Pergunta

• A estimulação magnética transcraniana repetitiva combinada ao Tai Chi Chuan melhora a qualidade do sono e a função cognitiva em idosos com distúrbios do sono e comprometimento cognitivo leve?

Background

• Os distúrbios do sono são comuns em idosos e estão associados ao declínio cognitivo e maior risco de demência. O Tai Chi Chuan tem sido identificado como uma estratégia eficaz para melhorar a qualidade do sono e a cognição em idosos. No entanto, a adesão a programas de exercício a longo prazo pode ser desafiadora. A estimulação magnética transcraniana repetitiva (rTMS) pode potencializar os efeitos do Tai Chi Chuan ao modular a plasticidade neural. Este estudo investiga se a rTMS de baixa frequência (1 Hz) sobre o córtex pré-frontal dorsolateral direito pode aumentar os benefícios do Tai Chi Chuan na melhora do sono e da cognição em idosos com comprometimento cognitivo leve (CCL).

Desenho do Estudo

• Ensaio clínico randomizado.

• Unicêntrico: realizado em um hospital universitário na China.

• Cegamento do avaliador, do treinador de Tai Chi Chuan e do paciente.

• Controlado por intervenção simulada (sham) de rTMS.

• Randomização na proporção 1:1.  

• Estimou-se que 110 participantes (55 em cada grupo) seriam necessários para detectar diferenças significativas nos escores do Pittsburgh Sleep Quality Index (PSQI) e do Montreal Cognitive Assessment (MoCA) com poder estatístico de 80% e um nível de significância estatística bicaudal de 5% e considerando 10% de taxa de evasão.

População

• Idosos entre 60 e 75 anos com distúrbios do sono e comprometimento cognitivo leve, recrutados entre 2022 e 2024.

Critérios de Inclusão

• Idade entre 60 e 75 anos.

• Diagnóstico clínico de distúrbios do sono e CCL sem demência.

• Sem prática regular de exercícios de intensidade moderada ou Tai Chi Chuan nos últimos 3 meses.

Critérios de Exclusão

• Escore ≥ 9 na Escala de Depressão Geriátrica-15.

• Uso de antipsicóticos no último mês.

• Condições médicas graves que possam causar distúrbios do sono.

• Comprometimento cognitivo por outras causas.

• Incapacidade física que impeça a realização do Tai Chi Chuan ou rTMS.

Intervenção

• Tai Chi Chuan: 30 sessões de 60 minutos, 5 vezes por semana, durante 6 semanas.

• rTMS de 1 Hz: 30 sessões de 20 minutos, 5 vezes por semana, no córtex pré-frontal dorsolateral direito.

Controle

• Tai Chi Chuan: mesma frequência e duração que o grupo intervenção.

• rTMS simulada: mesma aparência e procedimento, mas sem estimulação magnética real.

Desfechos

• Primário: melhora na qualidade do sono (avaliado pela PSQI) e função cognitiva global (avaliado pelo MoCA).

• Secundários: qualidade do sono objetiva (actigrafia); função cognitiva em subdomínios (memória, atenção, função executiva); ansiedade e depressão (Escalas de Hamilton); qualidade de vida (SF-36).

Características dos Pacientes

Masculino
Feminino

 

 

110 Pacientes | Feminino 61,8% e Masculino 38,2%

Grupo Intervenção (N=55) x Grupo Controle (N=55):

• Idade (anos): 67,8 x 68,0

• Sexo Feminino (%): 67,3 x 56,4

• Sexo Masculino (%): 32,7 x 43,6

• Escolaridade (anos): 11,0 x 11,2

• IMC: 23,5 x 23,8

• Diabetes (%): 23,6 x 18,2

• Hipertensão (%): 38,2 x 41,8

• Uso de medicamentos nas últimas 2 semanas (%): 52,7 x 56,4

• Tabagismo (%): 1,8 x 12,7

• Consumo de álcool (%): 5,5 x 7,3

• Consumo de chá (cafeína) (%): 23,6 x 30,9

Resultados

• O grupo intervenção apresentou melhora significativa na qualidade do sono (PSQI) em comparação ao controle após 6 semanas (diferença média: -3,1; IC95%: -4,2 a -2,1; p < 0,001) e no follow-up de 12 semanas (diferença média: -2,1; IC95%: -3,1 a -0,1; p < 0,001).

• A função cognitiva (MoCA) também apresentou melhora significativa no grupo intervenção após 6 semanas (diferença média: 1,4; IC95%: 0,7 a 2,1; p < 0,001) e no follow-up de 12 semanas (diferença média: 0,9; IC95%: 0,1 a 1,6; p = 0,01).

• O grupo intervenção apresentou melhoria na eficiência do sono (diferença: 3,0%; IC95%: 0,7 a 5,3; P = 0,01) e redução da sonolência diurna (diferença: -1,6 pontos na Escala de Sonolência de Epworth; IC95%: -2,8 a -0,4; P = 0,01).

• Observou-se, ainda, a redução dos escores de ansiedade (diferença: -1,9 pontos na Escala de Ansiedade de Hamilton; IC95%: -2,9 a -0,9; P < 0,001) e depressão (diferença: -1,7 pontos na Escala de Depressão de Hamilton; IC95%: -2,5 a -1,0; P < 0,001) no grupo intervenção.

• O grupo intervenção teve melhoria no desempenho cognitivo em testes de memória e atenção (diferença no Quociente de Memória de Wechsler: 8,8; IC95%: 5,0 a 12,6; P < 0,001).

Conclusões

• A rTMS de 1 Hz no córtex pré-frontal dorsolateral direito potencializou os benefícios do Tai Chi Chuan na melhora da qualidade do sono e da função cognitiva em idosos com distúrbios do sono e CCL, com efeitos duradouros.

Pontos Fortes

• O desenho do estudo é robusto e considerado o padrão-ouro para estudos de intervenção. Isso aumenta a validade interna dos resultados.

• A população estudada (idosos com distúrbios do sono e comprometimento cognitivo leve) é relevante e bem caracterizada, com critérios de inclusão e exclusão claros.

• A combinação de rTMS (estimulação magnética transcraniana repetitiva) e Tai Chi Chuan é inovadora e aborda tanto aspectos neurológicos quanto físicos, o que pode potencializar os benefícios.

• Além de questionários validados (como o PSQI e o MoCA), o estudo utilizou actigrafia para avaliar parâmetros objetivos do sono, aumentando a robustez dos dados.

Pontos Fracos

• O estudo foi realizado em um único centro na China, o que pode limitar a generalização dos resultados para outras populações, especialmente em contextos culturais e socioeconômicos diferentes.

• O estudo não incluiu avaliações de neuroimagem, como ressonância magnética funcional, que poderiam fornecer insights sobre os mecanismos neurais subjacentes aos efeitos observados.

• Embora o estudo tenha incluído 110 participantes, um tamanho amostral maior poderia aumentar o poder estatístico e a capacidade de detectar diferenças menores entre os grupos.

• A intervenção durou apenas 6 semanas, o que pode ser insuficiente para observar mudanças mais profundas, especialmente em parâmetros objetivos do sono e cognição.