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    Eficácia e Segurança do Lenabasum, um agonista do receptor canabinoide tipo 2, na Esclerose Sistêmica Cutânea Difusa.

    18 de fevereiro de 2025

    7 minutos de leitura

    Pergunta

    • O tratamento com lenabasum é eficaz e seguro em pacientes com esclerose sistêmica cutânea difusa (EScd)?

    Background

    • A esclerose sistêmica cutânea difusa (EScd) é caracterizada por espessamento cutâneo e comprometimento multissistêmico, resultando em alta mortalidade e morbidade. Apesar de alguns tratamentos aprovados para doença pulmonar intersticial, como nintedanibe e tocilizumabe, ainda há uma necessidade urgente de terapias eficazes que não sejam imunossupressoras para tratar a doença geral e o envolvimento cutâneo e pulmonar. O lenabasum, um agonista do receptor canabinoide tipo 2 (CB2), demonstrou reduzir inflamação, fibrose e produção de colágeno em modelos pré-clínicos e em fibroblastos de pacientes com ES. Resultados promissores de um estudo clínico de fase 2 apoiaram o potencial do lenabasum como terapia segura e eficaz. O estudo RESOLVE-1 buscou, portanto, avaliar a eficácia, segurança e tolerabilidade do lenabasum em pacientes com EScd por meio de um ensaio clínico de fase 3.

    Desenho do Estudo

    • Ensaio clínico randomizado de fase 3

    • Multicêntrico (77 centros clínicos da América do Norte, Europa, Israel, região Ásia Pacífico) 

    • Duplo cego

    • Controlado por placebo

    • Os pacientes foram randomizados em uma proporção de 1:1:1 para tratamento com lenabasum 5 mg, lenabasum 20 mg ou placebo correspondente, todos administrados duas vezes ao dia. A randomização foi estratificada por locais em 1) Estados Unidos; 2) Canadá, Europa e Austrália; ou 3) Ásia e pela duração da doença (≤24 meses ou >24 meses). 

    • Esperava-se a inclusão de aproximadamente 354 indivíduos, distribuídos em três coortes de 118 participantes. Esse tamanho amostral proporcionaria mais de 99% de poder estatístico para detectar uma diferença significativa no desfecho primário (pontuação ACR CRISS), com nível de significância de 0,05, desvio padrão de 0,41 e diferença esperada de 0,33 entre lenabasum e placebo.

    População

    • Pacientes com esclerose sistêmica cutânea difusa recrutados entre 2017 e 2020.

    Critérios de Inclusão

    • ≥18 anos de idade

    • Preencher os critérios de classificação ACR/EULAR de 2013 para ES

    • Apresentar espessamento cutâneo proximal aos cotovelos ou joelhos ou no tronco

    • Duração da doença ≤ 6 anos desde o início do primeiro sintoma não fenômeno de Raynaud e se a duração da doença fosse >3 anos e ≤ 6 anos, o escore MRSS deveria ser ≥15.

    Critérios de Exclusão

    • Cinicamente instáveis ou se apresentavam ES com comprometimento terminal de órgãos

    • Uso concomitante de outros canabinoides

    • Uso concomitante de ciclofosfamida

    Intervenção

    • Lenabasum 5 mg via oral 2x dia por 52 semanas

    • Lenabasum 20 mg via oral 2x dia por 52 semanas

    Controle

    • Placebo administrado via oral 2x ao dia por 52 semanas.

    Desfechos

    • Primário:  mudança no escore do Índice de Resposta Combinada do Colégio Americano de Reumatologia em EScd (CRISS) após 52 semanas.

      • O CRISS é um escore que combina medidas de pele, função pulmonar, capacidade física e avaliações globais de médicos e pacientes para avaliar a melhora clínica em esclerose sistêmica cutânea difusa, variando de 0 a 1, onde valores mais altos indicam maior melhora.

    • Secundários: mudança no escore de espessura da pele de Rodnan modificado (MRSS), Índice de Incapacidade do Questionário de Avaliação em Saúde (HAQ DI) e a capacidade vital forçada prevista (CVF%). 

    • Segurança: ocorrência de eventos adversos graves ou severos relacionados ao uso do lenabasum; mortalidade; comparação da frequência de eventos adversos entre os grupos (lenabasum 5 mg, lenabasum 20 mg e placebo).

