Eficácia e Segurança de Sarilumabe em Pacientes com Arterite de Células Gigantes
11 de março de 2025
7 minutos de leitura
Sarilumabe é eficaz e seguro no tratamento de arterite de células gigantes, quando comparado a placebo?
A arterite de células gigantes (ACG) é a vasculite sistêmica mais prevalente na população idosa, e tem como principais consequências a perda visual e eventos arteriais agudos como aneurismas e dissecções. Assim, a identificação e o tratamento precoces são críticos na prevenção destas graves complicações. Os glicocorticoides são tradicionalmente reconhecidos como o pilar fundamental do tratamento da ACG, mas recidivas são frequentes durante a fase de desmame e a toxicidade relacionada a este grupo de medicamentos é uma preocupação a mais no cuidado dos pacientes com ACG. O tocilizumabe, um inibidor do receptor da interleucina-6 (IL-6Ri), foi a primeira medicação a demonstrar eficácia e efeito poupador de glicocorticoides na ACG em estudos de fase 2 e 3, o que levou à sua aprovação nos EUA e na Europa para este fim. O sarilumabe é outro IL-6Ri aprovado em diversos países para o tratamento da artrite reumatoide e da polimialgia reumática (PMR), mas ainda não estudado em pacientes com ACG. Este estudo foi desenhado para avaliar a eficácia e a segurança de sarilumabe em pacientes com ACG ativa ao longo de 52 semanas.
Ensaio clínico de fase 3
Multicêntrico (61 centros nos Estados Unidos, Argentina, Austrália, Bélgica, Canadá, Croácia, Dinamarca, Estônia, França, Alemanha, Hungria, Israel, Itália, Holanda, Portugal, Rússia, Eslovênia, Espanha, Suécia, Suíça e Reino Unido)
Duplo cego
Controlado por placebo
Duração: 52 semanas de tratamento + 24 semanas de acompanhamento
Randomização em 4 grupos na proporção 2:1:2:1 para receber sarilumabe ou placebo com um desmame de prednisona em 26 ou 52 semanas, estratificada pela dose inicial de prednisona (<30 ou ≥30 mg/dia)
Amostra necessária estimada em 360 pacientes para a detecção de uma diferença no desfecho primário entre os grupos com poder de 90%.
Pacientes com ACG ativa (diagnóstico novo ou recidiva) incluídos entre 2018 e 2020,
Sintomas de ACG dentro de 6 semanas do início do estudo, incluindo sintomas cranianos inequívocos de ACG ou PMR, ou outras características consideradas pelo investigador como consistentes com crises de ACG ou PMR
VHS ≥30 mm/h ou PCR ≥10 mg/L dentro de 6 semanas do início do estudo
Ausência de contraindicações a prednisona 20-60 mg/dia para o tratamento da ACG
História de refratariedade a um inibidor da IL-6
Uso prévio recente de anti-TNF, agentes depletores de células B, inibidores da JAK, abatacepte, anakinra e agentes alquilantes
Uso concomitante de glicocorticoides para outras condições além da ACG
História de infecções oportunistas, herpes-zoster ativo/recorrente, infecção articular prévia, tuberculose ativa ou previamente tratada de forma incompleta
Sorologia positiva para hepatite B, C ou HIV
Evidência de doença concomitante grave e não controlada (exemplo: cardiovascular, respiratória, hepática, renal, endócrina etc.)
História prévia ou atual de neoplasias
Histórico de doença inflamatória intestinal, diverticulite grave ou perfuração gastrointestinal prévia.
Sarilumabe 200 mg SC a cada 2 semanas + prednisona em desmame de 26 semanas (grupo SAR200/26w)
Sarilumabe 150 mg SC a cada 2 semanas + prednisona em desmame de 26 semanas (grupo SAR150/26w)
Placebo SC a cada 2 semanas + prednisona em desmame de 52 semanas (grupo PBO/52w)
Placebo SC a cada 2 semanas + prednisona em desmame de 26 semanas (grupo PBO/26w)
Primário: proporção de pacientes em remissão sustentada na semana 52, definida pela presença de todos os parâmetros: resolução dos sinais e sintomas de ACG e normalização da PCR (<10 mg/L) até a semana 12, ausência de recidivas entre as semanas 12 e 52 e sucesso no desmame de corticoide entre a semana 12 até a semana 52.
Com o encerramento precoce do estudo, foi considerado um desfecho adicional: proporção de pacientes em remissão sustentada na semana 24.
Secundários: componentes do critério de remissão sustentada nas semanas 52 e 24;dose cumulativa total de glicocorticoide;tempo até a primeira recidiva da ACG; índice de toxicidade de glicocorticoide (GTI – Glucocorticoid Toxicity Index); alterações nos níveis séricos de PCR, IL-6 e receptor solúvel de IL-6
Segurança: frequência de eventos adversos (EAET e EAG); EAIE como neutropenia e infecções graves; taxas de descontinuação; mortalidade; alterações laboratoriais; segurança cumulativa em 52 semanas de tratamento e 24 semanas de seguimento.
