Espasmo Arterial Cerebral. Ensaio Clínico Randomizado Controlado com Nimodipino em Pacientes com Hemorragia Subaracnóidea
31 de outubro de 2024
5 minutos de leitura
O uso de nimodipino é eficaz em prevenir ou alterar a gravidade de déficits neurológicos secundários ao vasoespasmo em pacientes com HSA aneurismática?
A hemorragia subaracnóidea (HSA) aneurismática está associada à alta morbimortalidade. Pacientes que sobrevivem ao evento inicial mantêm um risco de eventos isquêmicos secundários ao vasoespasmo arterial por até 3 semanas após o ictus. O período de maior risco ocorre entre 4 e 14 dias após o sangramento. O vasoespasmo pode ser focal ou difuso, ocorrendo por contração de células musculares lisas da parede arterial. O nimodipino é um bloqueador de canal de cálcio seletivo, lipossolúvel, capaz de cruzar a barreira hematoencefálica e reduzir a contração de células musculares lisas de grandes vasos cerebrais. Asim, o presente estudo avaliou a eficácia do uso do nimodipino na prevenção de déficits neurológicos isquêmicos secundários ao vasoespasmo em pacientes com HSA aneurismática.
Ensaio clínico randomizado
Multicêntrico, envolvendo 5 centros universitários
Duplo cego e controlado por placebo
Estratificado de acordo com o centro e com o grupo de cirurgiões em cada centro
Sem descrição de cálculo amostral
Pacientes com HSA aneurismática incluídos entre 1979 e 1982
Idade entre 15 e 80 anos
HSA diagnosticada por angiotomografia ou análise de líquor
Demonstração de aneurisma intracraniano por angiografia
Inicio do medicamento do estudo em até 96h da HSA
Exame neurológico normal até o início do medicamento do estudo, exceto: rigidez de nuca; febre; cefaleia; fotofobia; sonolência, mas com manutenção de orientação temporo-espacial; e presença de paralisia isolada de nervo craniano.
Sem descrição de critérios de exclusão
Nimodipino VO ou enteral na dose inicial de 0,7 mg/Kg, seguido de 0,35 mg/Kg de 4/4h, por 21 dias
Placebo VO ou enteral, em cápsulas idênticas ao nimodipino
Cirurgia intracraniana não poderia ser realizada até que o paciente recebesse o medicamento do estudo por pelo menos 24h
Tratamento cirúrgico deveria ser realizado nos primeiros 14 dias, exceto se houvesse outra condição que inviabilizasse o tratamento cirúrgico
Nenhum outro tratamento para vasoespasmo poderia ser realizado
Em até 48h da ocorrência de algum déficit neurológico, deveriam ser realizados angiotomografia, angiografia e exames laboratoriais apropriados .
Primário: desenvolvimento e gravidade de déficit neurológico secundário a espasmo arterial em 21 dias
Secundários: taxa de ressangramento do aneurisma; grau de vasoespasmo máximo observado, caracterizado pelo menor diâmetro observado no vaso em comparação ao diâmetro pré-entrada, avaliado em cinco artérias medidas em cada paciente
MasculinoFeminino
Placebo (N= 63) x Nimodipino (N = 58)
Média de idade: 45 x 47 anos
Comorbidades
DM: 3% x 7%
HAS 38% x 33%
Cardiopatia: 11% x 14%
PAS > 160 mmHg na admissão: 13% x 12%
Localização do aneurisma sangrante
Carótida interna: 44% x 43%
Comunicante Anterior: 29% x 28%
Cerebral média: 14% x 19%
Outro: 14% x 14%
História de perda de consciência após a HSA: 25% x 33%
Tomografia
Sem evidência de sangramento: 14% x 12%
Sangramento pequeno em cisternas da base: 6% x 9%
Sangramento maior em cisternas da base: 75% x 71%
Sangramento intraventricular ou intraparenquimatoso sem sangramento em cisternas da base: 5% x 5%
Houve uma maior incidência de óbito ou déficits neurológicos graves em 21 dias no grupo controle em comparação ao grupo nimodipino: 13,3% x 1,7%; P = 0,03
Não houve diferença na incidência de ressangramento do aneurisma entre os grupos: 15% x 12,5%
Não houve diferença no grau de vasoespasmo máximo observado em pacientes com desfecho neurológico normal, tanto no grupo placebo como no grupo intervenção: 51% x 49,4%
Houve maior grau de vasoespasmo máximo observado em pacientes com desfecho neurológico grave no grupo placebo em comparação ao grupo nimodipino: 35% x 22%
O uso do nimodipino reduz a ocorrência de déficit neurológico grave secundário a vasoespasmo em pacientes com HSA aneurismática
Ensaio clínico randomizado, multicêntrico, aumentando a validade externa dos dados
Protocolo claro e de fácil execução
Outras intervenções para vasoespasmo eram proibidas, o que reduz o risco da diferença ter ocorrido por outras intervenções concomitantes
Ensaio clínico pequeno. O estudo não descreve o cálculo do tamanho amostral, impossibilitando a avaliação do poder estatístico.
Houve uma taxa de violação de protocolo considerável, o que pode interferir no resultado do estudo
A taxa de recrutamento foi baixa, levando 30 meses para recrutar 125 pacientes em 5 centros universitários, o que representa em média 4,1 pacientes/mês e 0,8 pacientes/centro/mês. Isso pode significar viés de seleção.
O estudo incluiu apenas pacientes que não tinham déficits neurológicos no momento da randomização, o que não permite avaliar o impacto do uso do nimodipino em pacientes mais graves.
Autor do conteúdo
Guilherme Lemos
Referências
Públicação Oficial
https://app.doctodoc.com.br/conteudos/espasmo-arterial-cerebral-ensaio-clinico-randomizado-controlado-com-nimodipino-em-pacientes-com-hemorragia-subaracnoidea
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