Finerenona em Insuficiência Cardíaca com Fração de Ejeção Levemente Reduzida ou Preservada
17 de setembro de 2024
6 minutos de leitura
A finerenona reduz a taxa de piora de insuficiência cardíaca e morte por causas cardiovasculares em pacientes com insuficiência cardíaca com fração de ejeção levemente reduzida ou preservada?
A insuficiência cardíaca (IC) com fração de ejeção do ventrículo esquerdo (FEVE) levemente reduzida ou preservada, definida como FEVE superior a 40%, representa cerca de 50% dos casos de IC. Os antagonistas do receptor de mineralocorticoide (ARM) esteroidais, como a espironolactona, demonstraram eficácia na redução da morbidade e mortalidade em pacientes com insuficiência cardíaca (IC) e fração de ejeção do ventrículo esquerdo (FEVE) reduzida. No entanto, no estudo TOPCAT, a espironolactona não mostrou benefícios claros para pacientes com IC e FEVE preservada, embora análises post-hoc tenham sugerido que uma parte dos participantes possivelmente não tinha IC. Nesse contexto, a finerenona, um antagonista dos receptores mineralocorticoides não esteroidal com propriedades físico-químicas diferentes dos ARMs esteroidais, como a espironolactona, surge como uma alternativa. Contudo, a relação entre sua eficácia e segurança em pacientes com FEVE superior a 40% ainda precisava ser mais bem estabelecida.
Ensaio clínico randomizado
Multicêntrico e internacional
Duplo-cego
Foi estimado que um total de 2.375 eventos de desfechos primários forneceriam ao estudo 90% de capacidade de detectar uma taxa de eventos 19% menor no grupo finerenona do que no grupo placebo
A análise primária foi realizada de acordo com o princípio de intenção de tratar.
Estudo financiado pela Bayer
Pacientes com IC e FEVE maior ou igual a 40%, incluídos entre 2020 e 2023
Idade ≥40 anos
Insuficiência cardíaca sintomática (classe II-IV da NYHA)
FEVE ≥40%
Evidência de doença cardíaca estrutural e elevação dos níveis de peptídeos natriuréticos
Todos os pacientes necessitavam de níveis elevados de peptídeo natriurético:
NT-proBNP ≥300 pg/ml (ou BNP ≥100 pg/ml) para pacientes em ritmo sinusal, com níveis triplicados para aqueles em fibrilação atrial no momento da triagem
TFGe <25 mL/min/1,73 m2
K >5,0 mmol/L
Infarto do miocárdio, cirurgia de revascularização do miocárdio ou acidente vascular cerebral ≤90 dias antes
Intervenção coronária percutânea ≤30 dias antes
Comorbidades que podem contribuir para a dispneia, como insuficiência respiratória hipóxica crônica decorrente de doença pulmonar, hemoglobina <10 g/dL, índice de massa corporal ≥50 kg/m2).
Finerenona VO 1x ao dia
Numa dose máxima de 20 mg ou 40 mg uma vez por dia, dependendo da taxa de filtração glomerular estimada).
Iniciada com 20 mg por dia (10 mg se a TFGe <60 mL / min / 1,73 m2) e titulada após 4 semanas com base nos níveis de potássio e se a TFGe não diminuísse mais do que 30%
Placebo VO 1x ao dia
Ambos os grupos receberam terapia usual padrão para insuficiência cardíaca
Primário: desfecho composto de total agravamento de insuficiência cardíaca
Definido como a primeira ou hospitalização não planejada ou visita urgente por insuficiência cardíaca e morte por causas cardiovasculares.
Secundários: total de agravamento dos eventos de insuficiência cardíaca; mudança na linha de base na pontuação total de sintomas no Kansas City; as pontuações variam de 0 a 100, com pontuações mais altas indicando menos sintomas e limitações físicas nos meses 6, 9 e 12; melhora na classe funcional da New York Heart Association (NYHA) no 12º mês; e composto renal (um composto de uma diminuição sustentada na a TFGe de ≥50%, um declínio sustentado na TFGe para <15 ml por minuto por 1,73 m² da área de superfície corporal, ou o início da diálise a longo prazo ou transplante renal), avaliado em uma análise de tempo até o evento; morte por doenças cardiovasculares também foram avaliadas.
