabe e de -0,8 (IC de 95%, -1,7 a 0,1) no grupo placebo (P < 0,001).
35,5% no grupo ravulizumabe e 12,8% no grupo placebo apresentaram uma melhora de 5 pontos ou mais no escore QMG.
A diferença entre os dois grupos na mudança do escore MG-QOL15r não foi estatisticamente significativa e, como os desfechos estavam sujeitos a testes hierárquicos, a significância não foi reportada para o Neuro-QoL Fadiga.
60,3% no grupo ravulizumabe e 36,6% no grupo placebo alcançou uma melhora de 3 pontos ou mais no escore total de MG-ADL, entretanto, significância estatística não foi reportada porque os desfechos anteriores na hierarquia não foram significativos.
Dez eventos em 8 pacientes (9%) no grupo ravulizumabe e 26 eventos em 15 pacientes (17%) no grupo placebo atenderam a um ou mais critérios para deterioração clínica. Oito pacientes (9%) no grupo ravulizumabe e 14 (16%) no grupo placebo receberam terapia de resgate por deterioração clínica.
23% dos pacientes pacientes no grupo ravulizumabe e 16% no grupo placebo apresentaram eventos adversos graves majoritariamente relacionados à piora da doença (um paciente recebendo ravulizumabe e três recebendo placebo) e à Covid-19 (dois recebendo ravulizumabe e um recebendo placebo).
Não houve casos de infecção meningocócica
Ocorreram dois óbitos no grupo ravulizumabe: um devido à Covid-19 e outro atribuído a hemorragia cerebral
Ravulizumabe foi capaz de reduzir a sintomatologia de pacientes com Miastenia Generalizada e anticorpo anti-AChR positivo, avaliada através da escala MG-ADL.
A inclusão de pacientes em uso de outros imunossupressores (90% do total) torna o estudo mais representativo de casos de “vida real”.
Houve ampla distribuição de pacientes com diferentes tempos de diagnóstico da doença, abrangendo cenários variados.
O estudo utilizou diversas escalas para avaliar sintomas e qualidade de vida, tanto de forma subjetiva quanto por meio de avaliações clínicas.
Resultados positivos para o desfecho primário foram alcançados já na primeira semana de tratamento.
Os escores totais iniciais de MG-ADL e QMG indicaram predominantemente comprometimento leve a moderado das atividades de vida diária e gravidade da doença leve a moderada.
Estudo realizado durante a pandemia do COVID-19, o que pode ter afetado os desfechos de segurança.
Amostra pequena e com desfecho que pode ser subjetivo
Autor do conteúdo
Fernando Falcão
Referências
Públicação Oficial
https://app.doctodoc.com.br/conteudos/inibidor-do-complemento-terminal-ravulizumabe-na-miastenia-gravis-generalizada
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