Ensaio Randomizado de Redução do Colesterol com Evolocumabe para Doença Vascular do Enxerto em Receptores de Transplante Cardíaco
26 de novembro de 2024
5 minutos de leitura
Uso de um inibidor de PCSK9 (evolocumabe) reduz o LDL e a espessura íntima coronariana máxima do enxerto após transplante cardíaco?
A doença vascular do enxerto é caracterizada pelo espessamento difuso do leito coronariano do enxerto, sendo um dos principais obstáculos da sobrevida a longo prazo pós transplante cardíaco. Apesar de sua etiologia ser multifatorial, acredita-se que a aterosclerose possa estar relacionada com o processo, sendo o nível de colesterol elevado um fator de risco para seu desenvolvimento.
Estatinas reduzem a incidência de doença vascular do enxerto. No entanto, apesar do uso rotineiro de estatinas, esta condição permanece como uma das principais causas de morbidade e mortalidade após o primeiro ano do transplante. Inibidores da proprotein convertase subtilisin–kexin type 9 (PCSK9) reduzem de forma substancial os níveis de LDL colesterol. Neste contexto, o estudo EVOLVD foi desenhado para estudar o uso do evolocumabe em receptores de transplante cardíaco.
Ensaio clínico randomizado
Multicêntrico (6 centros na Dinamarca, Finlândia, Noruega e Suécia)
Duplo cego
Randomização na proporção de 1:1 em blocos permutados e estratificado por centro
Estimado que seriam necessários 51 pacientes em cada grupo para detectar uma diferença de 0,05 mm na espessura íntima máxima entre os grupos com um poder de 80% e alfa de 5%. Buscou-se atingir 130 pacientes para compensar possíveis saídas do estudo
Pacientes submetidos a transplante cardíaco entre 2019 e 2022
Adultos
Submetidos a transplante cardíaco
Inclusão entre 4 e 8 semanas pós transplante cardíaco
TFG <20 mL/min/1,73 m2 ou terapia de substituição renal
Intolerância ao evolucumabe
Tratamento com inibidor de PCSK9
Contraindicações a realização de coronariografia com ultrassom intracoronariano (IVUS)
Evolocumabe SC 420mg, mensalmente, por 12 meses
Placebo em posologia semelhante
Além da droga estudada, todos os pacientes recebiam tratamento padrão com:
Uso rotineiro de terapia de indução com basiliximabe ou timoglobulina. Imunossupressão com inibidor de calcineurina (preferencialmente tacrolimus), micofenolato de mofetila e corticoide.
Everolimus em pacientes selecionados, com suspensão ou redução da dose do inibidor de calcineurina.
Estatina introduzida no 5ºPO (pravastatina 40mg).
Primário: espessura íntima máxima medida por ultrassom intracoronário (IVUS) após 12 meses de tratamento
Secundários: porcentagem de volume de ateroma e os níveis séricos de LDL colesterol; alterações laboratoriais e eventos adversos associados à medicação
MasculinoFeminino
Evolocumabe (N=56) x Placebo (N=54)
Idade (anos): 54 x 51
Sexo masculino: 79% x 70%
IMC (kg/m2): 25 x 23,9
PA sistólica (mmHg): 136 x 136
PA diastólica (mmHg): 79 x 82
Comorbidades
DM: 12% x 9%
HAS: 39% e 26%
AVC: 11% e 6%
Etiologia isquêmica da Insuficiência Cardíaca: 15% x 17%
98% em uso de estatinas, preferencialmente pravastatina (75%).
Imunossupressão:
Tacrolimus: 88% x 89%
Micofenolato de mofetil: 96% x 93%
Prednisona: 95% x 100%
Everolimus: 29% e 13%
7 rejeições tratadas em cada grupo.
Infecções por citomegalovírus (n): 6 x 5
Exames
Hb (mg/dl): 11,3 x 11,2
NT-ProBNP (ng/L): 1336 x 2059
Troponina T (ng/L): 51 x 75
Creatinina (mg/L): 1,27 x 1,29
Colesterol Total (mg/dL): 197 x 200
LDL (mg/dL): 97 x 101
HDL (mg/dL): 64 x 61
Triglicérides (mg/dL): 181 x 177
Não houve diferença na espessura máxima intimal após 12 meses entre os grupos.
Após 12 meses a espessura máxima intimal aumentou de 0,28 ±0,13 mm basal para 0,33 ±0,18 mm no grupo placebo e de 0,27 ±0,12 mm para 0,30 ±0,12 mm no grupo evolocumabe. A diferença ajustada entre os grupos na espessura íntima coronariana foi de -0,017 mm (95% CI: -0,040 a 0,006; p = 0.14). Ajustes para características do doador ou uso de everolimus não mudaram o resultado.
Houve redução significativa do nível de LDL colesterol com o uso de evolocumabe.
A redução foi de 97 mg/dL para 50 mg/dL no grupo evolocumabe e de 101 mg/dL para 97 mg/dL no grupo placebo, sendo 43 mg/dL (IC95% 33-35 mg/dL) maior no grupo evolocumabe em relação ao grupo placebo (p<0,001). Essa diferença se mostrou evidente a partir do primeiro mês.
A principal artéria avaliada foi a Descendente Anterior. No acompanhamento, apenas 3 dos 54 pacientes (6%) no grupo placebo e 6 dos 56 pacientes (11%) no grupo evolocumabe apresentaram doença arterial coronária evidente na angiografia (P = 0,49), e 2 dos 54 e 5 dos 56 pacientes apresentaram doença leve
A porcentagem de volume de ateroma aumentou em 12 meses de 10,8% ±3,6% para 12,6% ±5,2% no grupo placebo e de 10,8% ±3,0% para 12,2% ±3,6% no grupo evolocumabe, com uma diferença ajustada entre os grupos de -0,4 (95% CI: -1,4 a 0,5) pontos percentuais.
Não houve diferença significativa em alteração de creatinina, CPK, leucopenia e enzimas hepáticas entre os grupos
Não houve diferença significativa em eventos adversos entre os grupos
O tratamento com evolocumabe reduziu substancialmente o LDL colesterol, mas não reduziu a espessura íntima coronariana máxima em receptores de transplante cardíaco.
Estudo prospectivo, randomizado, duplo cego, placebo controlado
Traz insights sobre o mecanismo da doença vascular do enxerto
Mostra a segurança e tolerabilidade dos inibidores de PCSK9 no pós transplante
Tempo de seguimento curto em uma doença crônica
População pequena
Baixa incidência de doença coronariana evidente
Uso de desfecho substituto ao invés de desfecho clínico. Ou seja, reduzir o LDL pode reduzir a espessura íntima máxima e, por sua vez, melhorar os desfechos clínicos. O estudo mostrou que a droga reduz o colesterol LDL, mas sem impacto na espessura íntima e sem dados sobre desfechos clínicos. É imprevisível qual será o efeito da droga no desfecho dos pacientes
Autor do conteúdo
Silas Furquim
Referências
Públicação Oficial
https://app.doctodoc.com.br/conteudos/ensaio-randomizado-de-reducao-do-colesterol-com-evolocumabe-para-doenca-vascular-do-enxerto-em-receptores-de-transplante-cardiaco
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