Inibidor de BRAF-MEK em Craniofaringioma Papilífero Recém Diagnosticado
27 de agosto de 2024
4 minutos de leitura
Em pacientes com craniofaringiomas papilares recém-diagnosticados, a combinação vemurafenibe–cobimetinibe é eficaz em reduzir o tamanho tumoral?
O craniofaringioma é um tumor benigno hipotalâmico raro e altamente recidivante, subdividido em adamantinomatoso e papilífero. Dentre os tratamentos, cita-se a cirurgia e a radioterapia (nos casos de remanescente tumoral, devido ao risco de recrescimento). No entanto, esse tratamento é altamente lesivo, predispondo ao risco de pan-hipopituitarismo, obesidade hipotalâmica e lesão óptica. Nesse contexto, este estudo avaliou o impacto da combinação de vemurafenibe e cobimetinibe (inibidor BRAF-MEK) como tratamento para pacientes com craniofaringioma BRAF V600E mutado (mutação encontrada em 90% das vezes no subtipo papilífero de craniofaringioma).
Ensaio clínico de fase 2
Não-randomizado
Multicêntrico (9 centros)
Open-label, não-controlado
O estudo foi desenhado para incluir pelo menos 16 pacientes, para ter poder de 89% para detectar redução de 30% de resposta com significância de 0.041
Pacientes com craniofaringioma e mutação confirmada no BRAF V600E, incluídos entre 2018 e 2020
Pacientes com craniofaringioma papílifero confirmado por histologia e mutação no BRAF V600E
> 18 anos
ECOG ≤ 2
Radioterapia prévia
Histórico de sangramento intracraniano nas últimas quatro semanas
Doença sistêmica descontrolada (insuficiência cardíaca, angina instável, arritmia)
4 ciclos de tratamento, sendo que cada ciclo consistia em: vemurafenibe 960 mg oral 2 vezes ao dia por 28 dias, em combinação com cobimetinibe 60 mg oral 1 vez ao dia por 21 dias
Não aplicável, todos os pacientes receberam a intervenção.
Após 4 ciclos, os pacientes eram submetidos a tratamento definitivo com cirurgia ou radioterapia. Porém, a critério dos investigadores, os pacientes poderiam manter o tratamento após 4 ciclos, se tivessem uma boa resposta, evitando um tratamento definitivo radical ou não receberem nenhuma adjuvância
Primário: mudança no volume da lesão
Secundários: sobrevida livre de progressão, sobrevida global, resposta com estabilidade tumoral (ausência de crescimento pelo menos), efeitos colaterais
16 pacientes incluídos
Brancos: 69%
Idade em anos: 51,1±12,9
Homens: 44%
ECOG 0 ou 1: 94%
Tratamento inicial do tumor: 31% com ressecção < 50%, 25% com ressecção subtotal > 50%, 25% somente biópsia (sem tratamento primário prévio), 19% recorrência após ressecção total
Mediana de tamanho tumoral em cm3: 2.75
Mediana de ciclos: 8
Follow-up mediano de 22 meses
15 dos 16 pacientes (94%) tiveram redução volumétrica do tumor (completa ou parcial). O único paciente que teve progressão foi retirado do estudo devido a toxicidade da combinação, sendo que a usou por menos de 1 ciclo inteiro.
A redução do tumor foi significativa, em torno de 91%, tanto de componente sólido quanto cístico.
A sobrevida livre de progressão foi de 87% (95% IC, 57-98) aos 12 meses e 58% (95% IC, 10-89) aos 24 meses.
Sobrevida global foi de 100% aos 12 e 24 meses
Após o ciclo de tratamento, 6 pacientes receberam radioterapia, 1 paciente recebeu radioterapia e foi submetido a cirurgia, 1 paciente recebeu radioterapia combinada com dabrafenibe (outro inibidor de BRAF), 1 paciente continuou o tratamento com vemurafenibe e cobimetinibe, e 7 pacientes não necessitaram de qualquer tratamento adicional.
Quase todos os pacientes tiveram algum efeito colateral, sendo os mais comuns rash e aumento de fibrilação atrial; 3 pacientes suspenderam precocemente a medicação por efeitos graves (mediana de tratamento de 31 dias)
A combinação vemurafenib–cobimetinib reduz de maneira significativa o tamanho tumoral em pacientes com craniofaringioma papílifero BRAF V600E mutados
Estudo multicêntrico, com maior validade externa.
Estudo pioneiro, preenchendo uma lacuna terapêutica significativa para o tratamento de craniofaringiomas papilares com mutação BRAF V600E.
Amostra pequena, apesar de o poder estatístico ser considerado adequado, limita a generalização dos resultados.
Follow-up curto (menos de 2 anos), inadequado para avaliar a recidiva, que pode ocorrer em até 50% dos casos de craniofaringioma a longo prazo.
Estudo intervencionista, mas não randomizado e sem comparação com grupo placebo/controle, aumentando o risco de vieses, como o de seleção e a falta de controle sobre fatores de confusão.
Autor do conteúdo
Matheo Stumpf
Referências
Públicação Oficial
https://app.doctodoc.com.br/conteudos/inibidor-de-braf-mek-em-craniofaringioma-papilifero-recem-diagnosticado
Compartilhe
Copyright © 2024 Portal de Conteúdos MEDCode. Todos os direitos reservados.