Qual o contexto?

O hipotireoidismo, quando adequadamente tratado com levotiroxina, leva a melhora clínica na maior parte dos casos. Entretanto, alguns pacientes podem persistir sintomáticos mesmo com exames laboratoriais (TSH e T4 livre) normais. Nessas situações, devemos sempre confirmar se o diagnóstico de hipotireoidismo foi adequado, além de avaliar comorbidades e outros fatores confundidores na persistência dos sintomas. Além disso, alguns guidelines recomendam associar T3 ao tratamento com levotiroxina. Nessa palestra, foram discutidos os pontos à favor e contra a associação do T3. 

Argumentos à favor da combinação:

• Uma minoria dos pacientes tem sintomas residuais com a reposição com levotiroxina
• O uso do T3 é seguro, desde que sejam mantidos níveis normais de TSH 
•  Estudo de coorte avaliou pacientes com função tireoidiana normal e os acompanhou até o desenvolvimento de hipotireoidismo. Após a reposição adequada de levotiroxina, foram avaliados os níveis de T3, que estavam mais baixos em relação ao basal em até 40% dos pacientes
• Em um estudo cego, pacientes preferiram fazer uso da combinação do que o uso da levotiroxina isoladamente 

Argumentos contra a combinação:

•  Sintomas residuais podem estar relacionados a um diagnóstico equivocado de hipotireoidismo
• Sintomas residuais podem estar relacionados a comorbidades ou outros fatores confundidores
• O único parâmetro laboratorial para o ajuste da medicação é o TSH, sem parâmetros bem definidos para avaliar a reposição de T3
• Sintomas como fadiga, brain fog e alterações de humor estão relacionados com os níveis teciduais (cerebrais) de T3 e não ao nível sérico do hormônio 
• Há o efeito placebo da medicação - Foram realizados diversos estudos randomizados com avaliação através de questionários validados e que falharam em mostrar benefício da combinação 

Qual o impacto na prática?

 Os sintomas relacionados ao hipotireoidismo são inespecíficos, sendo difícil definir se são de fato relacionados com a doença ou não. No Brasil, não há formulação de T3 aprovada pela Anvisa, limitando o seu uso a fórmulas manipuladas e sujeitas a variação de dose, com maior risco de efeitos colaterais. O uso do T3 deve ser individualizado e com decisão compartilhada entre médico x paciente, preferencialmente avaliando questionários validados para mensurar os sintomas.

Palestrantes:

Antonio C Bianco, MD, PhD

University of Chicago, IL, USA

Simons HS Pearce, MD

Newcastle University, UK