MasculinoFeminino
Total - 83 pacientes (67 mulheres e 16 homens)
SAR200/26w (N=27) x SAR150/26w (N=14) x PBO/52w (N=28) x PBO/26w (N=14)
Idade: 73,4 x 67,1 x 71,4 x 69,5 anos
Raça branca: 93% x 79% x 82% x 93%
IMC médio: 27,2 x 27,5 x 25,6 x 27,8 kg/m2
GCA nova: 52% x 64% x 61% x 57%
Duração média da doença: 43 x 39,5, x 41 x 41,5 dias
Dose inicial de prednisona: 34,5 x 35 x 34,6, x 30,5 mg/dia
PCR inicial: 1,6 x 5,4 x 2,2 x 4,0 mg/L
VHS inicial: 10 x 19,5 x 17 x 20,5 mm/h
O estudo foi interrompido prematuramente em julho de 2020 devido ao tempo de recrutamento prolongado, exacerbado pela pandemia de Covid-19. Da amostra inicial estimada em 360 pacientes, apenas 83 foram randomizados e iniciaram o tratamento (população intention-to-treat). Destes, aproximadamente 2/3 não completaram o tempo previsto do tratamento de 52 semanas. Portanto, os autores optaram por publicar apenas as estatísticas descritivas.
O desfecho primário (proporção de pacientes em remissão sustentada na semana 52) foi atingido por 6/13 (46%) dos pacientes do grupo SAR200/26w, 3/7 (43%) dos pacientes do grupo SAR150/26w, 3/10 (30%) dos pacientes do grupo PBO/52w e 0/6 (0%) dos pacientes do grupo PBO/26w. As proporções foram semelhantes na semana 24.
Foi feita uma análise de sensibilidade para o desfecho primário sem a inclusão da PCR, com os seguintes resultados: 6/13 (46%) do grupo SAR200/26w, 3/7 (43%) do grupo SAR150/26w), 6/10 (60%) do grupo PBO/52w e 1/6 (17%) do grupo PBO/26w atingiram a remissão sustentada na semana 52. Os resultados da análise de sensibilidade na semana 24 foram semelhantes.
A proporção de pacientes em remissão sustentada na semana 12 e sem recidivas até a semana 52 foi numericamente maior no grupo PBO/52w (7/10 – 70%) em relação aos grupos SAR200/26w (7/13 – 54%), SAR150/26w (4/7 – 57%) e PBO/26w (3/6 – 50%).
A proporção de pacientes com sucesso no desmame de prednisona foi numericamente maior no grupo PBO/52w (6/10 – 60%) em relação aos grupos SAR200/26w (6/13 – 46%) e SAR150/26w (3/7 – 46%).
A dose cumulativa de glicocorticoide foi menor no grupo SAR200/26w (1643,1 mg) em relação aos demais grupos (SAR150/26w: 2177,1 mg; PBO/52w: 2577,3 mg; PBO/26w: 2270,7 mg).
A maioria dos pacientes (80-100%) nos 4 grupos apresentou efeitos adversos, sendo os mais frequentes: mania, reações locais, artralgia, diarreia, alterações cognitivas, cefaleia, depressão e tendência a hematomas. Eventos adversos sérios, incluindo uma oclusão da artéria central da retina, não foram atribuídos à medicação. Neutropenia foi mais frequente em pacientes recebendo sarilumabe do que em pacientes do grupo placebo.
O estudo foi encerrado precocemente com amostra muito inferior à prevista, e, portanto, não foi possível extrair conclusões sobre a eficácia de sarilumabe na ACG.
Desenho apropriado para a pergunta do estudo (ensaio clínico randomizado duplo-cego placebo-controlado)
Desfechos de interesse (remissão sustentada na semana 52, toxicidade por glicocorticoide e segurança da medicação)
Realização de uma análise de sensibilidade do desfecho primário excluindo provas inflamatórias, que são suprimidas pelo mecanismo de ação do sarilumabe.
Inclusão criteriosa de pacientes com diagnóstico confirmado de arterite de células gigantes, utilizando critérios padrão de biópsia ou imagem.
Amostra pequena devido à interrupção precoce do estudo, que limita a interpretação dos resultados
A divisão dos grupos ficou confusa (dose de sarilumabe x placebo e velocidade do desmame do glicocorticoide) e dificultou a interpretação dos resultados
Ausência de um grupo sarilumabe com desmame de 52 semanas, impedindo comparação com o grupo placebo com desmame de 52 semanas. A escolha pode ter focado em avaliar desmames mais curtos (26 semanas), buscando reduzir toxicidades dos glicocorticóides. Também a presença de grupos placebo de 26 e 52 semanas permitem comparar o impacto do tempo de desmame nos desfechos.
Autor do conteúdo
Marília Furquim
Referências
Públicação Oficial
https://app.doctodoc.com.br/conteudos/eficacia-e-seguranca-de-sarilumabe-em-pacientes-com-arterite-de-celulas-gigantes
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