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    Exercício Aeróbico, Resistido ou Combinados e Perfil de Risco Cardiovascular em Adultos com Sobrepeso ou Obesos

    16 de maio de 2024

    6 minutos de leitura

    Pergunta:

    • Qual tipo ou combinação de exercícios é mais eficaz para melhorar o perfil de risco de doença cardiovascular em adultos com sobrepeso ou obesidade?

    Background:

    • A doença cardiovascular é a principal causa de morte, representando aproximadamente um terço de todas as mortes globalmente. A atividade física, especialmente com exercícios aeróbicos, é uma importante estratégia para prevenção de doenças cardiovasculares. No entanto, poucos ensaios clínicos testaram diretamente se o exercício de resistência ou a combinação deste com os exercícios aeróbicos pode promover benefícios cardiovasculares similares ou maiores, quando comparado ao exercício aeróbico isolado. Portanto, uma das perguntas mais comuns, “Qual tipo ou combinação de exercícios é mais eficaz na prevenção de doença cardiovascular?” permanece sem resposta, especialmente em populações com sobrepeso ou obesidade, que estão sob elevado risco de doença cardiovascular. Dessa forma, foi realizado o estudo CARDIORACE, com o objetivo de comparar a eficácia de 1 ano de exercícios aeróbicos, exercícios de resistência e a combinação de exercícios aeróbicos e de resistência sobre o perfil de risco cardiovascular em pacientes com sobrepeso ou obesidade

    Desenho do estudo:

    • Ensaio clínico randomizado 

    • Unicêntrico (Estados Unidos) 

    • Unicego

    • Usando um modelo linear de efeito misto de 5% de significância, foi calculado que 100 participantes por grupo, com 10% de desistência, poderiam promover mais de 90% de poder para identificar o desfecho primário 

    • Randomização em 4 grupos em blocos permutados aleatórios e estratificados por etnia, sexo, idade e IMC

    População:

    • Pacientes com sobrepeso ou obesidade selecionados entre 2017 e 2020

    Critérios de inclusão:

    • Idade entre 35 e 70 anos

    • Pacientes não tabagistas

    • Pacientes inativos fisicamente, nos últimos 3 meses (que não preenchem os critérios de ≥ 150 min/semana de exercício moderado ou ≥ 75 min/semana de exercício aeróbico vigoroso e ≥ 2 dias/semana de exercício de resistência)

    • Pressão arterial elevada 

      • Pressão arterial sistólica/diastólica 120 – 139 / 80 – 89 mmHg, sem o uso de medicações anti-hipertensivas.

    Critérios de exclusão:

    • Doença cardiovascular ativa 

      • Infarto agudo do miocárdio e acidente vascular encefálico

    • Câncer

    • Artrite grave que prejudicasse o exercício físico

    Intervenção:

    • Grupo 1: Exercício de resistência

    • Grupo 2: Exercício aeróbico

    • Grupo 3: Combinação de exercícios de resistência e aeróbicos.

    Controle:

    • Ausência de exercícios

    Outros tratamentos e definições:

    • Os pacientes eram recrutados através de várias estratégias, tais como anúncios e envios de correspondência em massa. Se fossem considerados elegíveis, de acordo com critérios de índice de massa corporal (IMC) e pressão arterial, participavam de um período de “run-in” de 1 mês para aprender sobre os procedimentos do estudo e para a verificação de suas habilidades para aderir à intervenção de 1 ano, antes da randomização

    • Os pacientes do grupo controle não iam ao centro de pesquisa para realização de exercícios durante o primeiro ano, mas era oferecido 1 ano de exercício tardio (por exemplo, no segundo ano) para prevenir o abandono do estudo

    • Nos pacientes alocados nos grupos que realizariam atividade física, todas as sessões eram prescritas 3 vezes por semana por 60 minutos e consistiam em 5 minutos de aquecimento, 50 minutos de exercício de resistência (para o grupo que faria exercícios de resistência), 50 minutos de exercício aeróbico (para o grupo que faria exercícios aeróbicos) ou 25 minutos de resistência mais 25 minutos de exercícios aeróbicos (para o grupo da combinação dos exercícios), além de 5 minutos de desaquecimento

    • Todos os programas de exercícios eram prescritos individualmente, considerando os níveis de capacidade física, condições de saúde, adaptação a sessões anteriores e progresso; supervisionados por equipe treinada do estudo e gravados automaticamente usando um sistema de treinamento controlado por computador.

