Eficácia e Segurança de Avacopan em Pacientes com Vasculites ANCA-associadas Recebendo Rituximabe
18 de março de 2025
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Avacopan é eficaz e seguro em comparação ao esquema de desmame de prednisona em pacientes com vasculite ANCA recebendo terapia de indução com rituximabe?
A patogênese das vasculites associadas ao ANCA envolve a ativação da via alternativa do complemento, que resulta na produção de C5a. O avacopan é um antagonista do receptor do C5a (C5aR, também chamado de CD88) administrado por via oral, que impede a ativação e quimiotaxia de neutrófilos. Sua eficácia foi demonstrada no estudo ADVOCATE1, um ensaio clínico de fase 3 que comparou avacopan com um esquema de desmame de prednisona em pacientes com granulomatose com Poliangiíte (GPA) e Poliangiíte Microscópica (PAM), de forma adjuvante ao tratamento imunossupressor com rituximabe ou ciclofosfamida. O presente estudo é uma análise de subgrupo do ADVOCATE para avaliação da eficácia e segurança do avacopan no grupo de pacientes em regime de indução de remissão com rituximabe.
O estudo ADVOCATE está disponível no DocToDoc pelo link: https://app.doctodoc.com.br/conteudos/avacopan-para-o-tratamento-das-vasculites-anca-associadas?s=unaflQnvbf
Subanálise de grupo do estudo ADVOCATE - Ensaio clínico de fase 3:
Multicêntrico (143 centros em 20 países na América do Norte, Europa, Ásia e Oceania)
Duplo cego
Controlado por placebo
Após a administração de rituximabe como terapia de indução, os pacientes foram randomizados 1:1 para receber avacopan ou um esquema de desmame de prednisona, ambos por 52 semanas. Estratificação de acordo com o início da vasculite (recém-diagnosticada ou recidivante), subtipo de ANCA (anti-PR3 ou anti-MPO) e tratamento imunossupressor (ciclofosfamida ou rituximabe)
Foi estimada uma amostra de 150 participantes em grupo para dar ao trabalho um poder de 90% em demonstrar não-inferioridade de avacopan em relação à prednisona no desfecho primário, assumindo uma margem de não-inferioridade de -20%.
Pacientes com GPA ou PAM recém-diagnosticada ou recidivante do ensaio clínico ADVOCATE, em regime de indução de remissão com rituximabe, incluídos entre 2017 e 2019.
Diagnóstico de acordo com as definições do Consenso de Chapel Hill
Anti-PR3 ou anti-MPO positivos
Doença ativa caracterizada por 1 item maior + 3 itens menores ou pelo menos 2 itens renais (hematúria e proteinúria) no BVAS versão 3 (Birmingham Vasculitis Activity Score).
O uso de qualquer imunossupressor deveria ser suspenso antes do início do estudo.
Ter recebido mais de 3g de glicocorticoide IV nas 4 semanas antes do início do estudo, ou mais de 10 mg/dia de prednisona VO (ou equivalente) por mais de 6 semanas antes da randomização.
Taxa de filtração glomerular <15 ml/min/1,73 m2 de superfície corpórea
Avacopan 30 mg 2 vezes ao dia + prednisona placebo em um esquema de redução gradual por 20 semanas (60 mg/dia reduzida até descontinuação na semana 21)
Placebo 2 vezes ao dia + Prednisona em um esquema de redução gradual por 20 semanas (60 mg/dia reduzida até descontinuação na semana 21)
Ambos os grupos receberam rituximabe como terapia de base (375 mg/m² semanalmente durante 4 semanas).
Primários: remissão clínica na semana 26 (BVAS=0 e sem glicocorticoide nas 4 semanas anteriores); remissão sustentada (remissão sem recidivas nas semanas 26 e 52, sem glicocorticoide nas 4 semanas anteriores à semana 52).
Secundários: toxicidade por glicocorticoide, de acordo com o índice de toxicidade por glicocorticoide (GTI – Glucocorticoid Toxicity Index) durante as primeiras 26 semanas; mudança na qualidade de vida em relação ao início do estudo (pelos escores SF-36 e EQ-5D-5L); variação na taxa de filtração glomerular em relação ao início do estudo; incidência de eventos adversos.
