Eficácia e Segurança do Primeiro Biológico em Pacientes com Artrite Reumatoide e Doença Renal Crônica
13 de agosto de 2024
7 minutos de leitura
Os imunobiológicos de primeira linha são eficazes e seguros em pacientes com artrite reumatoide e doença renal crônica, incluindo pacientes dialíticos?
A doença renal crônica (DRC) é mais prevalente em pacientes com artrite reumatoide (AR) do que na população geral. Nestes pacientes, o tratamento é um desafio, em função do conhecido aumento de risco infeccioso, assim como pela impossibilidade de utilizar medicações como metotrexato ou anti-inflamatórios não esteroidais. Além disso, um manejo inadequado da AR promove uma deterioração da função renal em pacientes nefropatas. Embora os imunobiológicos apareçam como alternativas promissoras no arsenal terapêutico, a eficácia e segurança dos biológicos em pacientes com AR e DRC ainda precisa ser demonstrada, principalmente em pacientes em hemodiálise. Portanto, o objetivo deste estudo foi validar a eficácia e segurança dos imunobiológicos em um cenário de mundo real, entre pacientes com artrite reumatoide e doença renal crônica.
Estudo de coorte retrospectivo
Bicêntrico em 2 hospitais do Japão (Tokio e Kanagawa)
Os dados foram coletados a partir de prontuário eletrônico e validados através de entrevista com os pacientes.
Pacientes foram acompanhados desde a data de prescrição do primeiro biológico até a descontinuação do mesmo, morte por qualquer causa ou censura por perda de seguimento ou encerramento do estudo (o que acontecer primeiro).
Pacientes com artrite reumatoide com prescrição do primeiro biológico, incluídos entre 2004 até dezembro 2021
Pacientes com AR, segundo os critérios classificatórios EULAR/ACR 2010
Uso do primeiro biológico
Falta de dados sobre idade, sexo, data de início, descontinuação do biológico ou motivo de descontinuação do mesmo
Uso do segundo biológico ou posterior
Uso do primeiro imunobiológico
Comparações foram realizadas entre as categorias de função renal e modalidades de biológico
Grau de doença renal crônica (TFG >60, 30-60, <30 mL/min/1,73m2)
Modalidade de biológico (anti-TNF, anti-IL6, análogo CTLA4)
Primário: diferença na taxa de retenção do primeiro biológico em 36 meses, em cada categoria, de acordo a função renal e modalidade de biológico.
A taxa de retenção do fármaco foi definida como a duração desde o início até a descontinuação de uma modalidade específica de imunobiológico.
Secundários: mudança na atividade da AR pelo DAS-28 PCR nos primeiros 6 meses; mudança na atividade da AR pelo DAS-28 VHS nos primeiros 6 meses; dose de prednisolona nos primeiros 6 meses; proporção de motivos para descontinuação da medicação, divididos em quatro categorias: ineficácia, infecção, efeitos adversos e outros.
MasculinoFeminino
A duração média do tempo de observação foi de 40,8 semanas
As principais etiologias da DRC foram nefroesclerose e nefropatia diabética
Ao redor de 70% dos pacientes avaliados tinha uma TFG > 60 ml/min/1,73m2
Os grupos separados segundo TFG eram diferentes em características como idade, Proteína C reativa (PCR), níveis de Fator Reumatoide (FR), porcentagem de uso e dose de metotrexato (MTX), uso de paracetamol e inibidores do sistema renina angiotensina (IECA/BRA)
O primeiro biológico utilizado foi um Anti-TNF em 82% dos pacientes
Os grupos separados segundo mecanismo de ação do biológico eram diferentes enquanto à idade, PCR, uso de prednisolona, porcentagem de uso e dose de MTX.