    • Era solicitado que todos os pacientes mantivessem seus estilos de vida e atividades físicas habituais fora das sessões de exercício. Além disso, todos os participantes, inclusive aqueles do grupo controle, receberam a mesma educação dietética (Dietary Approaches to Stop Hypertension – DASH), durante o período de “run-in” e aconselhamento com um nutricionista registrado, a cada 3 meses, para promover uma abordagem preventiva padrão para doenças cardiovasculares

    Desfechos:

    • Primário: mudança desde a avaliação inicial até 1 ano no Z-escore composto médio, mas não cumulativo, de pressão arterial sistólica, LDL colesterol, glicemia de jejum e percentual de gordura corporal

    • Secundários: mudança desde a avaliação inicial até 1 ano de fatores de risco cardiovascular emergentes (pressão arterial central, circunferência abdominal, capacidade cardiorrespiratória e força muscular)

    Características dos pacientes:

     

    Masculino (47% Masculino)Feminino (53% Feminino)
    Masculino
    Feminino

     

    • Grupo 1 (N=102) x Grupo 2 (N=101) x Grupo 3 (N= 101) x Grupo Controle (N=102)

    • Idade (anos): 50 (10) x 51(10) x 50 (10) x 50 (10)

    • IMC (kg/m²): 31,5 (5,2) x 31,1 (4,8) x 31,1 (5) x 31,2 (4,8)

    • Etnia

      • Brancos: 79% x 80% x 80% x 81%

      • Asiáticos: 15% x 10% x 10% x 8%

      • Negros: 4% x 2% x 5% x 3%

      • Outros: 2% x 8% x 5% x 8%

    • Condições médicas:

      • Diabetes Mellitus: 2% x 1% x 4% x 1%

      • Hipercolesterolemia: 19% x 29% x 17% x 25%

      • Doença cardiovascular parental: 35% x 38% x 31% x 34%

    • Atividade física (minutos / semana):

      • Atividade aeróbica moderada: 87 (145) x 93 (86) x 92 (107) x 95 (110)

      • Atividade aeróbica vigorosa: 20 (32) x 22 (34) x 18 (32) x 13 (24)

      • Atividade de fortalecimento muscular: 10 (20) x 15 (29) x 12 (31) x 16 (43)

    Resultados:

    • Ocorreu queda na composição Z-escore de risco cardiovascular em 1 ano no exercício aeróbico, quando comparado ao controle [diferença do controle, - 0,15 (IC95% -0,27 a -0,04); p=0,01] e no exercício combinado quando comparado ao controle [diferença -0,16 (-0,27 a -0,04); p=0,009]

    • No entanto, não houve diferença na composição Z-escore de risco cardiovascular no exercício de resistência quando comparado ao controle [diferença -0,02 (-0,14 a 0,09); p=0,69]

    • Em relação a outros fatores de risco cardiovascular, ocorreu aumento do HDL colesterol no grupo do exercício de resistência, quando comparado ao controle [diferença 1,9 mg/dl (IC95% 0,1 – 3,7); p=0,04]; no grupo do exercício aeróbico, quando comparado ao controle [diferença 2 mg/dl (IC95% 0,2 – 3,9); p=0,03] e no grupo da combinação dos exercícios, quando comparado ao controle [diferença 2,3 mg/dl (IC95% 0,5 – 4,1); p=0,01]

    • Houve queda na circunferência abdominal no grupo do exercício aeróbico, quando comparado ao controle [diferença -1,9 cm (IC95% -3,7 a -0,2); p=0,03] e no grupo da combinação de exercícios, quando comparado ao controle [diferença -2,2 cm (IC95% -3,9 a -0,5); p=0,01]

    Conclusões:

    • Em adultos com sobrepeso ou obesidade, o exercício aeróbico isolado ou a combinação de exercício aeróbico e de resistência, mas não o exercício de resistência isolado, melhoraram o perfil de risco cardiovascular composto, quando comparado ao controle

    Pontos Fortes: 

    • Avaliou o impacto de diferentes modalidades de atividade física (aeróbico, resistido ou a combinação destes exercícios) sobre o risco cardiovascular de pacientes já sob risco de doenças cardiovasculares (pressão arterial alterada, sobrepeso ou obesidade). Dessa forma, possui forte relevância em nossa prática clínica

    • Durante o estudo, estimulou os pacientes a realizarem mudanças do ponto de vista dietético (com a orientação da dieta DASH e aconselhamento com nutricionista). Dessa maneira, também levou em consideração a importância da mudança alimentar para redução de risco cardiovascular.

    • Boa proporção de distribuição de comorbidades entre os grupos

    Pontos Fracos:

    • Estudo unicêntrico

    • Amostra pequena para avaliação de desfechos mais robustos 

    • Pouca heterogeneidade étnica – havia baixa proporção de pacientes negros

    • Excluiu paciente tabagistas que, como sabemos, também possuem risco cardiovascular elevado

    • Utilizou desfecho composto para seu desfecho primário, o que reduz a confiabilidade dos resultados

    • Avaliou apenas pacientes com sobrepeso ou obesidade e alterações pressóricas. Não podemos avaliar o impacto das intervenções do estudo sobre pacientes saudáveis, para prevenção de doenças cardiovasculares


    Autor do conteúdo

    Carolina Ferrari


    Referências

    Públicação Oficial

    https://app.doctodoc.com.br/conteudos/exercicio-aerobico-resistido-ou-combinados-e-perfil-de-risco-cardiovascular-em-adultos-com-sobrepeso-ou-obesos


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