Qual o Contexto?

A estratégia ideal de anticoagulação em pacientes com fibrilação atrial detectada por dispositivos implantáveis (Device-Detected Atrial Fibrillation – DDAF) ainda não é bem estabelecida. A presença concomitante de doença vascular pode influenciar o risco-benefício da anticoagulação nesse contexto. Esta análise combinada dos estudos NOAH-AFNET 6 e ARTESiA avaliou o impacto da anticoagulação em pacientes com DDAF, comparando aqueles com e sem doença vascular. Os resultados mostraram que pacientes com DDAF e doença vascular apresentaram um risco aumentado de acidente vascular cerebral (AVC) e eventos cardiovasculares, e que a anticoagulação reduziu significativamente esses eventos nesse grupo.

Como o Estudo Foi Feito?

Foram analisados 6546 pacientes dos estudos NOAH-AFNET 6 e ARTESiA, comparando anticoagulação com edoxabana ou apixabana versus não anticoagulação em DDAF com ou sem doença vascular. Os desfechos primários incluíram AVC, embolia arterial sistêmica (ES), infarto do miocárdio (IAM), embolia pulmonar e morte cardiovascular. A segurança foi avaliada pelo risco de sangramento maior e mortalidade.

• Pacientes com doença vascular (NOAH-AFNET 6: 56%; ARTESiA: 46%) apresentaram redução do risco cardiovascular com anticoagulação: NOAH-AFNET 6: 3,9% vs. 5,0%/paciente-ano (HR 0,78; IC 95%: 0,54–1,12). ARTESiA: 3,2% vs. 4,4%/paciente-ano (HR 0,74; IC 95%: 0,57–0,96). Pacientes sem doença vascular tiveram taxas semelhantes de eventos com ou sem anticoagulação: NOAH-AFNET 6: 2,7% vs. 2,7%/paciente-ano. ARTESiA: 2,3% vs. 2,3%/paciente-ano.

• Sangramento maior aumentou com anticoagulação, tanto com doença vascular (HR 1,55; IC 95%: 1,10–2,20) quanto sem (HR 1,93; IC 95%: 0,72–5,20). 

Qual o Impacto na Prática?

Os achados sugerem que pacientes com DDAF e doença vascular apresentam maior risco de eventos tromboembólicos e podem se beneficiar da anticoagulação, apesar do aumento no risco de sangramento. Em contrapartida, pacientes sem doença vascular não apresentaram benefício significativo com a anticoagulação. Portanto, recomenda-se monitorização regular dos dispositivos implantáveis para detecção precoce de DDAF, especialmente em pacientes com doença vascular, nos quais a anticoagulação pode reduzir o risco de eventos tromboembólicos. Para pacientes sem doença vascular, a decisão de anticoagular deve ser individualizada, considerando o baixo risco de eventos e o potencial aumento de sangramentos.