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    Influência da piora da função renal e da doença renal crônica em pacientes com síndromes coronarianas crônicas: insights do estudo REAL-CAD

    18 de março de 2025

    6 minutos de leitura

    Pergunta

    • A piora da função renal ou a doença renal crônica interferem em desfechos cardiovasculares em pacientes com síndrome coronariana crônica tratados com terapia médica ideal?

    Background

    • A doença renal crônica (DRC) está associada a piores desfechos em pacientes com doença arterial coronariana, incluindo síndrome coronariana crônica (SCC) e agudas (SCA). A progressão da DRC agrava a doença arterial coronariana, aumenta o risco de calcificação coronariana e reduz a sobrevida em casos de infarto agudo do miocárdio. Embora o impacto da piora da função renal seja bem estabelecido em alguns contextos, seu efeito sobre os desfechos clínicos na era moderna de intervenção coronária percutânea (ICP) e terapia médica otimizada (TMO) ainda é incerto. Este estudo é uma análise secundária do estudo REAL-CAD e avaliou a influência da DRC basal, piora da função renal (queda anual de Taxa de Filtração Glomerular estimada TFGe ≥20%) e função renal limítrofe (queda anual de 0% < TFGe < 20%) nos desfechos cardíacos e cerebrovasculares adversos maiores (MACCE).

    Desenho do Estudo

    • Análise secundária do estudo REAL-CAD

    • REAL-CAD: 

      • Ensaio clínico prospectivo, randomizado, multicêntrico realizado no Japão.

      • Aberto, com cegamento do desfecho.

      • Randomização em proporção 1:1, estratificado por centro, idade, sexo, presença de diabetes e uso prévio de estatina.

      • Objetivo de avaliar se a terapia com altas doses (pitavastatina 4 mg/dia) versus baixa dose (pitavastatina 1 mg/dia) poderia reduzir os eventos cardiovasculares em pacientes com SCC.

      • Financiado pela indústria (Kowa Pharmaceutical Co Ltd).

    • Subanálises Baseadas na Função Renal:

      • DRC Basal: Definida como TFGe < 60 mL/min/1,73 m².

      • Piora da função renal (queda anual da taxa de filtração glomerular - TFGe ≥20%).

      • Função Renal Limítrofe: Diminuição anual da TFGe de 0% a 20%.

      • Função Renal Estável: Sem redução da TFGe no período avaliado.

    População

    • Pacientes com Síndrome Coronariana Crônica entre 2010 e 2013.

    Critérios de Inclusão

    • Homens e mulheres de 20 a 80 anos de idade

    • SCC, conforme definido por uma história de SCA ou revascularização coronária >3 meses antes ou um diagnóstico clínico de DAC com estenose da artéria coronária documentada angiograficamente de pelo menos 75% de estreitamento do diâmetro de acordo com a classificação da American Heart Association. 

    Critérios de Exclusão

    • Pacientes em hemodiálise.

    • Revascularização coronariana programada.

    • Histórico de hipersensibilidade à pitavastatina.

    • Distúrbio hepático grave ou obstrução das vias biliares.

    • Mulheres grávidas, potencialmente grávidas ou lactantes.

    • Insuficiência cardíaca grave (fração de ejeção do ventrículo esquerdo <30% ou classificação NYHA classe III ou superior).

    Intervenção

    • Pitavastatina em alta dose (4 mg/dia).

    Controle

    •  Pitavastatina em baixa dose (1 mg/dia).

    Desfechos

    • Primário: uma combinação de morte cardiovascular, infarto do miocárdio não fatal, acidente vascular cerebral ou angina instável que requer hospitalização (eventos cardíacos e cerebrais adversos maiores [MACCE]). 

