Ertugliflozina para Regurgitação Mitral Funcional Associada à Insuficiência Cardíaca
04 de julho de 2024
7 minutos de leitura
A ertugliflozina é superior ao placebo na redução da regurgitação mitral funcional associada à insuficiência cardíaca com fração de ejeção leve ou moderadamente reduzida?
As taxas de morbidade e mortalidade de pacientes com insuficiência cardíaca e regurgitação mitral (RM) funcional permanecem substanciais, mesmo com a terapia medicamentosa otimizada direcionada por diretrizes para insuficiência cardíaca. Diante desse cenário, foi realizado o estudo EFFORT com o objetivo de avaliar a eficácia do inibidor do SGLT2, ertugliflozina, na redução da regurgitação mitral funcional associada à insuficiência cardíaca com fração de ejeção levemente ou moderadamente reduzida.
Ensaio clínico randomizado
Multicêntrico (6 centros na Coréia)
Duplo cego
Foi calculado que uma amostra de 204 pacientes, randomizados aleatoriamente em 2 grupos, poderia prover 90% de poder de detectar a diferença de 0,05cm² na área efetiva do orifício regurgitante (AEOR) entre os grupos, usando um t teste bilateral, com um nível alfa de 0,05.
Devido à pandemia do COVID-19, houve seleção de menor número de pacientes do que o programado. Assim, foram randomizados, na razão 1:1, 128 pacientes: 63 pacientes foram alocados no grupo que receberia ertugliflozina e 65 alocados no grupo que receberia placebo.
Pacientes com regurgitação mitral funcional selecionados entre novembro/2020 e dezembro/2022.
Idade ≥ 20 anos
Insuficiência cardíaca estável com classificação NYHA de sintomas classe II ou III
Presença ou ausência de diabetes
Fração de ejeção de ventrículo esquerdo de 35% a < 50%
Regurgitação mitral funcional substancial com área efetiva do orifício regurgitante (AEOR) > 0,1 cm² durando > 6 meses, apesar de terapia medicamentosa otimizada direcionada por guidelines.
Hipotensão sintomática
Pressão arterial sistólica < 100 mmHg
Hemoglobina glicada > 10,5%
Taxa de filtração glomerular estimada < 45 ml/min/1,73m²
História de cetoacidose diabética
Evidência de doença valvar mitral estrutural
Intervenção valvar prévia
História de síndrome coronariana aguda, acidente vascular encefálico isquêmico, intervenção coronariana percutânea ou cirurgia cardiovascular dentro de 3 meses antes da seleção para o estudo.
Indicação para terapia de ressincronização cardíaca.
Planejamento de revascularização coronariana, intervenção valvar mitral ou transplante cardíaco, durante o estudo.
Ertugliflozina 5 mg oral
Placebo oral
Pacientes deveriam receber terapia medicamentosa otimizada direcionada por guidelines por, pelo menos, 4 semanas antes da seleção para o estudo.
Pacientes eram tratados por 12 meses e avaliados a cada 4 semanas durante os primeiros 2 a 3 meses de terapia e a cada 2 a 6 meses, depois disso.
Avaliação ecocardiográfica era realizada na randomização e na visita de 12 meses de follow-up.
Devido à pandemia do COVID 19, houve seleção de menor número de pacientes do que o programado inicialmente.
Primário: mudança na Área Efetiva do Orifício Regurgitante (AEOR) da Regurgitação Mitral (RM) funcional, desde a avaliação inicial até 12 meses de seguimento.
Secundários: mudanças no volume regurgitante, índice de volume sistólico e diastólico final do ventrículo esquerdo, índice de volume sistólico final do átrio esquerdo, strain longitudinal global do ventrículo esquerdo e NT-proBNP.
