• Home

    Eficácia e Segurança da Voclosporina para Nefrite Lúpica

    16 de julho de 2024

    8 minutos de leitura

    Pergunta:

    • A voclosporina é eficaz no tratamento da nefrite lúpica?

    Background:

    • A nefrite lúpica é uma manifestação grave e frequente do lúpus eritematoso sistêmico (LES) e em mais da metade dos pacientes os tratamentos atuais não são capazes de atingir redução da proteinúria. A voclosporina, um novo inibidor de calcineurina, que não necessita de monitorização terapêutica, se mostrou como uma opção eficaz para nefrite lúpica em estudos de fase 2. Portanto, o objetivo do estudo AURORA-1 foi determinar a eficácia e segurança da voclosporina quando comparada ao placebo nos pacientes com nefrite lúpica.

    Desenho do Estudo:

    • Estudo de fase 3

    • Randomizado

    • Multicêntrico realizado em 142 hospitais e clínicas em 27 países

    • Duplo-cego

    • Placebo controlado

    • Randomização estratificada por classe da biópsia (classe V pura apenas vs outras), uso prévio de MMF no momento do screening (sim vs não) e região (América do Norte vs América Latina vs Europa e África do Sul vs Ásia-Pacífico), utilizando um sistema interativo de resposta web

    • Cálculo do poder amostral: estimou-se que a inclusão de 162 pacientes em cada grupo proporcionaria 80% de poder para detectar uma diferença significativa entre uma taxa de resposta renal completa de 20% no grupo placebo e 34,4% no grupo voclosporina, com alfa de 5%

    População:

    • Pacientes com lúpus com nefrite lúpica classe III, IV ou V em atividade recrutados entre 2017 e 2019

    Critérios de Inclusão:

    • Homens e mulheres de 18 a 75 anos de idade.

    • Diagnóstico de nefrite lúpica com biópsia renal classe III, IV e/ou V.

    • Biópsia renal de, no máximo, 2 anos antes do screening.

    • Nefrite lúpica ativa: relação proteína/creatinina na urina (P/Cr) de ≥ 1,5 mg/mg para classe III/IV ou ≥2 mg/mg se classe V pura.

    Critérios de Exclusão:

    • Taxa de filtração glomerular (CKD-EPI) de ≤45 ml/min/1,73 m².

    • Pacientes dialíticos ou transplante renal.

    • Hipersensibilidade ou contraindicação ao MMF, ciclosporina ou corticosteroides.

    • Imunodeficiência congênita ou adquirida.

    • Abuso de drogas ou álcool dentro de 2 anos do screening.

    • Malignidade dentro de 5 anos do screening (exceto carcinoma de células escamosas ou neoplasia de colo de útero (NIC1) com excisão completa).

    • Doença linfoproliferativa ou irradiação linfóide total prévia.

    • HIV positivo, infecções virais graves nos últimos 3 meses ou tuberculose (doença ativa ou história).

    • Outras doenças clínicas significativas descompensadas (cardiovascular, hepática, DPOC ou asma, insuficiência da medula óssea, diátese hemorrágica).

    • Outra doença reumatológica.

    • Gravidez.

    Intervenção:

    • Voclosporina 23,7 mg via oral duas vezes ao dia

    Controle:

    • Placebo oral duas vezes ao dia

    Outros Tratamentos e Definições:

    • Metilprednisolona IV 1x/dia nos dias 1 e 2 (0,5 g/dia >45 kg e 0,25 g/dia <45 kg), seguidos de redução rápida de prednisona VO no dia 3 iniciando com 20-25 mg/dia. A dose era diminuída ao longo do tempo até 2,5 mg/dia na semana 16, posteriormente segundo desejo do investigador.

    • Micofenolato de mofetil 2 g por dia como medicação de base.

    • IECA ou BRA deviam ser utilizados em doses estáveis nas últimas 4 semanas pré-screening e eram mantidos em doses estáveis ao longo do estudo.

    Desfechos:

    • Primário: resposta renal completa na semana 52:

      • P/Cr de 0,5 mg/mg ou menos

      • TFG ≥ 60 mL/min/1,73 m² ou ausência de redução da TFG > 20% do basal

      • Sem administração de medicação de resgate

      • Sem administração de mais de 10 mg de prednisona/dia por 3 ou mais dias consecutivos ou por 7 ou mais dias durante a semana 44 a 52 do estudo

    • Secundários: tempo para P/Cr de 0,5 mg/mg ou menos, resposta renal parcial (redução ≥50% do P/Cr basal) nas semanas 24 e 52, tempo para redução da P/Cr em 50% do basal, resposta renal completa na semana 24, proporção de pacientes com > 30% de redução da TFG, duração de P/Cr de 0,5 mg/mg ou menos, mudança na P/Cr, creatinina sérica, proteína urinária e TFG em cada ponto no tempo, mudança no C3, C4 e anti DNA na semana 24 e 52 e alteração da pontuação no SELENA-SLEDAI (score de atividade)

    Características dos Pacientes:

     

    Masculino (12% Masculino)Feminino (88% Feminino)
    Masculino
    Feminino

     

    • Grupo voclosporina (179 pacientes) X grupo placebo (178 pacientes)