    Características dos Pacientes

     

    Masculino (83% Masculino)Feminino (17% Feminino)
    Masculino
    Feminino

     

    12118 pacientes | Homens = 83% e Mulheres = 17%

    Sem Doença Renal Crônica (n=7778) x Doença Renal Crônica (n=4340)

    • Masculino: 83,8% x 80,9%

    • Idade, anos: 66 x 71

    • Índice de massa corporal: 24,6 x 24,4

    • História de infarto do miocárdio: 51,3% x 51,9%

    • História de angina instável: 26,1% x 24,4%

    • ICP anterior: 84,6% x 81,9%

    • Cirurgia de revascularização do miocárdio prévia: 10,7% x 16,4%

    • História de AVC isquêmico: 5,6% x 9,2%

    • História de AVC hemorrágico: 1,0% x 1,4%

    • Fibrilação atrial: 4,5% x 9,3%

    • Insuficiência cardíaca congestiva: 4,3% x 7,1%

    • Doença arterial periférica: 5,8% x 9,1%

    • Diabetes: 38,0% x 44,0%

    • Hipertensão: 72,9% x 80,9%

    • Tabagismo atual: 18,0% x 13,3%

    • Malignidade: 4,5% x 6,9%

    • TFGe, mL/min por 1,73 m²: 75,4 x 48,9

    • Estatinas antes do período inicial: 91,2% x 90,3%

    • Pitavastatina 1 mg: 49,9% x 50,7%

    • Pitavastatina 4 mg: 50,1% x 49,3%

    • Aspirina: 93,1% x 91,4%

    • Tienopiridina: 47,9% x 46,0%

    • Terapia antiplaquetária dupla: 45,4% x 42,3%

    • BB: 12,3% x 18,1%

    • BCC: 45,2% x 49,0%

    • IECA/BRA: 65,6% x 70,7%

    Resultados

    • Pacientes com doença renal crônica tiveram mais eventos cardiovasculares que aqueles sem DRC.

    • A taxa de eventos MACCE em 5 anos foi de 5,5% nos pacientes sem DRC e de 9,5% nos pacientes com DRC (P<0,0001). 

    • Excluiu-se 1247 pacientes que em 1 ano de acompanhamento tiveram MACCE, foram censurados ou perderam a TFGe. Ao analisar os 10.871 pacientes restantes 3885 eram DRC basal e os 6986 restantes não tinham DRC basal. Dos 10.871 pacientes, 577 pacientes apresentaram piora da função renal, 6014 pacientes apresentaram função renal limítrofe e os 4280 pacientes restantes mantiveram função renal estável. 

    • Em pacientes com DRC, a piora da função renal foi um preditor independente para MACCE em 4 anos em comparação com a função renal estável (razão de risco [HR]: 1,67; [IC 95%, 1,03 a 2,73; p=0,039]). 

    • Em pacientes sem DRC, a função renal limítrofe foi um preditor significativo para MACCE em 4 anos em comparação com a função renal estável (HR: 1,40 [IC 95%, 1,03 a 1,91; p=0,032]).

    Conclusões

    • DRC basal, piora da função renal em pacientes com DRC prévia e função renal limítrofe foram preditores independentes para desfechos cardiovasculares (MACCE) em pacientes com síndrome coronariana crônica.

    Pontos Fortes

    • O estudo abrangeu um total de 12.118 pacientes com síndrome coronariana crônica, garantindo solidez estatística.

    • Conduzido de forma multicêntrica e randomizada, minimizando vieses e fortalecendo a validade interna dos achados.

    • Importância clínica: A associação entre DRC, piora da função renal e eventos cardíacos e cerebrais adversos maiores (MACCE) destaca a necessidade de monitoramento renal em pacientes com doenças cardiovasculares.

    Pontos Fracos

    • A maioria dos pacientes era de origem asiática, o que pode limitar a aplicabilidade dos resultados para outras populações.

    • Este estudo baseou-se na análise retrospectiva de dados provenientes de um grande ensaio clínico. Assim, embora os resultados sejam biologicamente plausíveis, é necessária sua confirmação em outras coortes.

    • O estudo foi conduzido em um período anterior à disponibilidade de evidências que respaldassem o uso de inibidores de SGLT2 em pacientes com DRC.

    • O estudo se concentrou na TFGe, mas não foi abordado a proteinúria/microalbuminúria.

    • A exclusão de pacientes que tiveram MACCE, foram censurados ou tinham eGFR faltante dentro de um ano pode introduzir um viés de seleção.


    Autor do conteúdo

    Mariane Shinzato


    Referências

    Públicação Oficial

    https://app.doctodoc.com.br/conteudos/influencia-da-piora-da-funcao-renal-e-da-doenca-renal-cronica-em-pacientes-com-sindromes-coronarianas-cronicas-insights-do-estudo-real-cad


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