Qual o contexto?
A dosagem dos hormônios tireoidianos vem sendo cada vez mais realizada de “rotina”, por vezes com achados anormais e que não se correlacionam com o quadro clínico. Além disso, mesmo para pacientes em seguimento regular podemos nos surpreender com exames fora do esperado.
Quais as recomendações?
- Quando a dosagem de T3 é relevante? Na presença de exames que sugerem hipotireoisdismo central (TSH e T4 livre baixos) a dosagem de T3 pode excluir T3 toxicose. Além disso, no contexto de um paciente que iniciou tratamento para doença de Graves, também pode ajudar a definir se está em hipo ou hipertireoidismo (considerando que o TSH pode levar mais tempo para desbloquear).
- Suplementos com biotina são uma causa comum de alterações laboratoriais, mas nem todos os tipos de ensaio são afetados - leva a TSH falsamente baixo, T3 e T4 livres falsamente altos e anticorpos tireoidianos positivos
- Lembrar de investigar quadros de tireoidites: podem ter apresentação trifásica e no período de recuperação do hipertireoidismo podemos encontrar o TSH e o T4 livre baixos ao mesmo tempo
- O uso de inibidores de checkpoint imune pode desencadear uma tireoidite, que também pode ser trifásica
- O uso de amiodarona pode levar a diversas alterações tireoidianas no longo prazo. Mas, além disso, logo após o início da medicação pode levar a aumento do T4 livre com TSH normal ou baixo, com resolução espontânea em 4-8 semanas
- Pacientes gravemente enfermos, em geral em internação hospitalar, podem ter alterações tireoidianas relacionadas ao doente crítico, inicialmente com queda do TSH e T4 livre e posteriormente com elevação do TSH no período de recuperação
- Se alteração nos hormônios totais (T4 total e T3 total) isoladamente, avaliar a dosagem da TBG
- Lembrar de outros interferentes: anticorpos heterofilos
- Lembrar que o TSH pode se elevar com o ganho de peso (tão maior quanto maior o IMC) e com o avanço da idade (tão maior quanto mais velho o indivíduo), sem correlação com alterações clínicas. Alguns poucos indivíduos podem não normalizar o TSH após a perda de peso (cerca de 5%)
- Em casos de T4 livre e T3 livre elevados com TSH normal, realizar o diagnóstico diferencial entre adenoma hipofisário secretor de TSH ou síndrome de resistência aos hormônios tireoidianos. Avaliar: história familiar, subunidade alfa, SHBG, RM de hipófise, teste genético. Pode ser realizado o teste de supressão do T3.
Qual o impacto na prática?
Na presença de hormônios tireoidianos que não fazem sentido é sempre importante inicialmente repetir a dosagem laboratorial para confirmar os achados. Raramente será um quadro emergencial, portanto realize uma avaliação clínica minuciosa para compreender o quadro. Considere os diagnósticos diferenciais e utilize a dosagem de T3 (se clinicamente indicado).
Palestrante:
Trevor E. Angell, MD.
Keck Medicine of USC, Los Angeles, CA, USA