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    Eficácia e Segurança da Terapia com Solução Salina Hipertônica em Pacientes Ambulatoriais com Insuficiência Cardíaca

    21 de janeiro de 2025

    6 minutos de leitura

    Pergunta

    • A associação de solução salina hipertônica e furosemida intravenosa (IV) é segura e eficaz em aumentar a diurese em pacientes ambulatoriais com piora da insuficiência cardíaca e congestão?

    Background

    • A principal causa de internações em pacientes com insuficiência cardíaca (IC) é a congestão, o que frequentemente demanda o uso de diuréticos intravenosos (IV). Como alternativa para reduzir internações, surgiram estratégias de terapia IV ambulatorial, implementadas dentro de um modelo de hospital-dia. Nesse contexto, estratégias diuréticas eficazes e seguras têm gerado interesse. A associação de solução salina hipertônica com furosemida IV (SSH-Furosemida) já foi avaliada em pacientes internados com IC descompensada, sendo considerada potencialmente capaz de aumentar a eficácia diurética e reduzir reinternações. Contudo, essa estratégia ainda não havia sido estudada em ambiente ambulatorial. Para preencher essa lacuna, o estudo SALT-HF avaliou a eficácia e a segurança do uso da SSH-Furosemida em pacientes com IC e congestão em ambiente ambulatorial.

    Desenho do Estudo

    • Ensaio clínico randomizado

    • Multicêntrico (13 centros na Espanha)

    • Duplo-cego

    • Controlado

    • Randomização (1:1)

    • Foi estimado que 168 pacientes seriam necessários para demonstrar uma diferença de 20% na diureses depois de três horas da intervenção, assumindo um alfa bicaudal de 5% e um poder de 80%.

    População

    • Pacientes com IC crônica e agravamento dos sintomas com necessidade de terapia diurética entre 2020 e 2023.

    Critérios de Inclusão

    • Diagnóstico clínico de IC descompensada e pelo menos 2 sinais de congestão:

      • Edema periférico

      • Estase jugular

      • Ascite

      • Derrame pleural

    • Uso diário de furosemida via oral ≥ 80 mg ou de torsemida ≥ 40 mg, por ≥ 1 mês.

    • BNP > 250 ng/ml ou NT-proBNP > 1000 pg/ml no momento da triagem.

    • Tratamento estável nas duas semanas anteriores, com exceção da terapia diurética.

    Principais Critérios de Exclusão

    • Choque cardiogênico ou descontrole pressórico.

    • Critérios para admissão hospitalar, segundo avaliação do médico responsável.

    • Edema pulmonar agudo, dessaturação ou arritmia clinicamente significativa.

    • Hemodiálise ou diálise peritoneal, alterações eletrolíticas significativas ou anemia

    • Síndrome coronariana aguda ou procedimento cardiológico nas últimas 4 semanas.

    • Doença valvar grave não corrigida, exceto insuficiência tricúspide.

    • Cirurgia cardíaca ou implante de dispositivo planejados para os próximos 30 dias.

    • Demência moderada ou grave, delirium ativo ou problemas psiquiátricos.

    Intervenção

    • Solução contendo salina hipertônica e furosemida administrada em uma hora.

      • As doses foram ajustadas de acordo com a dose previamente utilizada de furosemida por via oral e os níveis plasmáticos de sódio.

      • Dose prévia ≤160 mg/dia receberam 125 mg de Furosemida IV. 

      • Dose prévia >160 mg/dia receberam 250 mg de Furosemida IV.

      • A conversão de torsemida para seu equivalente em furosemida foi calculada na proporção de 2:1.

      • Sódio 135 - 145 mEq/L: 110 mL de solução salina a 2,6% (100 mL de solução fisiológica [SF] a 0,9% mais 10 mL de cloreto de sódio a 20%)

      • Sódio 125 - 135 mEq/L: 115 mL de solução salina a 3,4% (100 mL de SF 0,9% mais 15 mL de cloreto de sódio a 20%).

    Controle

    • Solução contendo furosemida administrada em uma hora.

      • As doses foram ajustadas de acordo com a dose previamente utilizada conforme descrito anteriormente.

      • A solução era idêntica à intervenção.

    Outros tratamentos

    • Os médicos foram orientados a ajustar a dose dos diuréticos orais e a reposição enteral de potássio, conforme necessário. Os participantes foram incentivados a restringir o consumo diário de sódio a 3 gramas e a limitar a ingestão de líquidos a 1500 mL.

    Desfechos

    • Primário: volume de diurese medido 3 horas após a infusão.

    • Secundários: excreção de sódio urinário e peso em 3 horas após infusão; parâmetros de congestão após 7 dias; Mudanças na classe funcional NYHA e na escala visual analógica após 7 dias.

    • Desfechos de segurança: piora da função renal em 7 dias; distúrbios eletrolíticos; episódios de piora da IC com necessidade de tratamento diurético ambulatorial, visita à emergência ou hospitalização em 30 dias; mortalidade por todas as causas ou hospitalização por IC e mortalidade cardiovascular em 30 dias.