      • Idade média: 31 (18-62) X 32 (18-72)

      • Sexo feminino: 161 (90%) X 152 (85%)

      • Raça:

    • Brancos: 68 (38%) X 61 (34%)

    • Pretos: 26 (15%) X 19 (11%)

    • Asiáticos: 53 (30%) X 56 (31%)

    • Outros: 32 (18%) X 42 (24%)

      • Tempo médio do diagnóstico da nefrite lúpica: 4,6 X 4,7 anos

      • Tempo médio desde diagnóstico do LES: 6,6 X 6,9 anos

      • Biópsia renal:

    • Classe III: 20 (11%) X 29 (16%)

    • Classe IV: 91 (51%) X 77 (43%)

    • Classe V: 25 (14%) X 25 (14%)

      • TFG basal média (ml/min/1,73m²): 92,1 X 90,4

      • TFG > 60 ml/min/1,73m²: 146 (82%) X 144 (81%)

      • P/Cr mg/mg: 4,14 X 3,87

      • C3 médio: 81,6 X 86,9

      • C3 < 90 mg/dL: 105 (59%) X 99 (55%)

      • C4 médio: 16,6 X 16,8

      • C4 < 10 mg/dL: 50 (28%) X 45 (25%)

      • DNA médio UI/ml: 105,2 X 94,7

      • DNA > 10 UI/ml: 133 (74%) X 118 (66%)

      • SELENA-SLEDAI: 13,2 X 11,8

    Resultados:

    • A resposta renal completa na semana 52 foi maior no grupo voclosporina em relação ao placebo, com 73 pacientes (41%) no grupo voclosporina contra 40 pacientes (23%) no grupo placebo (OR 2,65; IC 95% 1,64–4,27; p<0,0001).

    • A redução da proteinúria na semana 52 foi maior no grupo voclosporina, reduzindo de 2,65 mg/mg para 1,35 mg/mg, comparado ao placebo, que reduziu de 1,94 mg/mg para 1,88 mg/mg (IC 95% –1,52 a –0,46; p<0,001).

    • Não houve diferença estatística nos outros componentes do desfecho primário.

    • A maioria dos desfechos secundários foram alcançados com maior frequência e significância estatística no grupo voclosporina.

    • A duração da manutenção da relação proteína/creatinina em 0,5 mg/mg ou menos foi semelhante entre os grupos.

    • Ambos os grupos apresentaram diminuição nos índices de atividade de doença e melhora nos parâmetros imunológicos (C3, C4 e anti-DNA) na semana 52.

    • Os níveis de lipídeos diminuíram em ambos os grupos, com maior redução nos níveis de colesterol total e LDL no grupo voclosporina.

    • Os eventos adversos foram semelhantes em ambos os grupos, com infecções sendo as mais comuns, geralmente leves ou moderadas. 

    • Disfunção renal grave ocorreu em 3% dos pacientes no grupo voclosporina e 2% no grupo placebo. 

    • Houve um aumento leve transitório na pressão arterial no grupo voclosporina.

    • Seis pacientes morreram durante o estudo, um no grupo voclosporina e cinco no grupo placebo, sem relação com os tratamentos.

    Conclusões:

    • No tratamento de pacientes com nefrite lúpica ativa, a voclosporina, quando adicionada à terapia imunossupressora de base, melhora significativamente a resposta renal completa com um perfil de segurança comparável ao placebo.

    Pontos Fortes:

    • Ensaio clínico randomizado, controlado por placebo, proporcionando alto nível de evidência.

    • Multicêntrico, com ampla representação geográfica em 27 países, aumentando a validade externa do estudo.

    • Boa distribuição racial e étnica dos participantes, aumentando a generalização dos resultados.

    • Número adequado de pacientes incluídos, garantindo poder estatístico suficiente.

    • Nefrite lúpica confirmada por biópsia renal recente na maioria dos casos (<6 meses), garantindo a inclusão de pacientes com doença ativa.

    Pontos Fracos:

    • Não avaliou a atividade extra-renal do LES, limitando a compreensão dos efeitos da voclosporina em outras manifestações da doença.

    • Índices de atividade e cronicidade na biópsia renal não foram avaliados, o que poderia fornecer informações adicionais sobre a resposta ao tratamento.

    • Não diferenciou pacientes com início recente de nefrite daqueles com recorrência, o que poderia influenciar a resposta ao tratamento.

    • Não avaliou a capacidade de prevenir a progressão para doença renal terminal, um desfecho clínico importante a longo prazo.

    • Dose de micofenolato de mofetil (MMF) no grupo placebo foi de 2 g/dia, enquanto a dose padrão para indução da nefrite lúpica geralmente é de 3 g/dia, o que poderia impactar a comparação dos resultados.


    Autor do conteúdo

    CARLOS ECHAURI


    Referências

    Públicação Oficial

    https://app.doctodoc.com.br/conteudos/eficacia-e-seguranca-da-voclosporina-para-nefrite-lupica


    Compartilhe

    Portal de Conteúdos MEDCode

    Home

    Copyright © 2024 Portal de Conteúdos MEDCode. Todos os direitos reservados.