MasculinoFeminino
Grupo Intervenção (N=63) x Grupo Controle (N=65):
Idade (anos): 65,4±11,5 x 67,3±11
IMC: 24,3±2,8 x 25±3,3
Hipertensão: 38,1% x 51,6%
Diabetes: 11,1% x 13,8%
Doença arterial coronariana: 38,1% x 44,6%
Fibrilação atrial: 52,4% x 49,2%
Pressão arterial sistólica (mmHg): 118,7±13,9 x 124±13
Pressão arterial diastólica (mmHg): 69,3±11 x 70,9±9,3
NT-proBNP (pg/ml): 830±1507 x 1126±1725
Classe funcional NYHA
II: 92,1% x 83,1%
III: 7,9% x 16,9%
Causa da RM funcional
Isquêmica: 33,3% x 41,5%
Não-isquêmica: 66,7% x 58,5%
FE de ventrículo esquerdo (%): 42,4±7,5 x 41,9±8,3
Strain longitudinal global (%): -12±2,9 x -12,9±3,7
Volume regurgitante (ml): 33,7±17 x 36,9±23,1
AEOR (cm²): 0,2±0,1 x 0,2±0,12
O desfecho primário (mudança no AEOR da RM funcional, desde a avaliação inicial até 12 meses de seguimento) foi significativamente diferente entre os grupos intervenção e controle (-0,05±0,06 x 0,03±0,12 cm²; p<0,001). Comparado com o placebo, a ertugliflozina reduziu significativamente a Área Efetiva do Orifício Regurgitante em 0,077cm² (95% IC 0,042 a 0,112).
O desfecho secundário de redução do volume regurgitante foi significativamente maior no grupo intervenção, quando comparado ao placebo (-9,1±10,2ml x 2,1±15,6ml; p<0,001); a diferença média de mudança foi de – 11,2ml (95% IC -16,1 a -6,3; p=0,009).
Mudanças no volume sistólico e diastólico final de ventrículo esquerdo não diferiram significativamente entre os grupos de tratamento, mas a ertugliflozina reduziu o índice de volume atrial esquerdo em 6 ml/m² (95% IC -12,16 a 0,15), quando comparada ao placebo (p=0,005).
O strain longitudinal global do ventrículo esquerdo reduziu em 1,34% no grupo intervenção, comparado com aumento de 0,10% no grupo controle (diferença média entre grupos 1,44%; 95% IC 0,46 a 2,42; p=0,004).
Não houve diferença significativa entre os grupos nos níveis de NT-proBNP.
Entre pacientes com regurgitação mitral funcional associada à insuficiência cardíaca com fração de ejeção leve ou moderadamente reduzida, a ertugliflozina foi superior ao placebo, reduzindo a regurgitação mitral funcional ao longo de 12 meses de seguimento.
Avaliou a eficácia de uma medicação segura e amplamente utilizada, ertugliflozina, em pacientes com insuficiência cardíaca e regurgitação mitral funcional, uma condição clínica desafiadora. Isso tem um impacto significativo na prática clínica.
Todos os pacientes receberam terapia medicamentosa otimizada de acordo com diretrizes por, pelo menos, 4 semanas antes da inclusão no estudo, eliminando possíveis vieses de tratamento.
A distribuição equilibrada de comorbidades entre os grupos minimiza vieses de seleção e fortalece a validade dos resultados.
O número de participantes foi menor do que o planejado originalmente, devido à pandemia de COVID-19, o que pode ter afetado a robustez dos resultados.
A proporção de pacientes do sexo feminino foi baixa, limitando a generalização dos resultados.
A falta de diversidade étnica, com todos os centros localizados na Coreia, pode limitar a aplicabilidade dos resultados a outras populações.
O estudo investigou apenas a ertugliflozina, não abrangendo outros inibidores do SGLT2, o que impede a conclusão sobre um possível efeito de classe.
Foram excluídos pacientes com fração de ejeção inferior a 35%, limitando a aplicabilidade dos resultados a casos de insuficiência cardíaca mais grave.
Autor do conteúdo
Carolina Ferrari
Referências
Públicação Oficial
https://app.doctodoc.com.br/conteudos/ertugliflozina-para-regurgitacao-mitral-funcional-associada-a-insuficiencia-cardiaca
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