    Características dos Pacientes

     

    Masculino (69.5% Masculino)Feminino (30.5% Feminino)
    Masculino
    Feminino

     

    • SSH + Furosemida (N=83) x Furosemida (N=84)

    • Mediana da Idade em anos: 83 x 80 

    • Sexo feminino: 32,5% x 28,5%

    • Comorbidades 

      • Diabetes: 38,5% x 44,0%

      • Hipertensão: 81,9% x 89,3%

      • Dislipidemia: 46,9% x 64,3%

      • Fibrilação atrial: 79,5% x 80,9%

      • DPOC: 30,1% x 28,6%

      • Doença renal crônica: 60,1% x 67,8%

    • Cardiomiopatia isquêmica: 25,3% x 32,1%

    • Valvopatia: 28,9% x 11,9%

    • Classe funcional conforme NYHA: 

      • I-II: 31,3% x 27,4% 

      • III- IV: 68,7% x 72,6%

    • Escore composto de congestão: 4 x 4

    • Peso (Kg): 74,9 x 78,0

    • Taxa de filtração glomerular (mL/min/1,73m2): 40,3 x 39,1 

    • Fração de Ejeção: 50% x 50% 

      • ICFEr: 24,1% x 28,5%

      • ICFElr: 27,7% x 21,4%

      • ICFEp: 48,1% x 50,0%

    • Tratamento:

      • Furosemida (mg): 120 x 120

      • Tiazídicos: 30,1% x 26,2%

      • Antagonistas do receptor mineralocorticoide: 43,4% x 53,6%

      • Acetazolamida: 6,2% x 3,6%

      • Inibidores de SGLT2: 30,1% x 42,9%

    • Exames

      • Sódio (mEq/L): 140 x 139 

      • NT-proBNP (pg/ml): 5302 x 4851

      • Sódio urinário (mEq/L): 70 x 65

    Resultados

    • Não houve diferença na diurese média em 3 horas entre os grupos.

     

    
    

     

    • A diurese média em 3 horas foi de 1099 ±69 mL no grupo intervenção e 1103 ±63 mL no grupo controle (diferença média: −4,6 mL, p=0,963).

    • Não houve diferença do desfecho primário nos subgrupos: classe NYHA, TFG <60 ou ≥60 ml/min/1,73m² e níveis de NT-proBNP.

    • Houve um aumento significativo do sódio urinário em ambos os grupos, porém não houve diferença entre as duas estratégias. 

    • Houve redução significativa de peso em ambos os grupos em 3 horas e em 7 dias. Em 3 horas, não houve diferença entre os grupos. Porém, em 7 dias, houve maior redução de peso no grupo intervenção (diferença de variação de −0,59 kg, IC 95%: −1,17 a −0,01, p=0,048).

    • O escore composto de congestão, a classe funcional e a escala visual analógica melhoraram significativamente em ambos os grupos, porém sem diferenças entre os grupos (p=0,846, p=0,318 e p=0,205, respectivamente).

    • Não houve diferença no aumento de creatinina acima de 0,3 m/dl (14,5% dos que receberam SSH+furosemida e 11,1% no grupo furosemida, p=0,642). Um paciente (do grupo intervenção) apresentou hipercalemia. Não houve diferença na ocorrência de hipocalemia entre os grupos (7,3% dos que receberam SSH+furosemida e 12,5% no grupo furosemida, p=0,303).

    • A piora da insuficiência cardíaca foi semelhante entre os grupos (26,5% no grupo intervenção e 33,3% no grupo controle: HR: 0,76; IC 95%: 0,43–1,33, p=0,330).

    • Não houve diferença na mortalidade por todas as causas e hospitalização por insuficiência cardíaca em 30 dias.

    Conclusões

    • A associação de solução salina hipertônica e furosemida intravenosa, apesar de segura, não foi eficaz em aumentar a diurese em pacientes ambulatoriais com piora da insuficiência cardíaca e congestão.

    Pontos Fortes

    • Pergunta de interesse para a prática clínica

    • Estudo randomizado e duplo-cego, características que aumentam a validade externa.

    • Avaliação de múltiplos desfechos, como função renal e eventos clínicos em 30 dias, o que fornece uma visão abrangente da segurança e eficácia do tratamento.

    Pontos Fracos

    • Tamanho amostral

    • Intervenção com dose única

    • População heterogênea, incluindo todas as faixas de Fração de Ejeção.

    • Fatores confundidores, como o ajuste de diuréticos após o tratamento.


    Autor do conteúdo

    Equipe DocToDoc


    Referências

    Públicação Oficial

    https://app.doctodoc.com.br/conteudos/eficacia-e-seguranca-da-terapia-com-solucao-salina-hipertonica-em-pacientes-ambulatoriais-com-insuficiencia-cardiaca


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