MasculinoFeminino
Finerenona (N=3003) x Placebo (N=2998)
Idade (anos): 71,9 x 72
Sexo feminino (%): 45,1 x 45,9
Internação prévia por IC (%): 59,8 x 60,8
PAS (mmHg): 129,5 x 129,3
IMC (kg/m²): 29,9 x 30
Creatinina (mg/dl): 1,1 x 1,1
ClCr (ml/min/1,73m²): 61,9 x 62,3
Albumina/creatinina urinária (mg/g): 18 x 19
Potássio (mmol/L): 4,4 x 4,4
FEVE (%):
52,6 x 52,5
Menor ou igual a 50%: 36,5 x 36
Entre 50-60%: 44,3 x 44,9
Maior ou igual a 60%: 19,2 x 19,1
Níveis de NT pró BNP (pg/ml): 1053 x 1028
NYHA (%):
II: 69,3 x 68,9
III: 30,1 x 30,4
IV: 0,6 x 0,8
Hipertensão Arterial Sistêmica (%): 87,9 x 89,6
DM tipo 2 (%): 40,5 x 40,8
FA (%): 38,8 x 37,6
AVC (%): 11,8 x 11,8
IAM (%): 26,1 x 25,3
Histórico de FEVE <40% (%): 4,9 x 4,9
Medicações em uso (%):
Beta bloqueador: 11,8 x 11,8
IECA: 26,1 x 25,3
BRA: 4,9 x 4,9
INRA: 8,5 x 8,6
BCC: 31,9 x 33,7
iSGLT2: 13,1x 14,1
Diurético de alça: 87,2 x 87,4
Diurético tiazídico:14,3 x 13,4
Reposição de potássio: 11,6 x 12,2
Agonista de GLP1: 2,6 x 2,9
Em um acompanhamento médio de 32 meses, a finerenona reduziu significativamente a taxa de eventos de IC e morte cardiovascular em comparação com o placebo (RR 0,84; IC 95%, 0,74-0,95; P=0,007).
Desfecho secundário (finerenona vs placebo):
Agravamento de eventos de IC: 842 vs. 1024 eventos (RR 0,82, IC 95% 0,71-0,94, p = 0,007)
Morte cardiovascular: 8,1% vs. 8,7% (razão de risco [HR] 0,93, IC 95% 0,78-1,11)
Mortalidade por todas as causas: 16,4% vs. 17,4% (HR 0,93, IC 95% 0,83-1,06)
Melhora na classe funcional da NYHA no mês 12 foi observada em 557 pacientes (18,6%) no grupo da finerenona e 553 pacientes (18,4%) no grupo placebo (1,01; IC 95%, 0,88 a 1,15).
Alteração da pontuação basal do Questionário de Cardiomiopatia de Kansas City (KCCQ) em 12 meses: +8,0 vs. +6,4, diferença 1,6 (IC 95% 0,8-2,3, p < 0,001)
Diminuição sustentada da TFGe ≥50% ou para <15 mL/min/1.73 m2, nova necessidade de diálise ou transplante renal: 2,5% vs. 1,8% (HR 1,33, IC 95% 0,94-1,89)
Desfecho de segurança (finerenona vs. placebo):
Potássio sérico >5,5 mmol/L: 14,3% vs. 6,9%
Hipercalemia resultando em hospitalização: 0,5% vs. 0,2%
Potássio sérico <3,5 mmol/L: 4,4% vs. 9,7%
Pressão arterial sistólica <100 mmHg: 18,5% vs. 12,4%
Em pacientes com insuficiência cardíaca e fração de ejeção levemente reduzida ou preservada, a finerenona resultou em uma taxa significativamente menor de um composto de piora de insuficiência cardíaca e morte por causas cardiovasculares em comparação com o placebo
Diferentemente do TOPCAT, o estudo adotou diversos critérios de inclusão para assegurar que a população participante fosse composta por pacientes com insuficiência cardíaca, tanto do ponto de vista sintomático quanto fisiológico. Entre esses critérios estavam o uso de diurético por pelo menos 30 dias e níveis elevados (≥ 300 pg/mL) do fragmento N-terminal do peptídeo natriurético tipo B (NT-proBNP)
Metodologia adequada: randomizado, cego, príncipio de intenção de tratar
Apenas 0,3% de perda de seguimento
Altas taxas de descontinuação. Entre os pacientes que receberam pelo menos uma dose, 611 (20,4%) no grupo da finerenona e 616 (20,6%) no grupo placebo descontinuaram a finerenona ou placebo
14% estavam em uso de iSGLT2. A taxa de pacientes que passaram a usar iSGLT2 durante o estudo não foi elencada, o que é um ponto importante a se considerar, tendo em vista as evidências recentes Classe I desta classe de medicação
Autor do conteúdo
Mariane Shinzato
Referências
Públicação Oficial
https://app.doctodoc.com.br/conteudos/finerenona-em-insuficiencia-cardiaca-com-fracao-de-ejecao-levemente-reduzida-ou-preservada
Compartilhe
Copyright © 2024 Portal de Conteúdos MEDCode. Todos os direitos reservados.