Infusão de Apolipoproteína A1 e Desfechos Cardiovasculares Após Infarto Agudo do Miocárdio
17 de setembro de 2024
5 minutos de leitura
Em pacientes com histórico de IAM, a infusão de Apolipoproteína A1 é mais eficaz do que placebo na prevenção de eventos cardiovasculares?
Eventos cardiovasculares frequentemente recorrem após IAM, e o baixo efluxo de colesterol — um processo mediado pela apolipoproteína A1, a principal proteína na lipoproteína de alta densidade — tem sido associado com um risco elevado de eventos cardiovasculares.
A CSL112 é uma apolipoproteína A1 humana derivada do plasma que aumenta a capacidade do efluxo de colesterol. No entanto, ainda não está claro se as infusões da CSL112 podem reduzir o risco de eventos cardiovasculares recorrentes após IAM. Dessa forma, foi realizado o AEGIS-II, com o objetivo de avaliar eficácia e segurança da infusão de apolipoproteína A1 (CSL112) para evitar recorrência de eventos em pacientes após IAM.
Ensaio clínico randomizado
Multicêntrico
Duplo cego
Com base em 5% dos pacientes com um evento em 75% da seleção planejada, o número amostral alvo definido foi de 18.200 pacientes, visando 905 eventos de desfecho primário, o que manteve um poder do estudo de 90%.
Razão 1:1, em 2 grupos: grupo intervenção (que receberia CSL112) e 9107 no grupo controle (que receberia placebo).
Pacientes com infarto do miocárdio tipo 1 (espontâneo), selecionados entre 2018 e 2022.
Idade ≥ 18 anos
Necrose miocárdica, em um cenário clínico consistente com IAM com supra ou sem supra de ST do tipo 1.
Ausência de suspeita de injúria renal aguda por pelo menos 12h após a infusão de contraste intravenoso (para os pacientes submetidos à angiografia) ou após o primeiro contato médico para o evento índice (naqueles que não realizaram angiografia).
Doença arterial coronariana multivascular.
Fatores de risco cardiovasculares estabelecidos, definidos como diabetes mellitus sob farmacoterapia ou ≥2 dos seguintes: idade ≥65 anos, história prévia de infarto do miocárdio e doença arterial periférica.
Classificação NYHA III ou IV de insuficiência cardíaca no último ano, Killip classe III ou IV, hipotensão sustentada ou sintomática e fração de ejeção de ventrículo esquerdo < 30%.
Doença hepatobiliar
Doença renal crônica grave (taxa de filtração glomerular < 30ml/min/1,73m² ou pacientes dialíticos).
Cirurgia de revascularização miocárdica planejada como tratamento para o IAM índice.
História de alergias ou hipersensibilidade à soja, amendoim, à substância investigada, seus excipientes ou ao placebo.
História conhecida de deficiência de IgA ou anticorpos para IgA.
Infusão de apolipoproteína A1 intravenosa (CSL112 6g)
Placebo (albumina intravenosa)
A primeira infusão de CSL112 ou placebo era realizada pelo menos 12 horas após o paciente apresentar IAM ou pelo menos 12 horas após a administração de contraste intravenoso (se usado para angiografia).
As infusões eram semanais e feitas por 4 semanas consecutivas.
Primário: composição de infarto do miocárdio, acidente vascular encefálico (AVC) ou morte por causas cardiovasculares, desde o dia da randomização até o dia 90 do estudo.
Secundários: número total de hospitalizações por isquemia coronariana, cerebral ou periférica desde o dia da randomização até o dia 90 do estudo, além da composição de infarto do miocárdio, AVC ou morte por causas cardiovasculares desde o dia da randomização até o dia 180 e dia 365 do estudo.
MasculinoFeminino
Grupo Intervenção (N=9112) x Grupo Controle (N=9107):
Idade (anos): 65,6±10,1 x 65,4±10,2
Brancos: 85,3% x 84,5%
Negros: 2% x 2%
Asiáticos: 8,2% x 8,6%
IMC: 29,02±4,99 x 29,08±5,16
Tabagismo: 26% x 26,1%
Diabetes (necessitando de farmacoterapia): 68,9% x 68,6%
Doença arterial periférica: 12,5% x 12,7%
Infarto do miocárdio prévio: 36,5% x 36,8%
Revascularização coronariana prévia: 38,5% x 38,4%
Insuficiência cardíaca: 9,8% x 10,4%
AVC: 5,1% x 5,4%
Hipertensão: 79,7% x 79,2%
Hipercolesterolemia: 64,1% x 63,5%
Tipos de IAM:
Com supra: 50,5% x 50,5%
Sem supra: 49,5% x 49,5%
Não houve diferença significativa entre os grupos no risco de infarto do miocárdio, AVC ou morte por causas cardiovasculares desde a randomização até o dia 90 do estudo (439 pacientes [4,8%] no grupo intervenção versus 472 pacientes [5,2%] no grupo controle tiveram um primeiro evento; hazard ratio 0,93; 95% IC 0,81 a 1,05; p=0,24).
A taxa média de hospitalizações por isquemia coronariana, cerebral ou periférica em 90 dias foi similar entre os grupos (0,045 versus 0,047; taxa de razão 0,97; 95% IC 0,84 a 1,12).
A taxa de pacientes com primeira ocorrência de infarto do miocárdio, AVC ou morte por causas cardiovasculares não foi significativamente menor no grupo intervenção em 180 dias (622 pacientes [6,9%] versus 683 pacientes [7,6%]; hazard ratio 0,91; 95% IC 0,81 a 1,01) ou em 365 dias de seguimento (885 pacientes [9,8%] versus 944 pacientes [10,5%]; hazard ratio 0,93; 95% IC 0,85 a 1,02).
Porcentagem similar de pacientes apresentaram eventos adversos no grupo intervenção e no grupo controle.
Entre pacientes com IAM, a infusão de apolipoproteína A1 não reduziu a ocorrência de eventos cardiovasculares em 90 dias quando comparada ao placebo.
Elevado número de pacientes incluídos no estudo.
Avaliou pacientes em situação de descompensação aguda, o que é altamente relevante para a prática clínica.
Incluiu pacientes com infarto agudo do miocárdio (IAM), com e sem supra de ST, permitindo que os resultados sejam aplicáveis a ambos os cenários clínicos.
Proporção equilibrada de comorbidades entre os grupos, evitando assim viés de seleção.
Baixa representatividade de pacientes do sexo feminino.
Pouca diversidade étnica na amostra.
Utilização de um desfecho composto como desfecho primário, o que pode comprometer a confiabilidade dos resultados, uma vez que os desfechos não são avaliados individualmente.
Autor do conteúdo
Carolina Ferrari
Referências
Públicação Oficial
https://app.doctodoc.com.br/conteudos/infusao-de-apolipoproteina-a1-e-desfechos-cardiovasculares-apos-infarto-agudo-do-miocardio
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