Evinacumab em Hipercolesterolemia Homozigótica Familiar
13 de agosto de 2024
6 minutos de leitura
O Evinacumab é eficaz e seguro a longo prazo na redução dos níveis de LDL, em pacientes com hipercolesterolemia familiar homozigótica (HOF)?
A hipercolesterolemia familiar homozigótica (HOF) é uma desordem genética rara caracterizada por níveis de LDL colesterol gravemente elevados e doença cardiovascular aterosclerótica precoce. Um pilar fundamental para o tratamento desta doença seria o uso de terapia hipolipemiante. Apesar das recomendações atuais, raramente os alvos de LDL recomendados para este perfil de pacientes é alcançado, fazendo com que os portadores de HOF permaneçam sob risco elevado de mortalidade cardiovascular.
Assim, realizou-se este estudo fase 3 para avaliação da eficácia e segurança do uso de longo prazo do evinacumab, um inibidor tipo 3 da angiopoietina, em pacientes adultos e adolescentes, portadores de HOF.
Estudo não-randomizado
Braço único (sem controle) com duas populações
Evinacumab-virgem: pacientes que não haviam recebido evinacumab anteriormente ou que não haviam entrado no estudo dentro de 7 dias após a conclusão de um estudo anterior com evinacumab
Evinacumab-prévio: pacientes que haviam recebido evinacumab no estudo pivotal de fase 3
Multicêntrico – 38 centros, em 12 países
Aberto
Por ser um estudo aberto e de braço-único, não foi realizado cálculo de número amostral ideal. O objetivo era selecionar 120 pacientes, sendo que 14 deles deveriam ser adolescentes, com o objetivo de avaliar os efeitos do evinacumab em adolescentes com HOF
O estudo incluiu um período de run-in (≤ 10 semanas), um de triagem (2 semanas), um período aberto de tratamento (≤ 192 semanas) e um período de follow-up de 24 semanas, após a última dose da droga do estudo
Run-in foi para pacientes com diagnóstico não confirmado de HOF ou terapias hipolipemiantes não estáveis por ≥ 8 semanas, antes do início do estudo
A duração do estudo variou de meses até aproximadamente 4 anos
Pacientes adolescentes e adultos com hipercolesterolemia familiar homozigótica, virgens ou não de tratamento com evinacumab
Idade ≥ 12 anos
Diagnóstico funcional de HOF, definido por pelo menos 1 dos seguintes critérios:
Mutação funcional documentada ou mutações em ambos os alelos LDLR;
Presença de mutações homozigóticas ou heterozigóticas compostas nos genes APOB ou PCSK9;
Colesterol total não tratado > 500mg/dl e triglicerídeos < 300mg/dl e ambos os pais com colesterol total documentado > 250mg/dl ou
Presença de xantoma tendinoso ou cutâneo antes dos 10 anos de idade
História de eventos cardíacos e vasculares graves ou intervenções significativas nos últimos 3 meses antes da visita inicial
Qualquer doença endócrina conhecida clinicamente significativa e não controlada, que possa influenciar os lipídios séricos ou lipoproteínas
Diagnóstico novo de diabetes mellitus (≤ 3 meses antes da visita inicial) ou diabetes mal controlada (hemoglobina glicada > 9%)
Uso de corticoides sistêmicos (exceto se usado como terapia de reposição para doença adrenal/pituitária, com regime estável por ≥ 6 semanas antes da visita inicial)
Pressão arterial sistólica > 160mmHg ou diastólica > 100mmHg, na visita inicial.
Insuficiência cardíaca NYHA IV < 12 meses antes da seleção para o estudo
LDL colesterol < 70mg/dl na visita inicial
Evinacumab 15 mg/kg por via intravenosa, administrado a cada 4 semanas em pacientes virgens (grupo 1) ou que haviam recebido previamente (grupo 2)
No início do estudo (dia 1) e a cada 4 semanas, pacientes recebiam evinacumab e eram orientados a manter seu regime estável de terapia hipolipemiante, durante o tempo do estudo
Primário: incidência e gravidade dos eventos adversos emergentes do tratamento
Secundário: desfechos de eficácia (mudança percentual e absoluta, desde avaliação inicial e ao longo do tempo, no LDL-colesterol, apolipoproteína B (APOB), não-HDL colesterol, colesterol total e triglicerídeos em jejum).