MasculinoFeminino
Total 214 pacientes = (113 homens e 101 mulheres)
RTX + Avacopan (n=107) x RTX + Prednisona (n=107)
Idade: 59,7 x 59,9 anos
Raça branca: 83,2% x 86%
Duração da doença: 0,5 x 0,8 meses
Doença recém-diagnosticada: 58,9% x 57,9%
Subtipo da vasculite:
GPA: 60,7% x 59,8%
PAM: 39,3% x 40,2%
Autoanticorpos:
Anti-PR3 positivo: 46,7% x 45,8%
Anti-MPO positivo: 53,3% x 54,2%
BVAS inicial: 15,5 x 15,6
Envolvimento renal: 75,7% x 76,6%
Ao final de 26 semanas, a proporção de pacientes que estavam livres de atividade da doença foi semelhante entre os dois grupos, indicando que o avacopan é tão eficaz quanto a prednisona para alcançar remissão inicial. 83/107 (77,6%) dos pacientes no grupo avacopan e 81/107 (75,7%) no grupo prednisona atingiram remissão, com uma diferença estimada de 3% (IC 95% -8,3 a 14,2).
Após 52 semanas, o avacopan demonstrou maior eficácia em manter a remissão da doença a longo prazo. 76/107 (71%) dos pacientes no grupo avacopan atingiram remissão sustentada, comparado a 60/107 (56,1%) no grupo prednisona, com uma diferença estimada de 16,5% (IC 95% 4,3 a 28,6).
O tratamento com avacopan foi associado a uma redução significativa no risco de recidivas. A taxa de recidivas foi de 8,7% no grupo avacopan e 20,2% no grupo prednisona, representando uma redução do risco relativo de 58% (HR 0,42; IC 95% 0,19-0,91).
Os pacientes tratados com avacopan apresentaram menor carga de efeitos colaterais associados ao uso de glicocorticoides, com uma diferença no índice de toxicidade de -14,9 (IC 95% -25,5 a -4,4) na semana 26, 38 no grupo avacopan e 52,9 no grupo prednisona..
Houve melhora da qualidade de vida em ambos os grupos.
Houve melhora da função renal em pacientes com acometimento renal no início do estudo em ambos os grupos, e a melhora na relação albumina/creatinina urinária aconteceu de forma mais rápida no grupo avacopan.
A taxa de infecções graves foi de 10,3% no grupo avacopan e 14% no grupo prednisona.
Em pacientes com vasculite associada ao ANCA em tratamento de indução com rituximabe, o avacopan apresentou taxas de remissão semelhantes à prednisona na semana 26 e taxas significativamente mais altas de remissão sustentada na semana 52. Além disso, o avacopan mostrou menor toxicidade relacionada ao uso de glicocorticoides e um perfil de segurança favorável.
A população de pacientes com vasculites ANCA-associadas foi bem-representada, já que houve a inclusão de pacientes com doença recém diagnosticada e recidivante, com anti-PR3 e anti-MPO positivos
O número de pacientes incluídos foi grande, considerando a raridade das vasculites associadas ao ANCA. A amostra teve poder para avaliar os desfechos primários e para demonstrar a segurança do avacopan nesta população.
A atividade da doença e a toxicidade por glicocorticoide foram avaliadas por instrumentos padronizados e apropriados.
Pacientes do grupo avacopan receberam corticoide ao longo do estudo, apesar de ter sido em dose menor do que os do grupo prednisona, porque o protocolo previa que reativações da doença poderiam ser tratados com terapia de resgate (tanto em pulsoterapia quanto por via oral), de acordo com a condição do paciente.
O tempo do estudo foi curto (52 semanas), e um acompanhamento de maior prazo é necessário para que seja estabelecida a real segurança e eficácia do avacopan.
Não foram incluídos pacientes com TFG <15 ml/min/m2, e uma parcela considerável de pacientes com vasculites anca-associadas tem doença renal crônica em estágio final/dialítica.
Autor do conteúdo
Marília Furquim
Referências
Públicação Oficial
https://app.doctodoc.com.br/conteudos/eficacia-e-seguranca-de-avacopan-em-pacientes-com-vasculites-anca-associadas-recebendo-rituximabe
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