Residente Colaborador:

Gabriela Campos Rezende

Pergunta:

• Qual tipo de atividade física é mais eficaz na melhoria da funcionalidade e na redução da fragilidade em idosos obesos? 

Background:

• A obesidade é uma condição crônica que tem um impacto significativo na saúde e na qualidade de vida da população. Em idosos, ela é particularmente complexa, pois se relaciona a piora do declínio funcional e causa fragilidade. Embora a gordura corporal excessiva aumente os riscos de muitas condições, a perda de peso pode resultar em perda de massa muscular, o que aumenta a fragilidade. Por outro lado, a atividade física tem efeitos positivos na capacidade funcional e na massa muscular. Portanto, este estudo foi realizado para avaliar qual tipo de exercício, quando associado à perda de peso, é mais eficaz para melhorar a funcionalidade física e preservar a massa muscular e óssea em idosos obesos.

Desenho do Estudo:

• Ensaio clínico randomizado

• Estudo cego para os avaliadores

• Bicêntrico (Estados Unidos)

• Duração de 26 semanas

• Randomização com proporção 1:1:1:1, divididos de acordo com o tipo de atividade física: dieta + exercício aeróbico; dieta + exercício de resistência; dieta + exercícios aeróbicos e de resistência; dieta isolada (grupo controle)

• Foi estimado que 40 participantes por grupo forneceriam 80% de poder estatístico para detectar uma diferença clinicamente relevante de 1,8 pontos (±2,5) no escore do Physical Performance Test com um nível de significância (alfa) de 0,05

População:

• Idosos obesos, sedentários, e com fraqueza leve a moderada.

Critérios de Inclusão:

• Idade de 65 anos ou mais

• IMC maior ou igual a 30 kg/m2

• Sedentarismo (exercício regular <1 hora por semana)

• Peso corporal estável (perda ou ganho de no máximo 2 kg em 6 meses)

Critérios de Exclusão:

• Doença cardiopulmonar grave (por exemplo, infarto do miocárdio recente ou angina instável)

• Deficiências musculoesqueléticas, neuromusculares ou cognitivas que impediam o treinamento físico  

• Uso de medicamentos que afetam o metabolismo ósseo 

Intervenção:

• Dieta + exercício aeróbico (dieta com déficit energético de 500 a 750 kcal por dia e sessões de treinamento de exercícios aeróbicos três vezes por semana)

• Dieta + exercício de resistência (dieta com déficit energético de 500 a 750 kcal por dia e sessões de treinamento de exercícios de resistência três vezes por semana)

• Dieta + exercícios aeróbicos e de resistência (dieta com déficit energético de 500 a 750 kcal por dia e sessões combinadas de treinamento de exercícios aeróbicos e de resistência três vezes por semana)

Controle:

• Dieta isolada (esse grupo compareceu a sessões educacionais em grupo sobre uma dieta saudável durante visitas mensais)

 Desfechos:

• Primários: mudança na pontuação no Teste de Desempenho Físico do início do estudo e após 6 meses (as pontuações variam de 0 a 36 pontos, pontuações mais altas indicam melhor desempenho).
• Secundários: mudanças em outras medidas de fragilidade, além do teste de desempenho físico, pela medição do consumo máximo de oxigênio e pela administração do Questionário de Status Funcional. Mudança da composição corporal, densidade mineral óssea, funções físicas específicas e qualidade de vida do início do estudo e após 6 meses.

 Características dos Pacientes:

 

Masculino
Feminino

 

• Controle (N=40) | Aeróbico (N=40) | Resistido (N=40) | Combinado (N=40) 

• Média de idade (anos): 70 anos

• Raça branca (%): 90% x 90% x 82% x 88%

• Escolaridade (Ensino médio completo em %): 50% x 50% x 30% x 48%

• IMC (kg/m2): 36,7 x 35,9 x 36,7 x 35,8

Resultados:

• O grupo de exercício combinado apresentou a maior melhora no desempenho físico, com um aumento de 21% no escore do Physical Performance Test (PPT) (27,9 para 33,4 pontos; mudança de 5,5 ± 0,4, p<0,001), enquanto os grupos aeróbico e de resistência mostraram aumentos de 14% cada (29,3 para 33,2 pontos e 28,8 para 32,7 pontos, respectivamente; P = 0,01 e P = 0,02 com correção de Bonferroni).

• O consumo máximo de oxigênio aumentou mais nos grupos combinado e aeróbico do que no grupo de resistência, com melhorias de 17% e 18% (17,2 para 20,3; mudança de 3,1 ± 0,3, e 17,6 para 20,9; mudança de 3,3 ± 0,3, respectivamente, p<0,001), enquanto o grupo de resistência apresentou um aumento de 8% (17,0 para 18,3; mudança de 1,3 ± 0,3, p<0,001).

• O grupo de exercício combinado também teve o maior aumento nos escores do Functional Status Questionnaire, com uma melhoria de 14% (29,8 para 33,4 pontos; mudança de 3,6 ± 0,3, p<0,001), comparado a 7% no grupo aeróbico (30,1 para 32,1; mudança de 2,0 ± 0,3) e 8% no grupo de resistência (29,3 para 31,6; mudança de 2,3 ± 0,3).

• A maior redução de peso corporal foi observada no grupo aeróbico, com uma diminuição de 9% (96,9 para 87,9 kg; mudança de -9,0 ± 0,6 kg, p<0,001).

• A massa magra foi melhor preservada nos grupos combinado e de resistência, com reduções menores de 3% e 2%, respectivamente (combinado: 56,5 para 54,8 kg; mudança de -1,7 ± 0,3 kg; resistência: 58,1 para 57,1 kg; mudança de -1,0 ± 0,3 kg, p<0,05).

• A maior redução na massa gorda foi observada nos grupos combinado e de resistência, ambos apresentando diminuições de 17% (combinado: 42,5 para 35,5 kg; mudança de -7,0 ± 0,5 kg; resistência: 44,3 para 37,0 kg; mudança de -7,3 ± 0,4 kg, p<0,001).

• O tempo necessário para completar uma pista de obstáculos diminuiu mais no grupo combinado (redução de 13%; 17,0 para 14,1 segundos; mudança de -2,9 ± 0,3 segundos, p<0,001) do que no grupo aeróbico (redução de 7%; 15,5 para 14,0 segundos; mudança de -1,5 ± 0,4 segundos).

Conclusões:

• A combinação de exercícios aeróbicos e de resistência foi a estratégia mais eficaz para melhorar o desempenho físico, preservar a massa magra e óssea e reduzir a massa gorda em idosos obesos submetidos à dieta. 

Pontos Fortes:

• Desenho de ensaio randomizado e controlado

• Altas taxas de adesão às intervenções do ensaio

• O gerenciamento de perda de peso semelhante entre os grupos, que permitiu comparações imparciais entre eles

• Avaliou critérios objetivos importantes, como a composição corporal

Pontos Fracos:

• Amostra pequena e insuficiente para analisar diferenças de acordo com o sexo

• Os indivíduos avaliados eram fisicamente capazes de realizar atividade física, o que não representa totalmente a população geral de idosos obesos

• População avaliada predominantemente de etnia branca com boa escolaridade, limitando uma generalização mais ampla

• Pouco tempo de acompanhamento, dificultando a avaliação do impacto da perda de peso neste grupo a longo prazo