MasculinoFeminino
Grupo virgem de evinacumab (N=46) x Grupo evinacumab prévio (N=70):
Idade (anos): 35,2 (16,5) x 41,2 (15,2)
Brancos: 67,4% x 70%
Negros: 4,3% x 2,9%
Asiáticos: 6,5% x 12,9%
IMC (kg/m²): 24,5 (5,2) x 26,4 (6,1)
Diagnóstico de HOF:
- Por genótipo: 71,7% x 74,3%
- Diagnóstico clínico: 28,3% x 25,7%
Terapias hipolipemiantes basais:
- Estatinas: 95,7% x 90%
- Estatinas de alta intensidade: 80,4% x 78,6%
- Ezetimiba: 78,3% x 81,4%
- Inibidor do PCSK9: 47,8% x 71,4%
- Lomitapida: 17,4% x 20%
- Aférese de lipoproteínas: 47,8% x 32,9%
LDL-colesterol (médio – mg/dl): 280 (128) x 264 (188)
Colesterol total (médio - mg/dl): 344 (120) x 332 (188)
Vale ressaltar que o número de pacientes variou em momentos posteriores do estudo, devido à pandemia do COVID-19
Incidência e gravidade dos eventos adversos emergentes do tratamento foram reportadas em 80,2% dos pacientes. Para a maioria, os eventos foram leves (23,3%) ou moderados (41,4%).
A incidência de eventos adversos e de eventos adversos graves foi maior no grupo evinacumab prévio, comparado ao grupo virgem de evinacumab (85,7% versus 71,7% e 31,4% versus 10,9%, respectivamente).
Os eventos adversos mais comuns foram nasofaringite (19,8%), doença pelo COVID-19 (16,4%), cefaleia (16,4%) e infecção influenza-like (13,8%).
Eventos adversos graves ocorreram em 23,3% dos pacientes, no entanto, nenhum dos eventos foi considerado relacionado ao tratamento com evinacumab.
Redução percentual média nos níveis de LDL-colesterol foi de 43,6%, desde a avaliação inicial até a semana 24, com uma diferença absoluta de 132 (124) mg/dl. As reduções médias nos níveis de LDL-colesterol se mantiveram na semana 48.
Na semana 24, a redução média percentual nos níveis de LDL-colesterol foi de 47,8% no grupo virgem de evinacumab e 41,3% no grupo evinacumab prévio.
O tratamento com evinacumab reduziu substancialmente os níveis de APOB, não-HDL colesterol e triglicerídeos de jejum, em ambos os grupos de tratamento, após 24 semanas.
O tratamento com evinacumab, por até 4 anos, reduziu os níveis de LDL-colesterol e outros lipídios e lipoproteínas, em pacientes com hipercolesterolemia familiar homozigótica, mantendo adequado perfil de segurança.
Avaliou uma droga de excelente comodidade posológica para o tratamento da HOF, uma doença associada a elevado risco cardiovascular, tornando o estudo bastante relevante para a prática clínica.
Pacientes foram orientados a manter seu regime estável de terapia hipolipemiante durante todo o estudo, reduzindo, assim, o viés de tratamento.
Boa proporção de pacientes do sexo masculino e feminino, possibilitando uma amostra mais equilibrada.
Longo tempo de seguimento, permitindo a avaliação a longo prazo da eficácia e segurança do tratamento.
Ausência de um grupo controle, limitando a capacidade de comparação direta e avaliação da eficácia relativa.
Estudo aberto, o que pode introduzir viés de desempenho e observação.
Baixa heterogeneidade étnica, limitando a generalização dos resultados para populações mais diversas.
Não avaliou o impacto da terapia com evinacumab sobre desfechos cardiovasculares negativos, como infarto do miocárdio e acidente vascular encefálico isquêmico.
O número de pacientes variou em momentos posteriores do estudo, devido à pandemia de COVID-19, o que pode ter impactado a confiabilidade dos resultados.
Autor do conteúdo
Carolina Ferrari
Referências
Públicação Oficial
https://app.doctodoc.com.br/conteudos/evinacumab-em-hipercolesterolemia-homozigotica-familiar
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