Qual o Contexto? 

No Congresso Internacional de Obesidade 2024, que aconteceu em São Paulo, um simpósio sobre a escolha de dietas no tratamento da obesidade trouxe à tona uma discussão sobre dietas com redução de carboidratos comparadas a dietas com redução de gorduras, dieta cetogênica e jejum intermitente, apresentando dados científicos importantes que analisaram sua eficácia em comparação com a dieta convencional.

Resumo da discussão

 Dr. Kevin Hall (Estados Unidos) falou sobre "Guerra entre dietas: desvendando o modelo de carboidratos-insulina e o modelo de equilíbrio energético" e apresentou dados comparando dietas com redução de carboidratos e dietas com redução de gorduras e seu impacto metabólico. Em 2015, Hall identificou que dietas com redução de carboidratos resultaram em uma redução significativa na secreção diária de insulina e maior oxidação de gorduras em comparação com dietas de redução de gorduras, que mostraram maior perda cumulativa de gordura corporal. Ele realizou uma pesquisa com uma dieta low carb cetogênica isocalórica para participantes internados por dois meses, mostrando redução rápida e persistente na secreção de insulina e aumento na oxidação de gorduras, embora não houvesse diferença significativa no gasto energético. Em 2021, Hall publicou um estudo que avaliou a composição da dieta e sua influência na ingestão energética ad libitum, comparando uma dieta rica em carboidratos e pobre em gordura com uma dieta rica em gordura e pobre em carboidratos. Novamente, a dieta pobre em carboidratos promoveu redução importante na insulina pós-prandial, enquanto a dieta rica em carboidratos aumentou a secreção de insulina em 60%. Ele concluiu que a regulação do peso corporal é mediada pelo cérebro em resposta a sinais externos e neuroendócrinos, sendo influenciada por alimentos ultraprocessados e ricos em energia.

A Dra. Cynthia Valerio (IEDE, Rio de Janeiro) discutiu "Dietas cetogênicas: amigo ou inimigo?", mostrando que dietas cetogênicas promovem um estado metabólico cetogênico, aumentando níveis de corpos cetônicos circulantes. Histórias de dietas cetogênicas remontam a Hipócrates, com aplicações modernas como as dietas do Dr. Atkins e Dr. Dunkan. Ela destacou o efeito terapêutico bem estabelecido das dietas cetogênicas na epilepsia resistente a medicamentos. No manejo da obesidade, dietas cetogênicas de muito baixas calorias podem ser utilizadas em condições específicas com monitoramento rigoroso, mas evidências sugerem que a perda de peso a longo prazo é comparável à obtida com outras dietas.

Qual o Impacto na Prática? 

Uma composição saudável de macronutrientes é fundamental para melhorar as taxas de mortalidade e resultados de saúde. O foco na prática deve ser não apenas a perda de peso, mas a promoção da saúde, independentemente da dieta escolhida. A escolha da dieta deve considerar a saúde geral do paciente e os impactos a longo prazo, garantindo uma abordagem equilibrada e sustentável para o tratamento da obesidade.

Texto elaborado por: Dra. Andressa Leitão, Endocrinologista, presidente da SBD-PR