Nos 70 pacientes com TFG <30 ml/min/1,73m2, 40 estavam dialisando. Neste grupo, o primeiro biológico foi um Anti-TNF, em 50 pacientes; Anti-IL6, em 14 pacientes e análogo de CTLA4, em 6 pacientes
Grupo TFG >60 (N = 305) x Grupo TFG 30-60 (N = 50) x Grupo TFG <30 (N = 70)
Sexo masculino (%): 21,4 x 32 x 28,6
Idade média (anos): 61,1 (±13,4) x 71,8 (±8,13) x 69,4 (±10,3)
TFG (ml/min): 103 (±32,8) x 49,8 (±8,46) x 13,1 (±9,03)
Duração de AR (anos): 8,93 (±11,7) x 11,3 (±12,8) x 12,1 (±14,3)
PCR (mg/dL): 2,60 (±3,25) x 1,76 (±2,74) x 2,34 (±4,55)
VHS (mm/h): 49,1 (±30,6) x 46,1 (±30,6) x 57,3 (±30,1)
Anti CCP (U/mL): 207 (±415) x 277 (±579) x 191 (±323)
FR (mg/dL): 85,2 (±152) x 135 (±362) x 45,5 (±77,2)
DAS-28 PCR: 4,74 (±1,40) x 4,44 (±1,32) x 4,46 (±1,87)
DAS 28 VHS: 5,44 (±1,41) x 5,25 (±1,31) x 5,50 (±1,36)
Prednisolona (mg): 2,48 (±3,40) x 3,32 (±3,84) x 2,59 (±3,90)
Dose de MTX (mg): 5,27 (±3,47) x 2,52 (±3,30) x 0,31 (±1,30)
Uso de MTX (%): 75,9 x 40 x 5,71
AINE (%): 60 x 44 x 57,1
IECA/BRA (%): 13,1 x 30 x 37,1
A probabilidade de retenção do primeiro biológico durante o estudo não variou segundo a taxa de filtração glomerular (≥60 x 30-59 x <30).
Biológicos em geral: 45,2% x 32% x 41,4% - HR ajustado 1,18 (IC 95% 0,91 a 1,28) p = 0,37
Todos os biológicos diminuíram atividade da doença avaliada pelo DAS28 PCR/VHS e reduziram a dose de prednisolona 6 meses após o início da medicação, independente da função renal.
Quando cada grupo de biológicos foi analisado, o grupo Anti-TNF mostrou uma maior descontinuação da medicação com a piora da função renal. O risco de descontinuação do primeiro biológico foi similar nos grupos Anti-IL6 e análogo de CTLA4, independente da função renal.
Anti-TNF: 45,3% x 28,2% x 34% - HR ajustado 1,30 (IC 95% 1,04 a 1,63) p = 0,02
Em relação ao grupo que utilizou Anti-TNF, o grupo com TFG <30 mostrou uma maior descontinuação da medicação, quando comparado com o grupo TFG >60.
HR ajustado 1,32 (IC 95% 1,04 a 1,67) p = 0,02
Os Anti-IL6 mostraram maior taxa de retenção no grupo TFG <30, quando comparados com os Anti-TNF, devido a menor suspensão por ineficácia. (IC 95% 0,08 a 0,88) p = 0,03
Anti-TNF: 34%
Anti-IL6: 71,4%
Análogo CTLA4: 33,3%
Não houve diferença na retenção do primeiro biológico entre os pacientes com TFG < 30, em hemodiálise, em relação aos pacientes sem hemodiálise.
63,6% dos pacientes suspenderam a medicação por ineficácia, 12,8% por infecção, 12,4% por efeitos adversos e 11,2% por outras razões. TFG <30 não se mostrou um fator de risco para suspensão do biológico por ineficácia ou infecção, mesmo em pacientes dialíticos. Não houve mortes durante o período de estudo.
O uso do primeiro imunobiológico mostrou ser eficaz e seguro para o manejo da artrite reumatoide em pacientes com doença renal crônica.
Estudo pioneiro e original
Acompanhamento de longo prazo (36 meses)
Análises ajustadas para idade, PCR, prednisolona e dose de MTX
População puramente asiática, o que compromete a generalizabilidade dos resultados
Não randomizado, com potencial efeito de fatores de confusão nos resultados
Retrospectivo, o que pode levar a erros nos dados coletados (viés de informação)
Comparação entre grupos heterogêneos, o que pode invalidar os resultados
Discordância de resultados reportados no resumo e no corpo de manuscrito (taxa de retenção do grupo CTLA4)
Autor do conteúdo
CARLOS ECHAURI
Referências
Públicação Oficial
https://app.doctodoc.com.br/conteudos/eficacia-e-seguranca-do-primeiro-biologico-em-pacientes-com-artrite-reumatoide-e-doenca-renal-cronica
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