    Características dos Pacientes

     

    Masculino (24.66% Masculino)Feminino (75.34% Feminino)
    Masculino
    Feminino

     

    • Total = 365 pacientes // Masculino 24,66% e Feminino 75,34%

    • LEN 20 mg (N=120) x LEN 5 mg (N=122) x Placebo (N=123):

    • Idade (anos): 49,7 x 49,7 x 51,9

    • Raça:

      • Branca: 70,0% x 66,7% x 71,5%

      • Asiática: 20% x 20% x 21,1%

      • Negra ou afro-americana: 5% x 6,7% x 3,3%

      • Multiracial, todas outras raças: 5,0% x 6,7% x 4,1%

    • IMC (kg/m²): 25,1 x 24,5 x 25,1

    • Duração média da doença (meses): 33,2 x 32,6 x 30,6 

    • Anti-Scl-70 positivo: 48,3% x 42,8% x 44,7%

    • Anti-RNA polimerase III positivo: 40% x 33,6% x 40,7%

    • Doença pulmonar intersticial ou restritiva: 68,3% x 73% x 72,4%

    • MRSS: 22,1 x 22 x 23,3

    • Avaliação global do médico (0–10): 5,3 x 5,4 x 5,6

    • Avaliação global do paciente (0–10): 5,0 x 4,8 x 5,0

    • HAQ: 1,12 x 1,07 x 1,16

    • CVF%: 81,3 x 79,5 x 78,9

    • Uso de terapias imunossupressoras/moduladoras: 89,2% x 78,3% x 83,7%

      • Micofenolato: 54,2% x 47,5% x 56,9%

      • Glicocorticoides: 29,2% x 29,5% x 39,8%

      • Metotrexato: 28,3% x 22,9% x 21,9%

      • Antimaláricos: 16,7% x 17,2% x 13%

      • Biológicos (Tocilizumabe, Etanercepte e Rituximabe): 10,9% x 6,5% x 8,2%

      • Imunoglobulina:4,9% x 3,3% x 4,9%

      • Azatioprina: 4,2% x 3,3% x2,4%

      • Outros (Ciclosporina, Abatacepte, Apremilaste e Paclitaxel): 1,6% x 0,8% x 1,6%

    Resultados

    • O desfecho primário, o Índice CRISS, não mostrou diferença significativa entre o grupo que recebeu lenabasum 20 mg duas vezes ao dia e o grupo placebo, com escores de 0,888 versus 0,887, respectivamente (P = 0,4972).

    •  Além disso, a mudança no escore de espessura da pele de Rodnan modificado também não foi significativa, com uma redução de -6,7 no grupo lenabasum comparado a -8,1 no grupo placebo (P = 0,1183).

    • Os desfechos secundários, que incluíram medidas de função pulmonar e outros parâmetros clínicos, também não mostraram diferenças significativas. 

    • Em análises pré-especificadas indicaram melhorias em pacientes que estavam em tratamento concomitante com micofenolato ou que usavam terapias imunossupressoras há ≤1 ano.

    • Não foram observadas mortes ou aumento de eventos adversos graves ou severos relacionados ao lenabasum.

    Conclusões

    • O uso de lenabasum não demonstrou benefício significativo no tratamento da ES cutânea difusa.

    Pontos Fortes

    • Destaca-se o desenho robusto do estudo, que foi randomizado, duplo-cego e controlado por placebo, envolvendo um tamanho amostral relevante (365 pacientes) em múltiplos centros internacionais. 

    • A pesquisa levou em consideração o uso de terapias imunossupressoras como o micofenolato de mofetila, o que forneceu uma visão mais realista sobre o impacto do lenabasum quando utilizado em combinação com outros tratamentos já estabelecidos.

    • O uso do CRISS como métrica do desfecho primário é relevante para capturar diferentes aspectos da doença, desde a função pulmonar até a avaliação global da saúde pelo paciente e pelo médico.

    Pontos Fracos

    • O estudo não explorou em detalhes os efeitos do lenabasum em subgrupos específicos de pacientes, como aqueles em estágios iniciais da doença.

    • Predominância de pacientes brancos (≈70%), sub-representando outras raças que podem ter respostas diferentes.

    • Embora o lenabasum seja proposto como anti-inflamatório e antifibrótico, a ausência de biomarcadores específicos no estudo dificulta avaliar sua ação biológica. Com 90% dos pacientes em imunossupressores ou glicocorticoides, é possível que os efeitos do lenabasum tenham sido mascarados ou anulados, comprometendo a identificação de benefícios reais.


    Autor do conteúdo

    Andressa Shinzato


    Referências

    Públicação Oficial

    https://app.doctodoc.com.br/conteudos/eficacia-e-seguranca-do-lenabasum-um-agonista-do-receptor-canabinoide-tipo-2-na-esclerose-sistemica-cutanea-difusa


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